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'Fantasma' da inundação assombra Vila Leopoldina

Distrito registra a maior variação da região para enchente, nota cai para 6,7

LAURA CAPRIGLIONE
DE SÃO PAULO

Um fantasma assombra a zona oeste: o fantasma da inundação. Mesmo com a cidade de São Paulo candidatando-se à parte do polígono das secas, a zona oeste não esquece o que sofreu em 2009 e 2010, quando afundou em águas imundas.

Dez dos 15 distritos da zona oeste registraram, segundo o Datafolha, piora no escoamento das águas das chuvas (a nota média da região, nesse quesito, passou de 7,9 em 2008 para os atuais 7,3).

A maior variação aconteceu na Vila Leopoldina. Em 2008, os moradores do bairro deram nota 7,9 para o distrito. A nota atual foi 6,7 -1,3 para baixo.

Entre as duas pesquisas aconteceu o dilúvio.

Castigada pelas chuvas, bueiros entupidos por lixo da Ceagesp e o rio Pinheiros transbordando, a Vila Leopoldina transformou-se em uma Veneza de esgoto.

Para piorar, as ruas estavam tomadas por espigas de milho, latas de refrigerantes, caixotes de madeira, óleo diesel e lixo, muito lixo, que boiavam no caldo espesso. Ratazanas nadavam na correnteza.

Funcionário do estúdio do fotógrafo Bob Wolfenson, onde trabalha, o cenógrafo e cenotécnico Aécio Silva do Amaral, 42, lembra-se bem daquele 8 de dezembro de 2009, quando viveu cenas reais de filme catástrofe.

Incumbido de ir ao estúdio para salvar os equipamentos ameaçados pela subida das águas, Amaral deparou-se com as ruas tomadas por água (em alguns pontos, a coluna tinha 1,60 metro de profundidade).

O jeito foi comprar um bote inflável (custou R$ 240) e remar mais de 1.000 metros. "Tive de tomar injeções, depois, por causa do risco de contaminação", ele lembrou na semana passada.

Aos poucos, a Vila Leopoldina tem-se consolidado como nova fronteira dos empreendimentos residenciais destinados à classe média.

Mas a fama do distrito vem principalmente de "Sampauliwood", endereço da criatividade em São Paulo.

Antigos galpões industriais agora sediam agências de publicidade, produtoras de cinema, estúdios de fotografia e berçários de "startups" (empresas iniciantes).

"É gente com contatos na imprensa, que pede socorro, que faz marola. Quando houve aquela inundação vergonhosa aqui, foi um auê. A prefeitura teve de se mexer", diz o publicitário Evandro Guedes Birolla, 43, com escritório no bairro.

Já não se veem, como em 2009, ruas com calçadas intransitáveis, tamanha a quantidade de caixas de tomate, gaiolas de alfaces e pallets empilhados. A prefeitura obrigou os comerciantes da Ceagesp a estocar toda a caixaria em galpões fechados. "Em caso de chuva, eles não sairão boiando como jangadas", afirma José Gomes, 61, motorista de caminhão. Evita-se também que entupam as bocas de lobo e bueiros.

Mas o trauma da inundação persiste. "Não sei não. Ainda não choveu como naquele ano, para sabermos que não vai acontecer de novo", preocupa-se o mecânico José Ferreira da Silva, 53.

O cenógrafo Amaral está mais otimista, a julgar pelo destino do barco inflável Superjet 3000, fabricação chinesa, que percorreu naquele finzinho de dezembro de 2009 águas nunca dantes navegadas: "Está em Camburi [litoral norte de São Paulo], onde um barco deve estar".

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