São Paulo, sexta-feira, 01 de abril de 2005

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RETOMADA

Proporção investida chegou a 19,6% do PIB brasileiro, que ficou em R$ 1,77 trilhão no ano passado, aponta IBGE

Poupança e investimento têm nível recorde

GABRIELA WOLTHERS
DA SUCURSAL DO RIO

JANAINA LAGE
DA FOLHA ONLINE, NO RIO

A taxa de poupança brasileira bateu recorde em 2004, atingindo 23,2% do PIB (Produto Interno Bruto). O índice, divulgado ontem pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), é o maior desde o início da série, em 1991. A taxa de investimento chegou a 19,6%, a maior desde 1998.
Os investimentos somaram R$ 346,2 bilhões do PIB do ano passado. Segundo o IBGE, o Brasil gerou um total de R$ 1,77 trilhão em riquezas -descontada a inflação, o valor representou um crescimento de 5,2% em relação a 2003, quando atingiu R$ 1,556 trilhão. Em termos reais (descontada a inflação), o PIB cresceu R$ 79,1 bilhões de um ano para outro, o maior aumento desde 1994.
Apesar da alta na taxa de investimento, que havia ficado em 17,8% do PIB em 2003, o economista Alex Agostini, da consultoria GRC Visão, afirma que o Brasil ainda precisa melhorar sua performance. "O país está abaixo das economias emergentes em destaque, como a China e a Índia, que têm taxas de investimentos em torno de 25% do PIB."
O economista Bráulio Borges, da consultoria LCA, destaca, porém, que nesse crescimento de 19,6% está embutido o aumento de preços dos bens de capital. "Os bens de capital ficaram mais caros do que a média dos outros bens da economia, e isso influi no valor nominal [sem descontar a inflação] do investimento."
"Acho mais importante destacar o crescimento real do investimento, que, como o IBGE divulgou, foi de 10,9%", disse Borges. "Vira e mexe você vê alguém falando que a taxa ideal de investimento é de 24%, 25%. Só que é necessário separar o que é investimento mesmo e o que é aumento de preços de bens de capital."
Segundo a gerente de Contas Nacionais Trimestrais do IBGE, Rebeca Palis, o crescimento na taxa de investimento, que reflete a compra de máquinas e equipamentos destinados à ampliação do parque industrial e também para a construção civil, é resultado direto do aumento da taxa de poupança. "Para investir, é necessário ter poupança. Ela foi usada para elevar o investimento no país e para quitar dívidas no exterior."
Tanto para o IBGE como para Alex Agostini, o fato de a taxa de poupança ter sido maior do que a de investimento mostra que as empresas e o governo aproveitaram o momento mais favorável da economia, principalmente a valorização do real, para saldar dívidas no exterior.
"O que aconteceu é que as pessoas aproveitaram o câmbio baixo para poder amortizar", afirmou Rebeca Palis. "Aproveitaram essa poupança para aumentar o investimento no país e também para quitar dívida no exterior. A poupança bruta recorde teve esses dois destinos."
Para Agostini, "as empresa ficaram numa situação difícil em 2003 por conta da recessão e, por isso, aproveitaram o horizonte mais positivo de 2004 para saldar as suas dívidas".
A diferença entre a poupança bruta, os investimentos e o saldo de transferências enviadas e recebidas para o restante do mundo resultou numa capacidade de financiamento de R$ 35,6 bilhões, o maior valor desde o início da série 1991. Em apenas duas outras vezes o país havia registrado capacidade positiva de financiamento -em 1992 (R$ 16 bilhões) e em 2003 (R$ 11,19 bilhões).
Segundo o gerente de Contas Nacionais do IBGE, Carlos Sobral, o principal destino desta capacidade de financiamento foi o pagamento e a amortização de dívidas. A prova foi a redução da taxa de rolagem do setor privado, que passou de 115% para 65% de 2003 para o ano passado.
O crescimento das reservas internacionais, mesmo sem aporte de recursos do FMI (Fundo Monetário Internacional), também foi significativo: R$ 5,615 bilhões. Além de não adquirir novos recursos, o país aproveitou para amortizar uma parcela da dívida com o fundo. Em 2003, o crescimento foi mais positivo, de R$ 26,377 bilhões, motivado pela captação de recursos com o FMI.


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