|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
FINANÇAS
Recursos atingiram US$ 1,9 bi, mas mercado ainda tem dúvidas se o valor será suficiente para cobrir déficit
Investimentos estrangeiros voltam a crescer no país
VIVALDO DE SOUSA
COORDENADOR DE ECONOMIA
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
ALEX RIBEIRO
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Os investimentos estrangeiros
diretos voltaram a ganhar força
em março e atingiram US$ 1,9 bilhão até o último dia 26, rompendo uma sequência de dois meses
decepcionantes, com cifras abaixo da média dos últimos anos.
O número foi recebido como
uma boa notícia pelo diretor de
Assuntos Internacionais do Banco Central, Daniel Gleizer, no momento em que ele se prepara para
refazer os cálculos sobre os ingressos e as saídas de dólares neste ano.
Mas a recuperação em março
não responde a uma dúvida que
vem rondando o mercado de
câmbio neste início de ano: os investimentos serão suficientes para cobrir o déficit nas contas externas previsto para 2001?
Caso se tome como parâmetro
os meses de janeiro e fevereiro, a
resposta é não. O ingresso ficou
em apenas US$ 2,65 bilhões, pouco mais que a metade dos US$
4,163 bilhões dos investimentos
no mesmo período de 2000.
"É verdade que os números do
investimento estão menores que
no mesmo período do ano passado? Sim. Mas isso é um bom parâmetro para o comportamento futuro dos investimentos? Não",
disse Gleizer à Folha na última
quinta-feira.
Acompanhamento
O mercado acompanha de perto
o ingresso de investimentos porque neste ano espera-se que esses
capitais cubram a maior parte do
déficit nas transações com o exterior, estimado em US$ 26 bilhões.
Se o ingresso ficar muito abaixo
disso, como ocorreu no primeiro
bimestre, aumenta a vulnerabilidade nas contas externas do país
-e a tendência é o dólar dar um
novo salto.
Gleizer atribui a baixa dos investimentos neste início do ano a
uma defasagem que existe entre o
momento em que as empresas
decidem seus planos de expansão
e a data efetiva da realização do
projeto. Os investimentos caíram
no início do ano, argumenta Gleizer, porque cerca de três meses
antes, quando as empresas estavam fazendo seus planos estratégicos, vivia-se uma onda de pessimismo com os EUA.
Gleizer já enxerga uma virada
na economia norte-americana,
que deverá se refletir nos investimentos nos próximos meses. Para ele, nem a deterioração da economia da Argentina atrapalha esses planos.
"Muitos dos planos de investimento no Brasil são estratégicos,
não são apenas oportunistas. São
empresas querendo se posicionar
no mercado. Algumas oportunidades são para agora ou nunca."
A redução no ritmo de privatizações também é apontada como
um dos fatores que podem prejudicar o ritmo de ingresso de dólares. Para este ano, o BC contava
com o ingresso de US$ 4 bilhões
em privatizações. Mas a adoção
do modelo pulverizado de venda
de ações diminui a chance de empresas serem arrematadas por estrangeiros.
Gleizer concorda que a adoção
desse modelo pode causar uma
baixa no ingresso de investimentos estrangeiros. Mas ele acredita
que pode haver compensações:
"O que não entrar como investimento pode vir como investimento em portfólio (aplicação em
Bolsa)." Foi o que aconteceu com
a venda de ações da Petrobras.
O diretor do BC descartou a hipótese de vender moedas da reserva do banco para enfrentar
uma eventual falta de dólares no
mercado -ou de o Tesouro parar
de comprar moeda diretamente
no mercado para honrar seus
compromissos no exterior.
Segundo Gleizer, medida dessa
natureza teria efeitos antagônicos:
ao mesmo tempo em que suavizaria a pressão no câmbio, causaria
apreensão pela baixa de reservas
em moeda estrangeira do BC.
Questionado sobre a possibilidade de a cotação do dólar ter
mudado de patamar após as recentes altas, Gleizer disse que não
se pode afirmar isso. Ele acredita
que a cotação poderá recuar nas
próximas semanas.
Gleizer afirma que o investimento no aumento da capacidade
produtiva tem crescido, embora
ainda seja pequeno. Foi de cerca
de 19% do PIB (Produto Interno
Bruto) -soma dos bens e serviços produzidos- em 2000 e pode
ficar em 21% do PIB neste ano.
Boa parte desses investimentos,
afirma Gleizer, está sendo bancada por capitais que vêm de fora do
país. "Se o país quer crescer, e não
está sendo capaz de gerar poupança doméstica, usa poupança
externa", disse.
Texto Anterior: Outro lado: Três negam débito; outras "desaparecem" Próximo Texto: Diretor do BC rebate críticas de Franco Índice
|