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LUÍS NASSIF
A encrenca do 1,9 GHz
Essa história de conceder
à Vésper espaço na frequência de 1,9 GHz -conforme defendido pelo ministro das Comunicações, Miro Teixeira, e divulgado pela coluna- é uma
encrenca maior do que parece à
primeira vista.
Na privatização das telecomunicações, as "empresas-espelho"
da telefonia fixa foram autorizadas a operar em sistema WLL
(sistema celular fixo), na frequência de 1,9 GHz. A WLL é
uma tecnologia que não exige
investimentos em cabeamento.
Só as "espelho" poderiam adotá-la, na fase inicial, para permitir competitividade aos entrantes.
GTV e Vésper entraram na
disputa. A GTV se saiu bem, a
Vésper adotou uma estratégia
errada e quase fechou. Dos seus
controladores iniciais, restou a
Qualcomm, empresa norte-americana dona do padrão
CDMA.
Nesse ínterim, houve intensa
discussão sobre o padrão de telefonia de terceira geração a ser
adotado pelo Brasil: se o CDMA,
norte-americano da Qualcomm
(denominado de CDMA 2000),
ou o europeu GSM (de nome
WCDMA). O CDMA opera praticamente apenas nos EUA; o
GSM, no restante do mundo,
abarcando 75% dos usuários de
telefonia celular. O GSM é padrão aberto, o "Linux" da telefonia; o CDMA, padrão fechado, que proporciona à Qualcomm royalties de 15%.
Na Europa, reservou-se a frequência de 1,9 GHz para a terceira geração de celulares. Nos
EUA, embaralhou-se o processo,
pois essa faixa foi reservada para as Forças Armadas.
Voltemos à Vésper. Com problemas financeiros pesados, decidiu derivar para a telefonia
móvel de alta velocidade. Depois de comprar as licenças em
1,8 GHz, solicitou autorização
para operar em caráter secundário na própria faixa de 1,9
GHz, na qual opera o WLL, alegando pretender otimizar o uso
dos equipamentos.
Concorrentes admitem que, se
a questão fosse só essa, não haveria problema. O que se teme é
que, por trás dessa tentativa, se
escondam intenções mais amplas: a de tentar reverter a decisão brasileira de adotar o padrão aberto GSM.
A Vésper é considerada empresa com pouquíssima condição de competir verdadeiramente no mercado brasileiro, fixo ou celular. Sua proposta em
nada aumenta a competição na
telefonia fixa e amplia ainda
mais a concorrência em uma
área na qual a competição é
ampla e irrestrita -a celular. Se
se abre a exceção para ela, atrás
poderão entrar pesos pesados,
como a Americel, a TIM e a Brasil Telecom, com ações na Justiça invocando o princípio da isonomia -e essa é que poderia
ser a estratégia da Qualcomm.
Banca o prejuízo da Vésper como gazua para a entrada do padrão CDMA 2000 por meio das
outras operadoras.
Há riscos de diversas naturezas. O primeiro é bagunçar totalmente o espectro de 1,9 GHz,
quando a telefonia de terceira
geração for implantada. O segundo é que o governo poderá
entregar de graça frequências
que poderão ser vendidas a preço alto. O terceiro é que causará
insegurança ampla em todos as
empresas -operadoras e fabricantes de equipamentos- que
aceitaram as regras do jogo até
agora.
Esses argumentos são de fabricantes de equipamentos europeus e de operadores de telefonia móvel. Obviamente precisam ser ponderados em qualquer avaliação sobre o tema.
E-mail - LNassif@uol.com.br
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