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Centrais sindicais têm reação tímida à crise
Entidades "enferrujaram" durante ciclo de crescimento econômico e se atrelaram ao governo Lula, criticam especialistas
Divergências sobre medidas como redução de salários expõem racha entre centrais como CUT e Força; disputa pode prejudicar trabalhador
FÁTIMA FERNANDES
CLAUDIA ROLLI
DA REPORTAGEM LOCAL
A atuação das centrais sindicais para enfrentar os efeitos da
crise mundial no mercado de
trabalho revela despreparo para defender o trabalhador, falta
de sintonia com o cenário econômico e social e atrelamento
de parte do movimento sindical
ao governo Lula -caso da CUT
e da Força Sindical, as duas
maiores representantes dos
trabalhadores do país.
Essa é a avaliação de parte de
líderes sindicais e de especialistas que estudam o movimento
no país. Para eles, a reação das
centrais e de sindicatos é tímida diante da onda de demissões
que ocorre no país desde dezembro. O Brasil perdeu 797,5
mil empregos com carteira assinada desde novembro, segundo o Ministério do Trabalho.
Para outra parcela de estudiosos do movimento sindical,
as centrais, assim como as empresas, foram pegas de surpresa com a intensidade da crise e
tiveram até de aceitar a redução de jornada e de salários para manter empregos -posição
defendida pela Força Sindical.
"As centrais sindicais estão
enferrujadas. Até setembro do
ano passado, o Brasil vivia fase
de crescimento econômico e a
atitude das centrais era conseguir algo mais para o trabalhador num contexto de expansão.
A crise pegou os sindicatos e as
centrais desprevenidos para
preservar os direitos trabalhistas em uma fase de retração
econômica", afirma Ricardo
Antunes, professor de sociologia do trabalho da Unicamp.
O que pesa ainda contra o
trabalhador, diz ele, é o fato de a
Força e a CUT serem "prisioneiras" do governo Lula -cutistas ocupam cargos no governo petista, e sindicalistas ligados à Força, no Ministério do
Trabalho. "As centrais ficam
também acuadas porque conseguiram vantagens desse governo, como o imposto sindical,
que foi estendido a elas."
Em 2008, entrou no caixa de
sindicatos, federações, confederações e centrais cerca de R$
1 bilhão arrecadado com o imposto sindical recolhido de forma obrigatória dos trabalhadores -o valor corresponde a um
dia de trabalho. Ao mudar a lei e
reconhecer as centrais, o governo Lula permitiu, em 2008, pela primeira vez, que elas recebessem uma fatia no imposto.
Até agosto, as centrais receberam R$ 55,6 milhões.
Quando os empresários sentiram o agravamento da crise,
diz Antunes, fizeram ajustes,
como corte de investimentos,
produção e emprego. "Como os
sindicatos estavam dessintonizados com o movimento da
economia, acreditaram, equivocadamente, que era hora de
preservar o mínimo, como
aceitar a redução de jornada e
de salário. Mas o trabalhador
não pode ser penalizado pela
crise. E o corte nos lucros das
empresas, como fica?"
Posição defensiva
A brusca mudança no cenário econômico, ressalta Wilson
Amorim, coordenador de pesquisas da FIA (Fundação Instituto de Administração), levou
os sindicatos e as centrais a mudarem rapidamente da posição
propositiva para a defensiva.
"Em vez de pressionar por
aumento de salário, tentam
evitar demissões. Se há algo
que o movimento sindical no
Brasil sabe fazer é negociar. E a
negociação, em um momento
de crise como este, tem de ser
feita de forma descentralizada,
já que a crise atinge setores
econômicos de maneiras diferentes", afirma Amorim.
A crise deve contribuir para
que o movimento sindical passe por um processo de "amadurecimento", segundo avaliam
os especialistas e reconhecem
os próprios líderes sindicais.
O que pode ocorrer é uma
reestruturação no cenário sindical, com o crescimento de
centrais mais ligadas à esquerda e de organizações até então
consideradas inexpressivas.
Com o agravamento da crise,
as centrais podem ir às ruas para "marcar presença" -e até
com certo "atraso", na avaliação de alguns especialistas. Até
então, não houve nos dois mandatos de Lula tantas manifestações e críticas ao governo.
"No governo FHC sequer
éramos recebidos. No governo
Lula, conseguimos construir
uma política para o salário mínimo, a correção da tabela do
Imposto de Renda, a legalização das centrais e discutir o
Bolsa Família. Houve ganhos
para o movimento sindical", diz
Artur Henrique, presidente da
CUT. "Mas criticamos quando
é preciso criticar. O governo reduziu o IPI para os carros, só
que faltou cobrar a contrapartida de garantia de empregos."
A discussão em torno da redução de jornada e salários, para evitar demissões, encampada pela Força e pela Fiesp (Federação das Indústrias do Estado de São Paulo), reforçou, segundo estudiosos, o racha que
existe entre as centrais sindicais -o que é ruim, neste momento, para o trabalhador.
CUT, Conlutas, CTB e CGTB
não aceitam a redução salarial.
Enquanto Força e UGT aceitam medidas previstas na lei.
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