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1º DE MAIO
Mão-de-obra em infra-estrutura é competitiva, mas problemas estão na formação universitária e especializada
Chances dos brasileiros dividem analistas
FÁTIMA FERNANDES
CLAUDIA ROLLI
DA REPORTAGEM LOCAL
O trabalhador brasileiro está
preparado para enfrentar a concorrência com a mão-de-obra internacional? A resposta a essa pergunta divide a opinião de especialistas no mercado de trabalho.
"Em alguns setores, como o automotivo, o siderúrgico e o petroquímico, o trabalhador está preparado. Mas a mão-de-obra de setores que exigem mais conhecimento, já não está", afirma João
Felício, presidente da CUT (Central Única dos Trabalhadores).
Especialistas no mercado de trabalho dizem que o Brasil tem baixo nível de escolaridade e pouco
investimento em qualificação de
trabalhador. "Há 500 anos, o Brasil despreza a educação. As empresas que assumiram o papel do
Estado e investiram no seu quadro de pessoal estão se dando
muito bem aqui e no exterior",
afirma Luis Carlos Moro, advogado da área trabalhista.
A competição com a China não
é fácil, na avaliação de Maria Cristina Cacciamali, professora de estudos do trabalho da USP, porque
o chinês recebe um salário muito
baixo. "Também não é fácil competir com a Índia, que possui elevado contingente de mão-de-obra de nível universitário nas
áreas de engenharia, matemática
e física. O perfil educacional do
brasileiro é complicado", afirma.
Com pequeno crescimento econômico, na avaliação de Cacciamali, o trabalhador não consegue
acumular valor na sua experiência profissional. "As oportunidades de emprego são racionadas e
quando abre uma vaga ela é de
baixa qualidade, que não acrescenta nada à experiência do trabalhador. Precisamos de um choque
de crescimento no país para ver
esse jogo mudar", afirma.
A qualificação da mão-de-obra
brasileira é, na análise de Clemente Ganz Lúcio, diretor técnico do
Dieese, "um dos gargalos a serem
enfrentados pelo país. Temos certamente pessoal qualificado em
alguns setores, só que o Brasil tem
uma economia muito diversificada. É preciso aprimorar os investimentos em toda a mão-de-obra.
Investir em educação é o diferencial para garantir a concorrência
do Brasil no exterior", afirma.
Na área agrícola, na análise do
diretor técnico do Dieese, o trabalhador brasileiro desenvolveu capacidade de competição. "O que
fizemos nessa área é completamente possível de fazer em outras", afirma.
O baixo custo do trabalho na indústria torna a mão-de-obra brasileira altamente competitiva ao
ser comparada ao mercado internacional, na análise de Adalberto
Cardoso, diretor de ensino do Iuperj (Instituto Universitário de
Pesquisas do Rio de Janeiro).
"Não há como competir com
um país que utiliza trabalho escravo em sua produção, caso da
China . Mas estamos em condições de concorrer com México,
Coréia, Índia e os países da América Latina", diz.
Levantamento do BLS (Bureau
of Labor Statistics), Departamento de Estatísticas do Trabalho dos
EUA, mostra que o custo do trabalho na indústria brasileira é da
ordem de US$ 3 por hora, segundo dados de 2004. Na Coréia, por
exemplo, é de US$ 11,52.
Cardoso descarta a necessidade
de mudanças na legislação trabalhista para tornar a mão-de-obra
mais competitiva para atrair mais
investimentos ao país. "Não
adianta mudar as leis. Não adianta ter mão-de-obra barata e qualificada. Não adianta ter cadeias
produtivas integradas, nem infra-estrutura para exportação. Quem
determina onde eles devem investir, infelizmente, são as agências
de classificação de risco."
João Sabóia, diretor do Instituto
de Economia da UFRJ, acredita
que o esforço do Brasil para manter a mão-de-obra competitiva
tem de ser diário e em todos os níveis de governo. "Não dá para ter
trabalhador competitivo quando
prefeituras desviam verbas de
merenda escolar para os bolsos
dos parentes dos prefeitos, quando Estados gastam dinheiro para
fazer propaganda de candidatos e
quando há corte de verbas para as
Universidades", afirma Sabóia.
Comemorações
Hoje, as duas maiores centrais
sindicais brasileiras, Força Sindical e CUT, promovem dois grandes atos em São Paulo para comemorar o Dia do Trabalho. Com
programação de shows durante
quase todo o dia, elas esperam
atrair público estimado em 3,5
milhões de pessoas -2 milhões
esperadas no evento da CUT, na
av. Paulista, e 1,5 milhão na festa
da Força, na praça Campo de Bagatelle, na zona norte.
Além de um grande número de
shows, as centrais programaram
uma agenda de reivindicações.
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