Saltar para o conteúdo principal Saltar para o menu
 
 

Lista de textos do jornal de hoje Navegue por editoria

Cotidiano

  • Tamanho da Letra  
  • Comunicar Erros  
  • Imprimir  

Entrevista - Fernando de Mello Franco

Arco dependerá de parcerias, diz secretário

Arquiteto afirma que habitação social será prioridade e defende o enterramento de fios

MARIO CESAR CARVALHO DE SÃO PAULO

O Arco do Futuro, principal projeto urbano do prefeito Fernando Haddad (PT), vai precisar de parcerias com empreiteiras para sair do papel, segundo o secretário do Desenvolvimento Urbano, Fernando de Mello Franco, 48.

"O investimento da prefeitura é baixíssimo. É evidente que a gente vai depender de um pacto com as forças do capital", disse à Folha.

O Arco é uma tentativa de reinventar São Paulo: visa levar empregos para a periferia e trazer moradores para o centro, entre outras metas.

Para o arquiteto e ex-professor da USP, o Arco não é um conjunto de obras. "É uma visão estratégica de como usar o território."

Em sua primeira entrevista no cargo, ele defende o enterramento da fiação e a requalificação das calçadas. Segundo ele, "o caminho até a padaria é fundamental".

-

Folha - O Arco do Futuro busca criar empregos na periferia e reocupar o centro. O que dá para fazer em quatro anos?

Fernando de Mello Franco - O Arco está iniciado a partir do momento em que a gente o revela. O primeiro passo é toda a revisão da parte regulatória. Isso será feito no primeiro ano.

Que tipo de mudança?

A revisão do plano diretor, com novo zoneamento e código de obras. O Arco não é um conjunto de obras, é uma visão estratégica de como a gente pode usar o território. Ao identificar um território estratégico, o plano busca ver não como a gente transforma a cidade com viadutos e avenidas, mas como renovar as formas de uso desse espaço. Por isso o plano é tão abrangente. No entanto, ele será pontuado por projetos estratégicos que possam ser equacionados em uma gestão.

Que projetos?

Há um programa de requalificação da área central que tem a habitação como uma perna estruturante. É um convênio entre a prefeitura e o governo do Estado e vai colocar de 12 mil a 28 mil unidades de habitação de interesse social na área central.

Será em prédios já existentes?

Tem um pouco de retro-fit [reforma], mas tem novas edificações. Na periferia, estamos estudando setores produtivos que possam ser atraídos para áreas como Cidade Ademar e Jacu-Pêssego. O Arco anuncia um território estratégico que sai das represas, vai pelo Pinheiros e Tietê, culminando com a várzea do Tietê. Temos nessa área os trilhos da CPTM, que tiveram um crescimento de 12% ao ano de passageiros. É uma estrutura estratégia para pensar a mobilidade.

Você está pensando nas áreas vazias junto aos trilhos?

São Paulo foi feita em torno da abundância de água, a possibilidade de ter terrenos planos e baratos para as plantas fabris e as ferrovias. Precisamos renovar o tripé.

Que tripé você propõe?

A ideia é não usar mais os recursos hídricos para abastecimento e rejeitos industriais. Diante da escassez de água, temos de refundar nossa relação com os recursos naturais. A ferrovia não é mais para carga, mas pode ser o eixo central para a mobilidade. E já que a cidade não pode crescer mais horizontalmente, porque já ultrapassamos os limites das áreas de preservação, há um grande estoque de áreas nesses vazios junto aos trilhos.

Que tipo de intervenção urbana será feita na periferia?

Não é para colocar uma escola aqui, uma creche ali e um campo de futebol acolá. Queremos organizar os equipamentos existentes em redes e concentrá-los de forma que eles passem a ser elementos de estruturação dos bairros. Na nova versão que está sendo pensada dos CEUs [Centros Educacionais Unificados], ele surge da articulação das estruturas preexistentes. Estamos estudando 18 núcleos que partem de estruturas esportivas para serem transformados em CEUs.

A prefeitura vai passar a cuidar das calçadas?

A gente tem de mudar o cotidiano mais banal das pessoas, fazer essa cidade ficar aprazível. Tem de requalificar as calçadas. O caminho até a padaria é fundamental. Há estudos, sim, sobre o enterramento da fiação. Isso é fundamental para se fazer uma arborização significativa, porque os fios impedem as árvores de crescer.

Por que a prefeitura desistiu da Nova Luz?

Não desistiu. A região é prioritária. Só estamos mudando a estratégia. Vamos pensar a questão habitacional e inseri-la nesse convênio entre a prefeitura e o Estado.

Em frente ao seu escritório há uma pichação que diz: "O urbanista de São Paulo é o capital". Dá para mudar isso?

O investimento da prefeitura é baixíssimo. É evidente que a gente vai depender de um pacto com as forças do capital. A questão é como operar projetos de investimento de forma que o poder público possa se apropriar de parte do ganho gerado.

Um amigo diz que o Arco é mais um plano para carros.

Não é. Porque ele não parte do viário. O investimento viário é necessário, mas os principais investimentos serão em habitação, drenagem e mobilidade não sobre rodas.

Dá para se ter uma ideia de quanto o Arco custará?

A questão não é de onde vem o investimento, mas como a gente captura o ganho gerado por ele. Em títulos negociados na Bolsa, as parcerias podem gerar mais de R$ 5 bilhões.


Publicidade

Publicidade

Publicidade


Voltar ao topo da página