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TANGO SEM FIM
Troca de papéis da dívida possibilitaria saída da moratória; fundo obteve vitória em Corte dos EUA
Ação na Justiça faz Argentina suspender emissão de títulos
SILVANA ARANTES
DE BUENOS AIRES
A Argentina suspendeu ontem a
emissão de US$ 35 bilhões (R$ 93
bilhões) em títulos que efetivariam, hoje, a saída da moratória
de sua dívida pública.
Os novos papéis iriam substituir
os bônus que estão em "default"
desde 2001. Seriam entregues aos
76% de credores que aceitaram a
oferta de troca da dívida argentina, com desconto de até 75% no
valor de seus papéis.
A oferta de troca foi encerrada
em 25 de fevereiro. Os novos papéis deveriam ser entregues hoje
aos credores, segundo o cronograma oficial. Porém o governo
argentino foi levado ao recuo, pela ação de um fundo de investidores que rejeitou a troca e obteve
nesta semana vitória contra o país
na Justiça norte-americana.
O fundo Elliott, identificado como "abutre", possui US$ 204 milhões (R$ 551 milhões) em títulos
argentinos e exige receber 100%
dos investimentos. Conseguiu
embargar na Justiça US$ 7 bilhões
(R$ 18,9 bilhões) em títulos argentinos, como eventual garantia de
pagamento.
O fundo argumenta que os títulos pertencem ao Estado argentino. A Argentina sustenta que os
papéis são propriedade de seus titulares, que os apresentaram para
a troca. A causa foi encaminhada
à Corte de Apelações, depois que
o juiz federal Thomas Griesa deu
sentença favorável à Argentina.
Enquanto não houver veredicto
da Corte, o embargo permanece.
O "congelamento" dos títulos deixou o governo argentino diante
de um dilema. Se os novos papéis
fossem lançados hoje, a Argentina
se arriscaria a ter dívida duplicada
no mercado, com os "novos" e os
"velhos" títulos em cotação, simultaneamente.
No entanto, a decisão de suspender o lançamento, anunciada
ontem, poderá abrir nova brecha
judicial contra o país, pelo lado
dos credores que aderiram à troca
e não receberam seus títulos na
data prevista.
Ao confirmar a suspensão das
emissões, Alberto Fernandez,
chefe-de-gabinete do presidente
Néstor Kirchner, afirmou que o
governo "está trabalhando para
que seja rápido" judicial.
Outros fundos de investidores
refratários à troca argentina
anunciaram que irão à Justiça
contra o país. A estimativa de que
os 24% de credores que rejeitaram a oferta iriam "para o litígio"
havia sido divulgada pelo governo argentino, quando o FMI
(Fundo Monetário Internacional)
sugeriu que a oferta deveria ser
reaberta, para dar nova chance
aos que a recusaram.
O que nem o governo argentino
nem o mercado esperavam é que
um "fundo abutre" conseguisse
colocar em risco toda a reestruturação, cujo êxito havia sido anunciado por Kirchner como o fim
"da mais gigantesca moratória da
história".
"Sempre dissemos que a troca
seria um processo muito longo e
cheio de altos e baixos", afirmou
ontem Felisa Micheli, presidente
do banco estatal argentino Nación. A executiva defendeu a decisão do governo de suspender o
lançamento dos papéis como
uma medida de cautela para evitar que os novos bônus sejam interceptados antes de chegarem às
mãos dos credores que aderiram
à troca da dívida argentina.
Fernandez não fez prognóstico
sobre a nova data de entrega dos
títulos. "O que falta fazer é a materialização efetiva da troca, que se
traduz na emissão dos títulos da
dívida [nova], algo que seria feito
amanhã [hoje]. Mas, em razão da
sentença [da Justiça dos EUA] isso está atrasado". Com o futuro
da reestruturação argentina indefinido, o índice Merval (principais
ações) da Bolsa de Buenos Aires
fechou em queda de 0,6%.
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