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LINHA CRUZADA
Para órgão, presidente interino da Anatel não infringiu código ao criticar dirigentes do Banco Central
Comissão de ética não pune no caso teles
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Ninguém será punido pelas divergências entre a Anatel (Agência Nacional de Telecomunicações) e o Banco Central sobre documento elaborado pela empresa
de telefonia BCP e levado para
discussão dentro da CPE (Câmara
de Política Econômica).
A Comissão de Ética Pública
considerou que o presidente interino da Anatel, Antonio Carlos
Valente, não infringiu artigos do
Código de Conduta da Alta Administração Federal, após criticar
publicamente dirigentes do BC.
Nota divulgada pela comissão,
formada por cinco integrantes indicados pelo presidente Fernando
Henrique Cardoso, informou
"não ter havido transgressão" por
parte de Valente, mas sim "divergências" referentes ao conteúdo
do documento.
Em reunião realizada ontem no
Rio, a comissão concluiu que Valente não fez críticas à conduta
pessoal ou profissional de diretores do BC nem da CPE, órgão de
assessoramento da Presidência.
O presidente da comissão, João
Geraldo Piquet Carneiro, afirmou
que tampouco não houve lobby
no episódio por parte do BC. "Sobre a sugestão de que teria havido
lobby, a comissão examinou o documento, que era uma crítica e
não era apócrifo", afirmou ele.
Piquet Carneiro disse que o nome do autor do estudo foi apresentado numa reunião de CPE de
março. "Do ponto de vista ético,
não houve nada de impróprio",
disse. Segundo ele, a CPE tem "liberdade total" para conhecer e
discutir documentos elaborados
pelo governo, por consumidores
ou por empresas.
Uma das possibilidades analisadas a pedido do ministro Pedro
Parente (Casa Civil) seria o descumprimento do artigo 12, que
proíbe que autoridades façam críticas públicas a outros integrantes
do governo.
O outro ponto examinado foi o
de que Valente teria desrespeitado o artigo 11 -estabelece que divergências entre autoridades precisam passar por uma coordenação administrativa. "Nesse caso
não houve divergência com outro
órgão, mas com um documento
que não foi produzido pelo governo", comentou Piquet Carneiro.
Em 16 de abril, Valente questionou o fato de dirigentes do BC terem levado à CPE documento da
BCP, com uma análise pessimista
sobre o setor de telecomunicações, que pedia mudanças nas regras sobre metas de oferta de telefones e de reajuste de tarifas.
Elaborado por Arnaldo Tibyriçá, da BCP, o documento foi levado para discussão na CPE pelo diretor de Política Monetária do BC,
Luiz Fernando Figueiredo, primo
de Tibyriçá. Figueiredo disse que
levou o documento porque havia
uma preocupação de investidores
sobre a situação financeira do setor de telecomunicações.
O documento sugeria indiretamente a existência de riscos de investimentos no setor e a possibilidade de um "caladão". Figueiredo
disse que, como não-especialista
no setor, não saberia dizer se as
conclusões do documento estavam certas ou erradas.
Após as críticas, o ministro Pedro Parente, que coordena a CPE,
condenou a iniciativa de Valente e
pediu que o assunto fosse analisado pela comissão de Ética Pública.
Por isso, Valente enviou explicações a Piquet Carneiro. Se suas
justificativas não fossem aceitas,
ele poderia ser punido -sendo
enquadrado como infrator do código, podendo receber advertência reservada ou censura pública.
A comissão não tratou do comportamento do diretor do BC. Segundo integrantes, o tema extrapolaria suas atribuições.
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