São Paulo, segunda-feira, 01 de maio de 2006

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1º DE MAIO

Mão-de-obra em infra-estrutura é competitiva, mas problemas estão na formação universitária e especializada

Chances dos brasileiros dividem analistas

FÁTIMA FERNANDES
CLAUDIA ROLLI

DA REPORTAGEM LOCAL

O trabalhador brasileiro está preparado para enfrentar a concorrência com a mão-de-obra internacional? A resposta a essa pergunta divide a opinião de especialistas no mercado de trabalho.
"Em alguns setores, como o automotivo, o siderúrgico e o petroquímico, o trabalhador está preparado. Mas a mão-de-obra de setores que exigem mais conhecimento, já não está", afirma João Felício, presidente da CUT (Central Única dos Trabalhadores).
Especialistas no mercado de trabalho dizem que o Brasil tem baixo nível de escolaridade e pouco investimento em qualificação de trabalhador. "Há 500 anos, o Brasil despreza a educação. As empresas que assumiram o papel do Estado e investiram no seu quadro de pessoal estão se dando muito bem aqui e no exterior", afirma Luis Carlos Moro, advogado da área trabalhista.
A competição com a China não é fácil, na avaliação de Maria Cristina Cacciamali, professora de estudos do trabalho da USP, porque o chinês recebe um salário muito baixo. "Também não é fácil competir com a Índia, que possui elevado contingente de mão-de-obra de nível universitário nas áreas de engenharia, matemática e física. O perfil educacional do brasileiro é complicado", afirma.
Com pequeno crescimento econômico, na avaliação de Cacciamali, o trabalhador não consegue acumular valor na sua experiência profissional. "As oportunidades de emprego são racionadas e quando abre uma vaga ela é de baixa qualidade, que não acrescenta nada à experiência do trabalhador. Precisamos de um choque de crescimento no país para ver esse jogo mudar", afirma.
A qualificação da mão-de-obra brasileira é, na análise de Clemente Ganz Lúcio, diretor técnico do Dieese, "um dos gargalos a serem enfrentados pelo país. Temos certamente pessoal qualificado em alguns setores, só que o Brasil tem uma economia muito diversificada. É preciso aprimorar os investimentos em toda a mão-de-obra. Investir em educação é o diferencial para garantir a concorrência do Brasil no exterior", afirma.
Na área agrícola, na análise do diretor técnico do Dieese, o trabalhador brasileiro desenvolveu capacidade de competição. "O que fizemos nessa área é completamente possível de fazer em outras", afirma.
O baixo custo do trabalho na indústria torna a mão-de-obra brasileira altamente competitiva ao ser comparada ao mercado internacional, na análise de Adalberto Cardoso, diretor de ensino do Iuperj (Instituto Universitário de Pesquisas do Rio de Janeiro).
"Não há como competir com um país que utiliza trabalho escravo em sua produção, caso da China . Mas estamos em condições de concorrer com México, Coréia, Índia e os países da América Latina", diz.
Levantamento do BLS (Bureau of Labor Statistics), Departamento de Estatísticas do Trabalho dos EUA, mostra que o custo do trabalho na indústria brasileira é da ordem de US$ 3 por hora, segundo dados de 2004. Na Coréia, por exemplo, é de US$ 11,52.
Cardoso descarta a necessidade de mudanças na legislação trabalhista para tornar a mão-de-obra mais competitiva para atrair mais investimentos ao país. "Não adianta mudar as leis. Não adianta ter mão-de-obra barata e qualificada. Não adianta ter cadeias produtivas integradas, nem infra-estrutura para exportação. Quem determina onde eles devem investir, infelizmente, são as agências de classificação de risco."
João Sabóia, diretor do Instituto de Economia da UFRJ, acredita que o esforço do Brasil para manter a mão-de-obra competitiva tem de ser diário e em todos os níveis de governo. "Não dá para ter trabalhador competitivo quando prefeituras desviam verbas de merenda escolar para os bolsos dos parentes dos prefeitos, quando Estados gastam dinheiro para fazer propaganda de candidatos e quando há corte de verbas para as Universidades", afirma Sabóia.

Comemorações
Hoje, as duas maiores centrais sindicais brasileiras, Força Sindical e CUT, promovem dois grandes atos em São Paulo para comemorar o Dia do Trabalho. Com programação de shows durante quase todo o dia, elas esperam atrair público estimado em 3,5 milhões de pessoas -2 milhões esperadas no evento da CUT, na av. Paulista, e 1,5 milhão na festa da Força, na praça Campo de Bagatelle, na zona norte.
Além de um grande número de shows, as centrais programaram uma agenda de reivindicações.


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