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NOVO DEGRAU / DILEMAS
Arrecadação garante aperto fiscal recorde
Economia do setor público subiu 58% em relação ao período entre janeiro e março de 2007 e atingiu R$ 43,032 bilhões
Solvência do setor público figura entre os principais indicadores acompanhados pelas agências de risco
para elevar notas de países
NEY HAYASHI DA CRUZ
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Um dos principais fundamentos analisados pelas agências de classificação de risco, o
aperto fiscal feito pelo setor público bateu recorde no primeiro trimestre deste ano, ajudando a reduzir o endividamento
para o nível mais baixo em quase dez anos.
Ao todo, o conjunto formado
por governo federal, Estados,
municípios e estatais economizou R$ 43,032 bilhões entre janeiro e março, 57,8% a mais do
que no mesmo período do ano
passado.
Só em março, o superávit primário ficou em R$ 15,403 bilhões. O resultado acumulado
nos três primeiros meses de
2008 é o mais elevado já registrado num começo de ano desde que o Banco Central iniciou
essa estatística, em 1991.
O chefe do Departamento
Econômico do BC, Altamir Lopes, atribui o superávit recorde
ao aumento na arrecadação.
"Com as receitas crescendo
nesse ritmo, e os gastos crescendo de forma mais moderada, chegou-se a esse resultado."
No primeiro trimestre, as receitas totais da União cresceram 17,4%, chegando a R$ 138,9
bilhões. As despesas, por sua
vez, somaram R$ 99,4 bilhões,
alta de 8,2%.
Para o economista-chefe do
BNP Paribas, Alexandre Lintz,
foi significativo a agência Standard & Poor's ter anunciado a
melhora na classificação de risco do Brasil poucas horas depois de divulgado o resultado
fiscal do setor público em março. "É um sinal a mais de confiança no comprometimento
do governo com sua política fiscal", afirma.
O economista diz que "o problema [da economia brasileira
nos últimos anos] sempre foi a
parte fiscal, já que as contas externas já melhoraram muito".
O superávit primário recorde e
a redução da relação entre dívida pública e PIB (Produto Interno Bruto) são fatores que,
segundo Lintz, ajudam a criar
um ambiente de maior confiança dos investidores na economia brasileira.
Com a ajuda do aperto fiscal
recorde do trimestre, o endividamento do governo encerrou
o mês de março em R$ 1,141 trilhão, valor equivalente a 41,2%
do PIB. Essa proporção atingiu
o nível mais baixo desde dezembro de 1998. Em fevereiro,
a relação estava em 42,2%.
Essa redução foi possível, em
parte, por causa do aperto fiscal. O superávit primário acumulado no primeiro trimestre
foi mais que suficiente para
compensar a carga de juros que
incidiu sobre a dívida pública,
que nesse período ficou em R$
39,998 bilhões.
Consequentemente, o resultado nominal registrado entre
janeiro e março (saldo que considera todas as receitas e despesas do setor público, incluindo
gastos com juros) foi positivo
em R$ 3,043 bilhões. Foi o primeiro superávit nominal registrado num primeiro trimestre
do ano de toda a série estatística do BC.
Além disso, a queda da dívida
também foi favorecida pela alta
de 3,9% do dólar ocorrida em
março. Devido ao grande volume de reservas em moeda estrangeira acumulada pelo BC
nos últimos anos, o setor público sempre sofre prejuízos
quando o real se valoriza, mas
obtém ganhos quando ocorre o
movimento inverso.
A desvalorização cambial
ocorrida em março reduziu a
dívida pública em R$ 9,6 bilhões. Para Carlos Thadeu de
Freitas, economista da CNC
(Confederação Nacional do Comércio) e ex-diretor do BC, o
impacto que o dólar tem sobre
as contas públicas é um dos
problemas que podem surgir
agora com a concessão do grau
de investimento para a economia brasileira.
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