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LEÃO ACUADO
Ministro não abria mão da compensação às perdas com correção da tabela do IR, mas Lula seguiu Dirceu e Mercadante
Palocci é maior derrotado da novela da MP
FERNANDO RODRIGUES
KENNEDY ALENCAR
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Ao recuar em definitivo ontem a
respeito da moribunda MP (medida provisória) 232, o PT e o governo Luiz Inácio Lula da Silva
buscam minimizar uma de suas
maiores derrotas políticas nesses
27 meses de administração.
O ministro Antonio Palocci Filho (Fazenda), que costuma vencer quase todas as batalhas internas, terminou como o maior derrotado. O ministro Aldo Rebelo
(Coordenação Política) e o novo
líder do governo na Câmara, Arlindo Chinaglia (PT-SP), que conduziam até ontem outra estratégia a respeito da 232, também foram desautorizados.
Depois de se negar anteontem a
editar uma nova MP mantendo
apenas a "boa notícia" da 232, os
10% de correção da tabela do IR
(Imposto de Renda) das Pessoas
Físicas a partir de 1º de janeiro, o
governo fez exatamente isso ontem. A intenção foi tirar da oposição a possibilidade de aprovar
uma medida feita sob encomenda
no final de 2004 para agradar à
classe média e à base sindical tradicionalmente ligada ao PT. Na
noite de ontem, programa eleitoral do PFL tentava faturar para a
oposição a defesa da correção da
tabela. O governo esvaziou um
pouco esse discurso.
Se insistisse em tentar rejeitar a
própria MP que enviou, o governo poderia perder no plenário da
Câmara e ver aprovada uma proposta de votação fatiada. Assim, a
oposição se encarregaria, com
ajuda de parte da desagregada base de apoio de Lula no Congresso,
de aprovar a correção da tabela e
rejeitar a "má notícia" da 232 (aumento de impostos das empresas
prestadoras de serviço).
Desde janeiro, estava claro que
seria difícil, senão impossível,
aprovar a 232 como enviada. Mas
Palocci insistia no argumento de
que precisava compensar a perda
de R$ 2,5 bilhões por ano com a
correção da tabela. Assim, arrastou o governo para uma desgastante batalha no Congresso e na
sociedade até ontem, quando Lula resolveu contrariar o ministro.
Foram decisivos no convencimento de Lula o ministro da Casa
Civil, José Dirceu, o líder do governo no Senado, Aloizio Mercadante (PT-SP), e o ex-presidente
da Câmara João Paulo Cunha
(PT-SP). Os três, que acompanharam Lula em viagem a São Paulo e
que divergem de Palocci em aspectos da política econômica, argumentaram que o governo perderia no Congresso ao final de
qualquer luta para aprovar compensações à correção da tabela.
Logo, disseram, não fazia mais
sentido a posição de Palocci, que
ontem estava na Espanha e foi informado da decisão por telefone.
Dirceu, Mercadante e João Paulo aconselharam Lula a autorizar
Palocci a cortar mais gastos do
Orçamento deste ano (já reduzido
em R$ 15,9 bilhões), se necessário,
para cumprir o ajuste fiscal após o
fim do acordo com o FMI (Fundo
Monetário Internacional).
Cresce no governo a percepção
de que erros políticos -como
elevar impostos de prestadores de
serviço- podem se avolumar no
ano que vem, quando Lula provavelmente disputará a reeleição. O
governo se assustou com a campanha contra a MP 232.
O temor é que, nas eleições de
2006, possa ser reproduzido no
plano federal um cenário similar
ao que levou Marta Suplicy a perder a Prefeitura de São Paulo no
ano passado. A petista foi apelidada pela oposição de "Martaxa"
por ter criado taxas extras.
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