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Especialistas vêem "sinal amarelo" para o Brasil
Impacto da crise nos EUA, fim da CPMF e aumento da inflação preocupam
Para economistas, governo
poderia aproveitar o fim da
CPMF para cortar gastos
públicos, apesar de 2008 ser
ano de eleições municipais
CRISTIANE BARBIERI
DA REPORTAGEM LOCAL
Bancos e consultorias acenderam luzes amarelas: ainda
não há motivo para pânico, mas
diversos acontecimentos recentes no Brasil e no exterior fizeram com que o cenário para
este ano deixasse de ser tão favorável como há pouco tempo.
O tamanho da crise nos EUA,
a reação do governo ao fim da
CPMF e a ameaça de alta da inflação estão entre os problemas
que deixam o cenário nublado.
"Temos tudo para manter a
trajetória positiva", afirma Ana
Carla Abrão Costa, coordenadora da equipe de macroeconomia da consultoria Tendências.
"Basta o governo deixar de fazer bobagem." A economista
refere-se ao fato de o governo
ter afirmado que o tamanho da
máquina pública é pequeno e,
assim, pode ser ainda mais inchado. Com o fim da CPMF -e
da receita de R$ 38 bilhões- tal
ambição torna-se inviável.
"Nos últimos cinco anos, os
gastos primários subiram 60%,
enquanto a arrecadação aumentou 20%", diz Manoel Horácio, presidente do Banco Fator. "O governo só conseguiu
cobrir o excesso de gastança
com a arrecadação maior por
causa do crescimento do PIB."
Segundo Horácio, o fim da
CPMF seria o momento ideal
para o governo promover cortes nos gastos, se não houver
reforma tributária -difícil de
ser realizada em ano eleitoral.
Além dos gastos públicos, a
alta da inflação acentuou os temores. As preocupações cresceram após a divulgação de que
o IPCA-15 subiu 4,36% em
2007, contra 2,96% em 2006. O
desemprego de 8,2% medido
pelo IBGE em novembro, o menor da série histórica, também
sinaliza um aumento do poder
de consumo e das pressões inflacionárias.
"Não esperávamos choques
inflacionários no fim do ano",
diz Francisco Pessoa, economista da consultoria LCA.
"Passa a haver agora uma grande interrogação sobre a política
monetária em 2008, e a redução dos juros fica muito mais
difícil." Nenhum deles diz esperar retomada dos cortes antes do segundo semestre.
As preocupações com a inflação só não são maiores porque,
segundo os economistas, a alta
dos preços vem sendo causada
pela maior demanda mundial.
"O preço dos grãos mudou estruturalmente para cima", diz
Lika Takahashi, do Fator.
Isso significa que tais choques são permanentes. "Nesses
casos, a política monetária e o
aumento dos juros não têm influência", diz Costa.
Além disso, dizem eles, muitos investimentos feitos ao longo dos últimos anos estão para
maturar. Com o aumento da capacidade produtiva, deve haver
redução nas pressões inflacionárias de demanda. As dúvidas
quanto às políticas fiscal e monetária refletem-se sobre o tão
esperado grau de investimento,
nota dada a países considerados confiáveis para os investidores. Para Vladimir Caramaschi, economista-chefe da Fator
Corretora, a classificação pode
não vir no próximo ano.
"A relação dívida/PIB continuará pior do que a de países
que já obtiveram grau de investimento", diz Caramaschi. "A
política fiscal é incerta e não há,
até 2011, expectativa de reformas estruturais que reduzam a
dependência do setor público
de arrecadações maiores."
Mesmo com tais problemas
no país, o cenário externo é o
maior motivo de preocupação.
O tamanho do impacto que a
crise imobiliária nos EUA terá é
incerto. Com o freio nos EUA,
todo o mundo será atingido.
"Os EUA serão fortemente
afetados", diz Caramaschi. "A
contração do crédito terá impacto na economia, mas a grande pergunta é se haverá recessão ou apenas redução no crescimento. Se não houver crise,
certamente será bola na trave."
Para ele, uma espiral deflacionária seria muito mais difícil de
ser corrigida pelos bancos centrais que a ameaça de inflação.
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