São Paulo, domingo, 01 de abril de 2001

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FINANÇAS
Recursos atingiram US$ 1,9 bi, mas mercado ainda tem dúvidas se o valor será suficiente para cobrir déficit
Investimentos estrangeiros voltam a crescer no país

VIVALDO DE SOUSA
COORDENADOR DE ECONOMIA DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

ALEX RIBEIRO

DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Os investimentos estrangeiros diretos voltaram a ganhar força em março e atingiram US$ 1,9 bilhão até o último dia 26, rompendo uma sequência de dois meses decepcionantes, com cifras abaixo da média dos últimos anos.
O número foi recebido como uma boa notícia pelo diretor de Assuntos Internacionais do Banco Central, Daniel Gleizer, no momento em que ele se prepara para refazer os cálculos sobre os ingressos e as saídas de dólares neste ano.
Mas a recuperação em março não responde a uma dúvida que vem rondando o mercado de câmbio neste início de ano: os investimentos serão suficientes para cobrir o déficit nas contas externas previsto para 2001?
Caso se tome como parâmetro os meses de janeiro e fevereiro, a resposta é não. O ingresso ficou em apenas US$ 2,65 bilhões, pouco mais que a metade dos US$ 4,163 bilhões dos investimentos no mesmo período de 2000.
"É verdade que os números do investimento estão menores que no mesmo período do ano passado? Sim. Mas isso é um bom parâmetro para o comportamento futuro dos investimentos? Não", disse Gleizer à Folha na última quinta-feira.

Acompanhamento
O mercado acompanha de perto o ingresso de investimentos porque neste ano espera-se que esses capitais cubram a maior parte do déficit nas transações com o exterior, estimado em US$ 26 bilhões.
Se o ingresso ficar muito abaixo disso, como ocorreu no primeiro bimestre, aumenta a vulnerabilidade nas contas externas do país -e a tendência é o dólar dar um novo salto.
Gleizer atribui a baixa dos investimentos neste início do ano a uma defasagem que existe entre o momento em que as empresas decidem seus planos de expansão e a data efetiva da realização do projeto. Os investimentos caíram no início do ano, argumenta Gleizer, porque cerca de três meses antes, quando as empresas estavam fazendo seus planos estratégicos, vivia-se uma onda de pessimismo com os EUA.
Gleizer já enxerga uma virada na economia norte-americana, que deverá se refletir nos investimentos nos próximos meses. Para ele, nem a deterioração da economia da Argentina atrapalha esses planos.
"Muitos dos planos de investimento no Brasil são estratégicos, não são apenas oportunistas. São empresas querendo se posicionar no mercado. Algumas oportunidades são para agora ou nunca."
A redução no ritmo de privatizações também é apontada como um dos fatores que podem prejudicar o ritmo de ingresso de dólares. Para este ano, o BC contava com o ingresso de US$ 4 bilhões em privatizações. Mas a adoção do modelo pulverizado de venda de ações diminui a chance de empresas serem arrematadas por estrangeiros.
Gleizer concorda que a adoção desse modelo pode causar uma baixa no ingresso de investimentos estrangeiros. Mas ele acredita que pode haver compensações: "O que não entrar como investimento pode vir como investimento em portfólio (aplicação em Bolsa)." Foi o que aconteceu com a venda de ações da Petrobras.
O diretor do BC descartou a hipótese de vender moedas da reserva do banco para enfrentar uma eventual falta de dólares no mercado -ou de o Tesouro parar de comprar moeda diretamente no mercado para honrar seus compromissos no exterior.
Segundo Gleizer, medida dessa natureza teria efeitos antagônicos: ao mesmo tempo em que suavizaria a pressão no câmbio, causaria apreensão pela baixa de reservas em moeda estrangeira do BC.
Questionado sobre a possibilidade de a cotação do dólar ter mudado de patamar após as recentes altas, Gleizer disse que não se pode afirmar isso. Ele acredita que a cotação poderá recuar nas próximas semanas.
Gleizer afirma que o investimento no aumento da capacidade produtiva tem crescido, embora ainda seja pequeno. Foi de cerca de 19% do PIB (Produto Interno Bruto) -soma dos bens e serviços produzidos- em 2000 e pode ficar em 21% do PIB neste ano.
Boa parte desses investimentos, afirma Gleizer, está sendo bancada por capitais que vêm de fora do país. "Se o país quer crescer, e não está sendo capaz de gerar poupança doméstica, usa poupança externa", disse.



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