São Paulo, domingo, 01 de fevereiro de 2009

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Morre aos 83 anos engenheiro fundador da Gurgel Motores

Empresário ergueu fábrica de veículos populares com tecnologia brasileira

DA REPORTAGEM LOCAL

O empresário João Augusto Conrado do Amaral Gurgel, dono da extinta fábrica de carros Gurgel Motores, morreu anteontem aos 83 anos em São Paulo. O empresário sofria de mal de Alzheimer havia 12 anos e estava internado no hospital São Luiz (zonal sul). O enterro ocorreu no início da tarde de ontem, no cemitério do Morumby (zona sul).
Os primeiros sinais da doença surgiram pouco após a falência da companhia, decretada em 1996, embora a fábrica já tivesse fechado as portas em 1994. Para a filha de Gurgel, o Alzheimer o impediu de ver o fim da empresa, leiloada por R$ 15,7 milhões, em 2007, quando a dívida da companhia chegou a R$ 250 milhões.
Em 27 anos, a fábrica produziu cerca de 40 mil veículos. Sua história começou nas salas da Universidade de São Paulo, onde Gurgel tentou se formar em engenharia mecânica com o projeto de um carro batizado de "Tião". Ouviu do professor que carro, no Brasil, não se fazia, comprava-se. Teve, então, de passar a noite concluindo o projeto de um guindaste só para garantir o diploma. Aprovado, passou a vida às voltas do plano inicial de construir carros 100% nacionais.
Em 1969, abriu, em São Paulo, a Gurgel Indústria e Comércio de Veículos. Tinha apenas quatro funcionários e uma produção mensal de quatro carros. Sua ideia era produzir um automóvel com qualidade compatível com a de montadoras estrangeiras como Volkswagen, Ford e Fiat, que dominavam o mercado brasileiro.
A proposta encontrou eco entre setores nacionalistas a partir dos anos 70. O primeiro sucesso veio com o utilitário Xavante, já em 1970, produzido na fábrica de Rio Claro (175 km de São Paulo).
Os negócios tomaram impulso em 1983, com um acordo de cooperação fechado com a Volkswagen, permitindo que a Gurgel atingisse a marca recorde de 2.000 carros por mês.
No final da década de 1980, a Gurgel chegou a ter 70 concessionárias espalhadas pelo país. Em 1989, quando o capital da empresa foi aberto ao mercado, ela estava avaliada em quase R$ 200 milhões.

A vez dos econômicos
Um dos modelos de maior destaque da fábrica foi o BR-800, devido ao seu baixo consumo para a época -15 km com um litro. Com esse projeto, considerado o primeiro "carro econômico", Gurgel conseguiu redução de IPI do governo.
As montadoras reclamaram, até que a italiana Fiat embarcou na proposta e desenvolveu o seu motor 1.0, tornando-se fenômeno de vendas. Os concorrentes seguiram esse caminho, popularizando o consumo dos automóveis no país.
Os problemas começaram com a abertura comercial, que liberou as importações no Brasil, desenhada pelo governo de Fernando Collor de Mello, no início da década de 1990.
O golpe final à Gurgel foi o rompimento de um protocolo de intenções entre os governos de São Paulo e do Ceará, em 1991. Segundo sua filha, os dois governos não teriam honrado um compromisso para instalação de uma fábrica da Gurgel em Fortaleza (CE) para a produção da parte motriz dos veículos. Essa unidade atuaria em conjunto com a de Rio Claro, responsável pela produção das carrocerias dos veículos.


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