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NOVO DEGRAU
País é promovido a grau de investimento
Agência Standard & Poor's dá ao Brasil classificação de destino seguro para investidores; Bolsa sobe 6,33%, maior alta desde 2002
Melhora da classificação vem antes das previsões; entrada de recursos de estrangeiros deve crescer e pressionar mais o câmbio
DENYSE GODOY
DA REPORTAGEM LOCAL
SÉRGIO DÁVILA
DE WASHINGTON
Bem antes do que previam o
governo e o mercado financeiro
-e após anos de espera-, o
Brasil conquistou o chamado
grau de investimento. Concedida ontem pela agência Standard & Poor's, a classificação é
uma espécie de "selo de qualidade": indica aos investidores
que o país é um destino seguro
para o dinheiro, pois teria condições de honrar suas dívidas.
O efeito mais direto da mudança é o provável aumento, a
partir de agora, do volume de
recursos estrangeiros que entram no país, tanto para aplicações financeiras como para o
setor produtivo. Alguns grandes fundos de pensão pelo
mundo, por exemplo, seguem
regra de só aplicar em países e
empresas com esse "selo".
"A elevação reflete uma combinação de fatores. Estamos
olhando para a contínua melhora dos indicadores econômicos do país e os sinais de
comprometimento do governo
em seguir com esse processo",
explicou à Folha Lisa Schineller, diretora de "ratings" soberanos da agência.
Segundo ela, embora o Brasil
continue exibindo alguns dos
problemas que até o momento
eram apontados como impeditivos para o grau de investimento, como os altos gastos do
governo, pesaram mais na decisão o fato de a situação da
economia estar progredindo e
as perspectivas futuras.
"O endividamento público
ainda é grande, maior do que o
de outros países que obtiveram
o grau de investimento antes,
mas o perfil do débito melhorou. A situação fiscal não é perfeita, porém existe um pragmatismo na sua administração",
afirmou Schineller. Contaram
também o forte crescimento do
PIB e a atuação do Banco Central para manter a inflação sob
controle, de acordo com ela.
Na escala da S&P, o país subiu um degrau. A nota da dívida
de longo prazo em moeda estrangeira, a mais significativa,
passou de "BB+" para "BBB-".
O grau de investimento tem
dez subdivisões, e, com a elevação, o Brasil alcançou o nível
mais baixo dentro dessa categoria, ao lado de nações como a
Índia e o Cazaquistão. No topo,
que é o patamar "AAA", estão
países como os EUA, o Reino
Unido e a Dinamarca, considerados de risco baixíssimo.
Dez empresas brasileiras
também tiveram sua nota elevada pela S&P. Algumas, como
o Itaú e o Bradesco, já tinham
grau de investimento. O Banco
do Brasil, o BNDES e a Eletrobrás passaram a detê-lo.
A expectativa do próprio governo e do mercado era a de
que a elevação do país viesse
apenas no segundo semestre
ou no começo de 2009.
A S&P é a maior agência de
classificação de risco, e espera-se que as outras duas grandes
do setor logo repitam a medida
tomada por ela. A Moody's Service ressaltou, ontem, que
acompanha a situação fiscal do
Brasil. Já a Fitch Ratings informou, por meio de comunicado
distribuído à imprensa, que
uma equipe de analistas está
no Brasil neste momento para
reavaliar a classificação do país.
A promoção do país ocorre
num momento em que a eficiência das agências é colocada
em xeque no mundo devido às
falhas na previsão da crise imobiliária e financeira nos EUA.
Reações
O governo comemorou a notícia. O presidente Luiz Inácio
Lula da Silva disse que o país vive um "momento mágico". O
ministro da Fazenda, Guido
Mantega, afirmou que o Brasil
entrou para o "clube" dos países "mais respeitados e sérios"
do mundo. O presidente do
Banco Central, Henrique Meirelles, ressaltou que a notícia
"deve aumentar o fluxo de investimentos estrangeiros diretos ao longo do tempo".
A reação do mercado foi de
euforia. A Bovespa avançou
6,3%, maior alta desde 2002, e
o dólar caiu 2,4% em relação ao
real, cotado a R$ 1,664.
A elevação foi recebida com
surpresa por economistas.
"Creio que a nota tenha sido
concedida agora, em meio à crise global, porque o país mostrou que a sua economia tem
condições de atravessar períodos difíceis sem entrar em recessão", comenta Marcela Meirelles, analista para a América
Latina da administradora de
recursos americana TCW.
Por outro lado, alguns economistas ressaltam que a nova
classificação pode trazer efeitos negativos. "Com a entrada
de mais capital e a oferta de crédito em expansão, a taxa de
câmbio, já apreciada, pode se
valorizar ainda mais", afirma
Ricardo Carneiro, professor da
Unicamp. A questão fiscal é vista como crucial para que o Brasil mantenha o novo "selo".
NA INTERNET
www.folha.com.br/081215
Veja a nota em que a Standard
& Poor's explica a elevação do
Brasil a grau de investimento
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