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Obra da Sabesp vai repor um terço da água desperdiçada pela estatal

Projeto quer derrubar 34 hectares de área preservada para assegurar abastecimento até 2020

Sistema de captação vai custar R$ 1 bilhão; estatal quer reduzir o desperdício na rede de 26% para 15% até 2019

EDUARDO GERAQUE
DE SÃO PAULO

A Sabesp vai iniciar até o começo do ano que vem uma obra estimada em R$ 1 bilhão para captar água no Vale do Ribeira e trazer para a Grande São Paulo. Uma distância de cerca de 80 km.

Se o projeto for mantido, 5.000 litros de água por segundo serão desviados da bacia do rio Ribeira de Iguape, em 2016. O novo volume representa 9% do que a Sabesp vende na Grande São Paulo.

A nova fonte de água, no entanto, equivale hoje a um terço do que a estatal desperdiça em sua rede -26% da água, ou 17,4 mil litros por segundo, é jogada fora.

A meta da companhia é chegar a um índice de desperdício de 15% em 2019, padrão verificado em cidades europeias e norte-americanas.

ÁGUA ESTRANGEIRA

Pela primeira vez na história, a empresa vai captar água fora da região metropolitana.

O projeto, que depende da destruição de 34 hectares de mata atlântica, inclui ainda a intervenção (sem desmate total) em 52 hectares de áreas de proteção permanente e a retirada de centenas de pessoas para garantir equilíbrio na distribuição de água para a Grande São Paulo até 2020.

Depois disso, a estatal vai ter de encontrar nova fonte de captação de água.

Em uma obra que nasce como paliativa, a Sabesp vai destruir o equivalente a 43 campos de futebol de mata preservada para não deixar parte dos moradores da região metropolitana sem água em menos de dez anos. A supressão também vai afetar matas urbanizadas, o que aumenta o estrago para cerca de 70 campos de futebol.

Por força da lei ambiental, duas audiências para discutir o projeto serão feitas em Ibiúna e Cotia em agosto.

IMPACTOS

Os impactos ambientais negativos podem ser vistos como um mal necessário, mas especialistas dizem que a obra é insuficiente para resolver o problema.

A própria diretora-presidente da Sabesp, em entrevista à Folha quando tornou público o projeto [ontem ninguém da empresa deu entrevistas], confirmou o efeito paliativo da obra.

A principal ressalva ao modelo é buscar água cada vez mais longe da capital. A necessidade de novas obras, dizem especialistas, passará a ser infinita se outras ações não forem consideradas.

"Nós precisamos repensar as outorgas de captação de água na Grande São Paulo", defende Wagner Costa Ribeiro, geógrafo da USP.

Hoje, diz ele, existem empresas que captam água de forma intensiva na região.

"Na área de Mogi das Cruzes, duas ou três indústrias captam mais água do que a cidade inteira", diz.

Para ele, deveria ser mantido o que prevê a legislação. "A prioridade tem que ser dada para o abastecimento público e não industrial".

Outra ação para evitar o que Renato Tagnin, urbanista especialista em planejamento ambiental, chama de "desrespeito aos padrões de segurança da ONU para água" passa por atacar o desperdício das redes.

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