São Paulo, terça-feira, 01 de janeiro de 2008

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Especialistas vêem "sinal amarelo" para o Brasil

Impacto da crise nos EUA, fim da CPMF e aumento da inflação preocupam

Para economistas, governo poderia aproveitar o fim da CPMF para cortar gastos públicos, apesar de 2008 ser ano de eleições municipais

CRISTIANE BARBIERI
DA REPORTAGEM LOCAL

Bancos e consultorias acenderam luzes amarelas: ainda não há motivo para pânico, mas diversos acontecimentos recentes no Brasil e no exterior fizeram com que o cenário para este ano deixasse de ser tão favorável como há pouco tempo.
O tamanho da crise nos EUA, a reação do governo ao fim da CPMF e a ameaça de alta da inflação estão entre os problemas que deixam o cenário nublado.
"Temos tudo para manter a trajetória positiva", afirma Ana Carla Abrão Costa, coordenadora da equipe de macroeconomia da consultoria Tendências. "Basta o governo deixar de fazer bobagem." A economista refere-se ao fato de o governo ter afirmado que o tamanho da máquina pública é pequeno e, assim, pode ser ainda mais inchado. Com o fim da CPMF -e da receita de R$ 38 bilhões- tal ambição torna-se inviável.
"Nos últimos cinco anos, os gastos primários subiram 60%, enquanto a arrecadação aumentou 20%", diz Manoel Horácio, presidente do Banco Fator. "O governo só conseguiu cobrir o excesso de gastança com a arrecadação maior por causa do crescimento do PIB."
Segundo Horácio, o fim da CPMF seria o momento ideal para o governo promover cortes nos gastos, se não houver reforma tributária -difícil de ser realizada em ano eleitoral.
Além dos gastos públicos, a alta da inflação acentuou os temores. As preocupações cresceram após a divulgação de que o IPCA-15 subiu 4,36% em 2007, contra 2,96% em 2006. O desemprego de 8,2% medido pelo IBGE em novembro, o menor da série histórica, também sinaliza um aumento do poder de consumo e das pressões inflacionárias.
"Não esperávamos choques inflacionários no fim do ano", diz Francisco Pessoa, economista da consultoria LCA. "Passa a haver agora uma grande interrogação sobre a política monetária em 2008, e a redução dos juros fica muito mais difícil." Nenhum deles diz esperar retomada dos cortes antes do segundo semestre.
As preocupações com a inflação só não são maiores porque, segundo os economistas, a alta dos preços vem sendo causada pela maior demanda mundial. "O preço dos grãos mudou estruturalmente para cima", diz Lika Takahashi, do Fator.
Isso significa que tais choques são permanentes. "Nesses casos, a política monetária e o aumento dos juros não têm influência", diz Costa.
Além disso, dizem eles, muitos investimentos feitos ao longo dos últimos anos estão para maturar. Com o aumento da capacidade produtiva, deve haver redução nas pressões inflacionárias de demanda. As dúvidas quanto às políticas fiscal e monetária refletem-se sobre o tão esperado grau de investimento, nota dada a países considerados confiáveis para os investidores. Para Vladimir Caramaschi, economista-chefe da Fator Corretora, a classificação pode não vir no próximo ano.
"A relação dívida/PIB continuará pior do que a de países que já obtiveram grau de investimento", diz Caramaschi. "A política fiscal é incerta e não há, até 2011, expectativa de reformas estruturais que reduzam a dependência do setor público de arrecadações maiores."
Mesmo com tais problemas no país, o cenário externo é o maior motivo de preocupação. O tamanho do impacto que a crise imobiliária nos EUA terá é incerto. Com o freio nos EUA, todo o mundo será atingido.
"Os EUA serão fortemente afetados", diz Caramaschi. "A contração do crédito terá impacto na economia, mas a grande pergunta é se haverá recessão ou apenas redução no crescimento. Se não houver crise, certamente será bola na trave." Para ele, uma espiral deflacionária seria muito mais difícil de ser corrigida pelos bancos centrais que a ameaça de inflação.


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