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Ativistas dizem que já sofrem preconceito

DE SÃO PAULO

O jeito de falar é de menina. Mas, ao abordar os direitos das mulheres, Sara Winter, 20, e Bruna Themis, 21, gritam palavras de ordem e fazem encenações na rua.

Uma das performances, que simula um parto, ganhou apoio de feministas defensoras do nascimento em casa.

A maneira de protestar sempre de topless, com flores na cabeça, porém, já provoca reações adversas.

Sara é fã do estilo rockabilly, o que lhe valeu até ensaios fotográficos. "Sou fascinada pelos anos 50, mas deixei de ir a lugares que eu frequentava porque as garotas são conservadoras e não me aceitam mais por conta do topless", disse.

Filha de um pintor de parede e de uma dona de brechó, ela vive entre São Carlos e a capital. Recentemente, trancou o curso de relações internacionais e só se dedica ao Femen. "Vou levar essa causa mundo afora."

Os dois irmãos, também pintores, a apoiam. "Mas não deixam que as informações sobre mim cheguem aos meus pais. É difícil para eles aceitar." Usar codinomes é a maneira encontrada para desvincular o movimento de suas famílias.

'DEUSA DA JUSTIÇA'

Na última segunda-feira, ao chegar no escritório onde trabalha, a estagiária de direito Bruna se deparou com colegas que lhe viraram o rosto. "Precisa mostrar os peitos para protestar?", perguntou uma delas.

Mas também ouviu frases de apoio. "Você foi corajosa", disse outro colega.

"Nunca me conformei com as agressões que uma vizinha minha sofria. Assisti a palestras da Maria da Penha [mulher que ficou paralítica após ser baleada pelo marido e deu nome à lei que coloca agressores de mulheres na cadeia] e, depois disso, me envolvi em vários movimentos", diz.

Themis, na mitologia grega, é a deusa da Justiça, daí o nome adotado por Bruna. Elas já ganharam aliados. "A mensagem foi dada e o melhor: não houve repressão", disse Carla Zambelli, do movimento Nas Ruas Contra a Corrupção, grávida de dois meses e que não fez topless.

Para o psiquiatra Elko Perissinotti, vice-diretor do Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas, esse tipo de manifestação tem impacto momentâneo, mas não causa mudanças efetivas.

"Tirar a roupa é uma maneira pueril de dizer 'sou contra tudo o que é do mal'. Mas isso não tem eficácia", disse.

"O fato de se despir é uma maneira de agredir o que elas julgam maléfico. E é claro que tem um apelo sexual, mas que também não gera transformações."

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