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Depoimentos expõem série de erros em morte de brasileiro

Jovem era acusado de furtar bolachas, foi perseguido e morreu em Sydney

Tribunal preliminar na Austrália ouviu policiais e testemunhas para decidir se caso será julgado criminalmente

JACIRA WERLE
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA, DE SYDNEY

Após dez audiências para ouvir testemunhas e policiais envolvidos na morte do brasileiro Roberto Laudísio Curti, 21, o tribunal preliminar da Justiça australiana encerrou seus trabalhos ontem com críticas à atuação da polícia.

Beto, como era conhecido, era suspeito de furtar bolachas numa loja de conveniência em Sydney, em março, e morreu após ser perseguido de madrugada pela polícia, que o atingiu com disparos de Taser (pistola de choque).

Nas audiências, foi revelado que a polícia disparou 14 vezes contra Curti, sendo que cinco disparos o atingiram. Ele também levou choques quando já estava no chão, sendo imobilizado. Além disso, três latas de spray de pimenta foram usadas contra o jovem.

Para o magistrado-assistente Jeremy Gormly, o uso da força pelos policiais foi "excessivo". Ele disse que os disparos efetuados quando Curti estava no chão não estão de acordo com os procedimentos da polícia. Classificou o uso dos choques como "injustificáveis" e "despropositados". A crítica foi na mesma linha para o uso do spray de pimenta.

Agora, o tribunal deve anunciar no dia 14 de novembro se o caso segue ou não para ser julgado criminalmente.

A principal dúvida que persiste envolve a causa da morte. Durante o encerramento dos trabalhos, Gormly disse acreditar que a morte de Curti é "complexa" e "multifatorial".

Um exame toxicológico concluiu que ele consumiu LSD, o que foi confirmado por dois amigos de Curti, que disseram que o trio dividiu um comprimido da droga.

Segundo um especialista ouvido pelo tribunal, o brasileiro estaria passando por momentos de delírio psicótico, possivelmente como efeito da ingestão de LSD.

Ora correndo, ora andando pelas ruas, Curti parecia assustado e com o corpo aquecido (ele estava descalço e sem camisa), o que foi apontado como consequência da droga por especialistas.

FAMÍLIA

O advogado da família, Peter Hamill, pediu por "responsáveis". Ele lembrou que Curti não atacou a polícia. Também falou em negligência pelo fato dos policiais não terem considerado os pedidos de ajuda feitos pelo jovem quando estava sendo dominado.

O tio de Curti, Domingos Laudísio, disse que a família irá aguardar a decisão do tribunal para definir as próximas ações. "Temos certeza que Roberto morreu em decorrência da ação da polícia."

Nenhum dos advogados do processo pode dar entrevistas ou se pronunciar fora da corte sobre o caso.

O cônsul do Brasil em Sydney, André Costa, que participou das investigações, disse, em nota, que "não houve nenhuma explicação plausível para o excesso de força policial e mesmo toda a brutalidade empregada contra Roberto".

O texto diz ainda que não há dúvidas de que o jovem foi morto por policiais em "uma ação bárbara, desatrosa e cruel". Costa enviará a Brasília, na próxima semana, um relatório confidencial sobre o assunto.

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