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Análise

Burocracia e corrupção provocam fuga de investimentos

FERNANDO SERAPIÃO
ESPECIAL PARA A FOLHA

Fora o folclore dos fiscais incorruptíveis -que existem!-, quase todos conhecem um caso imemorial de propina que envolva a aprovação de construções em São Paulo. Se o fato não é novo, será que a corrupção aumentou?

Percebo fumaça por dois fatores. O primeiro é a economia: a construção civil ajuda a puxar o crescimento do PIB, a cidade de São Paulo é o maior mercado do país, e onde há mais recursos, há mais possibilidade de suborno.

O segundo fator é a complexidade das aprovações. Se no passado os projetos eram aprovados com facilidade, hoje, dependendo do porte e da localização, eles transitam por uma via-crúcis que envolve órgãos ambientais, de patrimônio histórico, trânsito, bombeiros etc. O problema seria minimizado se existisse maior diálogo entre eles e o processo fosse transparente.

O setor, que só na cidade emprega 600 mil pessoas e corresponde a quase 10% de sua economia, fica exposto à "boa vontade" daqueles que detém o carimbo. Já imaginou o setor bancário refém de servidores públicos que aprovassem cada transação financeira?

Um dado pouco conhecido e que exemplifica a que ponto chegamos: se no passado os arquitetos aprovavam seus projetos, agora, por mais banal e dentro da lei que for a obra, são raríssimos os que o fazem. Quem aprova? "Despachantes" enfronhados com a máquina pública -não por acaso, ex-servidores ou com parentes no funcionalismo.

A situação beneficia corruptos e corruptores e prejudica o cidadão: impostos não são recolhidos e construímos uma cidade irregular. Uma consequência é que incorporadores estão optando por outras praças -não só pela saturação do mercado- mas também por causa da burocracia e da corrupção, que estão afastando investimentos imobiliários.

FERNANDO SERAPIÃO é crítico de arquitetura e editor da revista "Monolito"

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