Índice geral Cotidiano
Cotidiano
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice | Comunicar Erros

'Prefeitura faz exigência estapafúrdia a shoppings'

Opinião é do presidente da associação que reúne os shoppings brasileiros

Para Luiz Fernando Pinto Veiga, centros de compras são positivos e poderiam até cobrar contrapartida da cidade

DE SÃO PAULO

Os shoppings centers deveriam cobrar contrapartida da prefeitura, de tanto que eles beneficiam a cidade de São Paulo. Mas, ao contrário, a prefeitura exige tanto que logo, para ser construído, um shopping vai ser obrigado a despoluir o rio Tietê.

Em entrevista ao "TV Folha", Luiz Fernando Pinto Veiga, presidente da Abrasce (Associação Brasileira de Shoppings Centers), emitiu opiniões como estas para defender seu setor.

Os shoppings estão no centro do escândalo batizado de Máfia do Alvará.

Os shoppings da BGE, empresa do grupo Brookfield, são acusados de pagar propina a agentes públicos para obter liberação de obras.

Veiga diz que não concorda com o pagamento de propina, mas afirma que a única solução para isso acabar é mudar a regra do jogo.

Leia abaixo os principais trechos da entrevista.

-

Folha - O sr. acredita que essas denúncias tenham algum reflexo negativo nos negócios?
Luiz Fernando Pinto Veiga - Eu não acredito. Eu acho que o nosso lado positivo já está comprovado no país. Há uma aceitação plena dos shoppings. As pessoas sabem que é uma operação saudável.
Agora, evidentemente essas escorregadas que acontecem em São Paulo no momento são muito provocadas pelas dificuldades na aprovação de um empreendimento.

Por quê?
Demora muito, há uma dinâmica muito lerda de aprovação de um projeto ou até de acompanhamento da construção de um projeto.
Um shopping em São Paulo não sai por menos de R$ 300 milhões ou R$ 400 milhões. O empreendedor está com o shopping dele pronto porque ele andou a 100 km por hora e os documentos que oficializam a possibilidade dele entrar em operação estão andando a 10 km/h.
Eu não justifico, eu acho que não está correto aquele que apela para atos ilícitos, não concordo com isso, mas acho que há uma tentação muito grande de alguém que tem um investimento tão forte, do bem, um investimento positivo, se sentir, nessas horas, quase que compelido a partir para esquemas que não são aceitáveis.

O sr. acredita que a burocracia faz com que haja esse pagamento de propina?
A gente tem de admitir que a regra do jogo tem de ser mudada, é preciso que seja mais lógica para que a pessoa não seja sequer tentada a passar por cima dela.

O que o sr. propõe?
Na minha opinião deveria haver um comprometimento recíproco. Primeiro, de hoje em diante vamos mudar essa forma de trabalhar, e o prefeito tem um projeto que me parece superválido [licenciamento eletrônico]. Vai simplificar e dar uma lógica muito maior. E aquilo que foi feito e eventualmente está errado, vamos dar um prazo.
Muitas vezes um Habite-se, que é o documento final, não acontece por um problema mínimo. Há erros que você pode resolver em 15 dias, há erros que você precisa de um pouco mais de tempo para equacionar.
O empreendedor não quer facilidade nenhuma. Ele quer a história: não me ajude, apenas não me prejudique.
Tem coisa que não tem lógica. Você tem de passar com o mesmo assunto por dois órgãos da prefeitura, sendo que um decide para um lado e outro decide para outro. É de uma falta de lógica total.

O sr. acredita que as exigências viárias e ambientais são equivalentes ao investimento?
Não. Eu acho uma coisa absolutamente estapafúrdia. Fala-se nos polos geradores de tráfego. Assim que as matéria sobre shoppings centers começaram a acontecer, focando no shopping JK, foi dito que a CET dizia que não tinha condição técnica de avaliar se tem 2.000 vagas ou 3.000 vagas. Ora, quem não tem condição de avaliar, como é que vai exigir?
Mas, saindo desse raciocínio, tem o seguinte: você paga mais impostos, emprega mais pessoas, dá facilidades de conforto, dá a economia de tempo. Você entra num shopping center e tem compras, alimentação, lazer, até um simples bate-papo. Na minha cabeça, ele deveria cobrar uma contrapartida.
Agora, tá bom, eu ainda concordo em fazer uma contrapartida. Mas, por favor, me ajude a fazer essa contrapartida. Não exija nenhuma contrapartida que você mesmo não está deixando eu fazer. Daqui a pouco você vai construir um shopping center, mas tem de fazer a limpeza do rio Tietê inteiro. O exagero tem de ser freado. A gente já concorda em fazer o que estão pedindo hoje. Eu faço, mas me ajude a fazer.

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice | Comunicar Erros


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.