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Morre aos 83 anos engenheiro fundador da Gurgel Motores
Empresário ergueu fábrica de veículos populares com tecnologia brasileira
DA REPORTAGEM LOCAL
O empresário João Augusto
Conrado do Amaral Gurgel, dono da extinta fábrica de carros
Gurgel Motores, morreu anteontem aos 83 anos em São
Paulo. O empresário sofria de
mal de Alzheimer havia 12 anos
e estava internado no hospital
São Luiz (zonal sul). O enterro
ocorreu no início da tarde de
ontem, no cemitério do Morumby (zona sul).
Os primeiros sinais da doença surgiram pouco após a falência da companhia, decretada
em 1996, embora a fábrica já tivesse fechado as portas em
1994. Para a filha de Gurgel, o
Alzheimer o impediu de ver o
fim da empresa, leiloada por R$
15,7 milhões, em 2007, quando
a dívida da companhia chegou a
R$ 250 milhões.
Em 27 anos, a fábrica produziu cerca de 40 mil veículos.
Sua história começou nas salas
da Universidade de São Paulo,
onde Gurgel tentou se formar
em engenharia mecânica com o
projeto de um carro batizado
de "Tião". Ouviu do professor
que carro, no Brasil, não se fazia, comprava-se. Teve, então,
de passar a noite concluindo o
projeto de um guindaste só para garantir o diploma. Aprovado, passou a vida às voltas do
plano inicial de construir carros 100% nacionais.
Em 1969, abriu, em São Paulo, a Gurgel Indústria e Comércio de Veículos. Tinha apenas
quatro funcionários e uma produção mensal de quatro carros.
Sua ideia era produzir um automóvel com qualidade compatível com a de montadoras estrangeiras como Volkswagen,
Ford e Fiat, que dominavam o
mercado brasileiro.
A proposta encontrou eco
entre setores nacionalistas a
partir dos anos 70. O primeiro
sucesso veio com o utilitário
Xavante, já em 1970, produzido
na fábrica de Rio Claro (175 km
de São Paulo).
Os negócios tomaram impulso em 1983, com um acordo de
cooperação fechado com a
Volkswagen, permitindo que a
Gurgel atingisse a marca recorde de 2.000 carros por mês.
No final da década de 1980, a
Gurgel chegou a ter 70 concessionárias espalhadas pelo país.
Em 1989, quando o capital da
empresa foi aberto ao mercado,
ela estava avaliada em quase
R$ 200 milhões.
A vez dos econômicos
Um dos modelos de maior
destaque da fábrica foi o BR-800, devido ao seu baixo consumo para a época -15 km com
um litro. Com esse projeto,
considerado o primeiro "carro
econômico", Gurgel conseguiu
redução de IPI do governo.
As montadoras reclamaram,
até que a italiana Fiat embarcou na proposta e desenvolveu
o seu motor 1.0, tornando-se fenômeno de vendas. Os concorrentes seguiram esse caminho,
popularizando o consumo dos
automóveis no país.
Os problemas começaram
com a abertura comercial, que
liberou as importações no Brasil, desenhada pelo governo de
Fernando Collor de Mello, no
início da década de 1990.
O golpe final à Gurgel foi o
rompimento de um protocolo
de intenções entre os governos
de São Paulo e do Ceará, em
1991. Segundo sua filha, os dois
governos não teriam honrado
um compromisso para instalação de uma fábrica da Gurgel
em Fortaleza (CE) para a produção da parte motriz dos veículos. Essa unidade atuaria em
conjunto com a de Rio Claro,
responsável pela produção das
carrocerias dos veículos.
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