São Paulo, sexta-feira, 01 de abril de 2005

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LEÃO ACUADO

Ministro não abria mão da compensação às perdas com correção da tabela do IR, mas Lula seguiu Dirceu e Mercadante

Palocci é maior derrotado da novela da MP

FERNANDO RODRIGUES
KENNEDY ALENCAR
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Ao recuar em definitivo ontem a respeito da moribunda MP (medida provisória) 232, o PT e o governo Luiz Inácio Lula da Silva buscam minimizar uma de suas maiores derrotas políticas nesses 27 meses de administração.
O ministro Antonio Palocci Filho (Fazenda), que costuma vencer quase todas as batalhas internas, terminou como o maior derrotado. O ministro Aldo Rebelo (Coordenação Política) e o novo líder do governo na Câmara, Arlindo Chinaglia (PT-SP), que conduziam até ontem outra estratégia a respeito da 232, também foram desautorizados.
Depois de se negar anteontem a editar uma nova MP mantendo apenas a "boa notícia" da 232, os 10% de correção da tabela do IR (Imposto de Renda) das Pessoas Físicas a partir de 1º de janeiro, o governo fez exatamente isso ontem. A intenção foi tirar da oposição a possibilidade de aprovar uma medida feita sob encomenda no final de 2004 para agradar à classe média e à base sindical tradicionalmente ligada ao PT. Na noite de ontem, programa eleitoral do PFL tentava faturar para a oposição a defesa da correção da tabela. O governo esvaziou um pouco esse discurso.
Se insistisse em tentar rejeitar a própria MP que enviou, o governo poderia perder no plenário da Câmara e ver aprovada uma proposta de votação fatiada. Assim, a oposição se encarregaria, com ajuda de parte da desagregada base de apoio de Lula no Congresso, de aprovar a correção da tabela e rejeitar a "má notícia" da 232 (aumento de impostos das empresas prestadoras de serviço).
Desde janeiro, estava claro que seria difícil, senão impossível, aprovar a 232 como enviada. Mas Palocci insistia no argumento de que precisava compensar a perda de R$ 2,5 bilhões por ano com a correção da tabela. Assim, arrastou o governo para uma desgastante batalha no Congresso e na sociedade até ontem, quando Lula resolveu contrariar o ministro.
Foram decisivos no convencimento de Lula o ministro da Casa Civil, José Dirceu, o líder do governo no Senado, Aloizio Mercadante (PT-SP), e o ex-presidente da Câmara João Paulo Cunha (PT-SP). Os três, que acompanharam Lula em viagem a São Paulo e que divergem de Palocci em aspectos da política econômica, argumentaram que o governo perderia no Congresso ao final de qualquer luta para aprovar compensações à correção da tabela. Logo, disseram, não fazia mais sentido a posição de Palocci, que ontem estava na Espanha e foi informado da decisão por telefone.
Dirceu, Mercadante e João Paulo aconselharam Lula a autorizar Palocci a cortar mais gastos do Orçamento deste ano (já reduzido em R$ 15,9 bilhões), se necessário, para cumprir o ajuste fiscal após o fim do acordo com o FMI (Fundo Monetário Internacional).
Cresce no governo a percepção de que erros políticos -como elevar impostos de prestadores de serviço- podem se avolumar no ano que vem, quando Lula provavelmente disputará a reeleição. O governo se assustou com a campanha contra a MP 232.
O temor é que, nas eleições de 2006, possa ser reproduzido no plano federal um cenário similar ao que levou Marta Suplicy a perder a Prefeitura de São Paulo no ano passado. A petista foi apelidada pela oposição de "Martaxa" por ter criado taxas extras.


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