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José Eli da Veiga

O maior dilema contemporâneo

NESTAS CÚPULAS de nações e de povos, dificilmente haverá momento tão esclarecedor sobre as limitações do slogan "economia verde" quanto o propiciado ontem no Forte de Copacabana pelo Fundo Brasileiro para a Biodiversidade (Funbio), com patrocínio do Instituto Arapyaú e apoio do Vitae-Civilis e da Climate Works Foundation.

Ao contrário das atividades chapa-branca do Riocentro, assim como da maioria dos eventos paralelos que pululam pelos arredores, foi possível assistir a um ótimo confronto entre três visões sobre os rumos da economia global, duas das quais antagônicas.

O fraco bom-mocismo do ex-presidente do Banco Central Armínio Fraga contrastou com as análises dos dois acadêmicos que intervieram nessa 11ª sessão dos "Diálogos Sustentáveis": Tim Jackson, da Universidade de Surrey, autor do ícone sobre o tema "Prosperidade sem crescimento" (Earthscan, 2009), e Ricardo Abramovay, da FEA/USP, que lança hoje o livro "Muito Além da Economia Verde".

Os dois professores não creem, como Fraga, na eternidade do crescimento econômico. Afirmam que, em países sem aumento populacional e sem pobreza, o desenvolvimento humano não precisa mais de expansão do sistema econômico. Todavia, como é gigantesca a inércia da exigência inversa, absolutamente obrigatória por mais de dez milênios, vai demorar muito para que essa ficha possa cair.

Por isso, em vez de buscar a estabilização de suas economias, essas sociedades mais avançadas caem na pior armadilha contemporânea, ao terem que estimular o desperdício. Fazem de tudo para que seus consumidores gastem o que não têm para comprar o que não precisam com o propósito de impressionar pessoas que nem sequer admiram.

Até que seja possível sair de tal labirinto, será esse "dilema do crescimento" que dominará a macroeconomia das nações com população estável e pobreza erradicada. Depende de esquizofrênico consumismo a estabilidade social do capitalismo avançado.

Nesse contexto, a "economia verde" só pode ser paliativa, pois mesmo que reduza o teor de carbono e de insumos naturais das mercadorias, é incapaz de diminuir o resultante impacto ambiental. A expansão desse consumo sempre ultrapassa os ganhos ambientais relativos, inviabilizando a queda da pegada ecológica.

JOSÉ ELI DA VEIGA, professor dos programas de pós-graduação do Instituto de Relações Internacionais da USP e do IPÊ (Instituto de Pesquisas Ecológicas), é enviado especial da Folha à Rio+20.
Site: www.zeeli.pro.br

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