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RETOMADA
Proporção investida chegou a 19,6% do PIB brasileiro, que ficou em R$ 1,77 trilhão no ano passado, aponta IBGE
Poupança e investimento têm nível recorde
GABRIELA WOLTHERS
DA SUCURSAL DO RIO
JANAINA LAGE
DA FOLHA ONLINE, NO RIO
A taxa de poupança brasileira
bateu recorde em 2004, atingindo
23,2% do PIB (Produto Interno
Bruto). O índice, divulgado ontem pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), é o
maior desde o início da série, em
1991. A taxa de investimento chegou a 19,6%, a maior desde 1998.
Os investimentos somaram R$
346,2 bilhões do PIB do ano passado. Segundo o IBGE, o Brasil
gerou um total de R$ 1,77 trilhão
em riquezas -descontada a inflação, o valor representou um
crescimento de 5,2% em relação a
2003, quando atingiu R$ 1,556 trilhão. Em termos reais (descontada a inflação), o PIB cresceu R$
79,1 bilhões de um ano para outro, o maior aumento desde 1994.
Apesar da alta na taxa de investimento, que havia ficado em
17,8% do PIB em 2003, o economista Alex Agostini, da consultoria GRC Visão, afirma que o Brasil
ainda precisa melhorar sua performance. "O país está abaixo das
economias emergentes em destaque, como a China e a Índia, que
têm taxas de investimentos em
torno de 25% do PIB."
O economista Bráulio Borges,
da consultoria LCA, destaca, porém, que nesse crescimento de
19,6% está embutido o aumento
de preços dos bens de capital. "Os
bens de capital ficaram mais caros
do que a média dos outros bens
da economia, e isso influi no valor
nominal [sem descontar a inflação] do investimento."
"Acho mais importante destacar o crescimento real do investimento, que, como o IBGE divulgou, foi de 10,9%", disse Borges.
"Vira e mexe você vê alguém falando que a taxa ideal de investimento é de 24%, 25%. Só que é
necessário separar o que é investimento mesmo e o que é aumento
de preços de bens de capital."
Segundo a gerente de Contas
Nacionais Trimestrais do IBGE,
Rebeca Palis, o crescimento na taxa de investimento, que reflete a
compra de máquinas e equipamentos destinados à ampliação
do parque industrial e também
para a construção civil, é resultado direto do aumento da taxa de
poupança. "Para investir, é necessário ter poupança. Ela foi usada
para elevar o investimento no país
e para quitar dívidas no exterior."
Tanto para o IBGE como para
Alex Agostini, o fato de a taxa de
poupança ter sido maior do que a
de investimento mostra que as
empresas e o governo aproveitaram o momento mais favorável
da economia, principalmente a
valorização do real, para saldar
dívidas no exterior.
"O que aconteceu é que as pessoas aproveitaram o câmbio baixo para poder amortizar", afirmou Rebeca Palis. "Aproveitaram
essa poupança para aumentar o
investimento no país e também
para quitar dívida no exterior. A
poupança bruta recorde teve esses dois destinos."
Para Agostini, "as empresa ficaram numa situação difícil em
2003 por conta da recessão e, por
isso, aproveitaram o horizonte
mais positivo de 2004 para saldar
as suas dívidas".
A diferença entre a poupança
bruta, os investimentos e o saldo
de transferências enviadas e recebidas para o restante do mundo
resultou numa capacidade de financiamento de R$ 35,6 bilhões, o
maior valor desde o início da série
1991. Em apenas duas outras vezes o país havia registrado capacidade positiva de financiamento
-em 1992 (R$ 16 bilhões) e em
2003 (R$ 11,19 bilhões).
Segundo o gerente de Contas
Nacionais do IBGE, Carlos Sobral,
o principal destino desta capacidade de financiamento foi o pagamento e a amortização de dívidas.
A prova foi a redução da taxa de
rolagem do setor privado, que
passou de 115% para 65% de 2003
para o ano passado.
O crescimento das reservas internacionais, mesmo sem aporte
de recursos do FMI (Fundo Monetário Internacional), também
foi significativo: R$ 5,615 bilhões.
Além de não adquirir novos recursos, o país aproveitou para
amortizar uma parcela da dívida
com o fundo. Em 2003, o crescimento foi mais positivo, de R$
26,377 bilhões, motivado pela
captação de recursos com o FMI.
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