São Paulo, domingo, 01 de fevereiro de 2004

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"PPP pode ser a única saída", diz relator

DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Relator do projeto de Parceria Público-Privada, o deputado federal Paulo Bernardo (PT-PR) defende que seja mantida a precedência de pagamentos "aos contratos da PPP", deixando claro na redação final que os programas sociais não serão afetados.
Bernardo disse que esse e outros pontos polêmicos do projeto de lei serão negociados "numa maratona" na terça-feira.
Nesse dia, a comissão especial da Câmara tomará café da manhã com os ministros Antonio Palocci Filho (Fazenda) e Guido Mantega (Planejamento), ouvirá os representantes dos fundos de pensão e receberá à tarde o presidente do BNDES, Carlos Lessa.
"O importante é oferecer as garantias e viabilizar os investimentos. O Estado está com sua capacidade de investimento esgotada. A saída é a parceria", afirma.
(KENNEDY ALENCAR)

 

Folha - Como o sr. chegou à previsão de US$ 10 bilhões de investimentos por ano em infra-estrutura se aprovar a PPP?
Paulo Bernardo -
Os fundos de pensão estão dispostos a aplicar R$ 4 bilhões, o que dá pouco mais de US$ 1 bilhão. O BID prevê que atrai US$ 3 bilhões ao investir US$ 1 bilhão. É possível conseguir recursos de outras agências internacionais, como o Banco Mundial.
Além disso, o Banco do Brasil e bancos privados também estão trabalhando para disponibilizar recursos para o financiamento.
Com uma articulação amarrada com o Banco Mundial, o BNDES [Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social], o Banco do Brasil e a Caixa, dá para chegar a esse valor.
É claro que vai depender de os projetos serem atrativos e de haver garantias para os investidores.
A responsabilidade pelos investimentos não é só do governo federal. Mas o governo tem a responsabilidade de orientar, ajudar a viabilizar o financiamento e participar com parte dos recursos.

Folha - Todos os investimentos da União em 2003 somaram menos de US$ 1 bilhão. Não há expectativa demais na PPP?
Bernardo -
A PPP não é solução mágica, mas pode ser a única saída. O Estado não tem como fazer esses investimentos. Com a crise fiscal dos últimos anos, mesmo aumentando a receita em relação ao PIB [Produto Interno Bruto], o governo teve sua capacidade de investimentos reduzida porque a conta de juros e os gastos correntes aumentaram mais.
Isso prejudica até os investimentos com fontes externas, como o Banco Interamericano de Desenvolvimento e o Banco Mundial, porque o governo federal e os governos e empresas estaduais e municipais ficam, na prática, impedidos de contrair empréstimos e investir.

Folha - A oposição diz que há ingerência do governo nos fundos de pensão que são dirigidos por simpatizantes do PT.
Bernardo -
Bobagem. Então é a mesma ingerência que o governo tem no BID e no Banco Mundial.
É ingenuidade achar que algum fundo de pensão vai colocar dinheiro num projeto porque seus dirigentes são simpáticos ao PT. Os fundos têm de prestar contas aos seus cotistas. Têm de fazer bons negócios.
Daí a importância das garantias que o governo dará, com um fundo garantidor, no qual poderá colocar, por exemplo, imóveis e ações de estatais até o limite que mantém o controle acionário com a União.
O importante também, como disse o economista Raul Velloso na comissão especial, é continuar o ajuste nas contas públicas. Essa é a maior garantia de que o governo vai poder cumprir seu compromissos.
O BNDES e o Banco do Brasil já trabalham para formatar fundos de financiamento para parcerias. O BID e o Banco Mundial mostram-se dispostos a entrar. Há fundos de pensão dos Estados Unidos que já foram contatados pelo governo.
Há um clima bom para que o projeto dê certo. O [presidente] Lula poderá fazer parcerias e construir grandes obras e gerar empregos ainda neste governo, sem desembolso imediato. Os pagamentos serão feitos a partir do próximo governo. É compra a prazo. Só pode comprar a prazo quem tem o nome limpo na praça. O Lula sempre usa sempre essa metáfora.

Folha - Como ficará a questão da precedência no pagamento dos contratos com PPP? Não há risco de a área social ser relegada ao segundo plano?
Bernardo -
Risco zero. O projeto do governo prevê que haverá precedência no pagamento das obras da PPP. A precedência não ocorrerá em relação ao SUS [Sistema Único de Saúde], que é lei, nem em relação ao Fome Zero. Ela se dará em relação aos contratos fechados pela União. Acho justo. Algumas emendas tornam isso mais claro no projeto.

Folha - Outra crítica diz respeito à flexibilização da lei de concessões e da lei de licitações para negociar preço. Isso não pode permitir direcionamento nos contratos, para dar a empresas escolhidas a dedo?
Bernardo -
A flexibilização permitirá que as parcerias se concretizem. O direcionamento se evita com fiscalização do governo, da sociedade, da imprensa e das empresas que participam. Se formos pressupor que haverá sujeira, não tiramos nada do papel.
Acho correto prever negociação do preço para que uma empresa, que apresentou melhor proposta técnica e que tenha mais condição de fazer a obra, seja escolhida se reduzir o preço.
A redação desse dispositivo pode ser melhorada pelas emendas. Isso dependerá das negociações que faremos na terça-feira, quando haverá uma maratona da PPP em Brasília.



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