São Paulo, domingo, 01 de janeiro de 2006

Texto Anterior | Índice

CAPITALISMO VERMELHO

Ex-operário, Xu Rongmao figura na lista dos dez mais ricos do país e movimenta cerca de US$ 9 bi em projetos

Magnata chinês descobre "mina de ouro" em imóveis

DAVID BARBOSA
DO "NEW YORK TIMES", EM XANGAI

Só existem dez bilionários na China, e ele é membro desse grupo. Seu nome é Xu Rongmao, 55, e não se trata exatamente de um Donald Trump, Sam Zell ou Mortimer Zuckerman. Na verdade, ele é ainda mais importante. Xu, presidente do conselho do Shimao Group, controla muito mais terrenos do que qualquer incorporador imobiliário dos Estados Unidos e constrói projetos imobiliários de luxo que, por sua escala e extravagância, deixam Trump no chinelo. Mas ao contrário do onipresente Trump, Xu raramente concede entrevistas e mantém extremo sigilo sobre suas operações. Apesar de manter tamanha reserva, o empresário, antigo operário da indústria têxtil, é um dos mais prósperos e um modelo importante para os chineses, como parte da primeira geração de magnatas imobiliários da China. Em um país que começou a permitir que as pessoas adquirissem residências apenas nos anos 80, incorporadores como Xu encontraram uma maneira de conquistar os direitos a terrenos de primeira qualidade nas maiores cidades do país. Agora, vem desfrutando de considerável recompensa ao construir grandes projetos residenciais, combinados a hotéis e a edifícios comerciais. Um setor que emergiu há apenas uma década movimenta US$ 130 bilhões ao ano, o que faz dos imóveis um dos principais propulsores da economia da China. Esse crescimento ajudou a conduzir Xu ao nono posto da lista da revista "Forbes" sobre os mais ricos empresários da China. Com ativos líquidos de US$ 1 bilhão, ele dirige duas empresas de imóveis de capital aberto e uma série de companhias de capital fechado sediadas em paraísos fiscais no exterior. No momento supervisiona US$ 9 bilhões em projetos. Com base nas informações disponíveis, pode-se concluir que Xu, conhecido em suas empresas de capital aberto por seu nome cantonês, Hui Wing Mau, é um pioneiro e está sempre disposto a apostar pesado. Ao fundar o Shimao Group, ele criou uma das primeiras marcas chinesas de imóveis de luxo. Xu adquiriu terrenos de localização privilegiada em Xangai, no final dos anos 90, quando outros incorporadores decidiram abandonar o mercado. E agora, com a alta nos preços dos imóveis residenciais, o Shimao Group registra tamanha lucratividade que os bancos de investimento Goldman Sachs e Morgan Stanley estão negociando para coordenar a abertura de capital da divisão principal do grupo, com emissão de ações em Bolsa marcada para 2006.
Mina de ouro
Quase todo mundo que disponha de recursos na China hoje em dia parece interessado em jogar no mercado imobiliário. Dos 50 chineses mais ricos, de acordo com a lista da revista "Forbes" para 2005, metade tem os imóveis como uma de suas atividades primárias. Pessoas que trabalharam com Xu dizem que ele saltou para o topo depois que adquiriu imóveis em situação precária, no final dos anos 90, em Xangai, e iniciou um imenso projeto, em que hoje alguns apartamentos custam mais de US$ 4 milhões. O começo da vida de Xu não parecia muito auspicioso. Como quase todo mundo que cresceu na China durante a era do comunismo mais severo, ele começou pobre. A família de Xu vivia em Shishi, uma cidade que se tornou pólo empresarial na província de Fujian, costa norte da China. Ele era o mais velho dos oito filhos de um metalúrgico e de uma médica. Depois de se formar no ensino médio no período da Revolução Cultural (1966-1976), ele foi enviado ao campo para trabalhar como enfermeiro com as populações rurais. No final dos anos 70, se mudou para Hong Kong e arranjou emprego como operário em uma fábrica têxtil. Segundo o que contou a amigos, teve um golpe de sorte e adquiriu uma pequena fortuna investindo em ações. Pela metade dos anos 80, ele estava investindo em fábricas de produtos têxteis na província de Gansu, oeste do país. Sua entrada no mercado de imóveis aconteceu em 1988, quando ele aceitou investir US$ 2,1 milhões em uma fábrica de lã em sua cidade natal. Xu, a seguir, investiu milhões na construção de complexos residenciais e de lazer e turismo na província de Fujian.
Riscos e oportunidades
Ao longo do caminho, formou amizades com poderosas figuras políticas, mas, apesar de todas as suas conexões pessoais, os mais próximos dizem que boa parte de seu sucesso deriva de sua disposição de aceitar riscos e de sua capacidade de vislumbrar oportunidades antes de seus concorrentes. Quando os negócios escassearam em Fujian, ele transferiu sua família para a Austrália, onde investiu em imóveis no começo dos anos 90. Depois, abriu caminho nos mercados de Pequim e Xangai, pouco antes que os preços dos imóveis residenciais decolassem. Ele faz dinheiro da mesma maneira que os demais incorporadores imobiliários na China: negociando com funcionários do governo para adquirir terrenos a baixo preço, muitas vezes com uma pequena entrada paga à vista, limitando seus compromissos a um pequeno projeto inicial. Depois, ele planeja um novo edifício que possa servir de modelo para outro projeto de grande porte. Xu trabalhou esse sistema de maneira perfeita. No entanto, é difícil rastrear o dinheiro do Shimao Group. A família Xu controla uma labiríntica coleção de empresas de capital aberto e capital fechado, entre as quais companhias sediadas em paraísos fiscais. As empresas trocam títulos de propriedade de imóveis, financiam seus projetos e parecem transferir lucros de uma unidade a outra. As pessoas que trabalham com Xu dizem que ele mantém relações com funcionários do governo, faz grandes doações a organizações de caridade para manter as boas graças das autoridades e se encontra freqüentemente com o primeiro-ministro Wen Jibao. O que virá a seguir para o Shimao Group? Abrir o capital da empresa na Bolsa de Hong Kong, o que pode avaliar seu valor de mercado em bilhões de dólares e levar Xu à liderança na lista de empresários mais ricos da China. O nome que seus pais lhe deram, Xu Rongmao, parece apropriado: em chinês, pode ser traduzido como "riqueza e sucesso".


Tradução de Paulo Migliacci


Texto Anterior: Outro lado: Banqueiro nega usar "subterfúgio" com obras de arte
Índice


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.