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Pressão sobre o câmbio vai crescer, afirma economista
FÁTIMA FERNANDES
DA REPORTAGEM LOCAL
Ricardo Carneiro, professor do Instituto de Economia da Unicamp, diz que o fato de o Brasil passar a ser considerado grau de investimento pode trazer um dilema para a política econômica do governo.
"Com a entrada de mais capital no país e a oferta de crédito em expansão, a taxa de câmbio, já apreciada, pode se valorizar ainda mais. Para fazer face a essa situação, o governo pode ter de elevar mais a taxa de juros. Do ponto de vista de curto prazo, portanto, há uma série de problemas que o grau de investimento não resolve, só agrava a situação econômica do país."
O efeito bom, mas a longo prazo, na sua avaliação, é que a classificação do Brasil para grau de investimento pode diminuir a entrada de capital especulativo no país.
O México, segundo ele, já é considerado grau de investimento há muitos anos, "mas o crescimento da economia mexicana é medíocre". Leia a seguir os principais trechos da entrevista com Ricardo Carneiro.
FOLHA - O que muda para o Brasil passar a ser considerado grau de investimento?
RICARDO CARNEIRO - Do ponto de vista formal, significa que o país passa a ter mais acesso a investidores maiores, como os fundos de pensão, e menos acesso a investimentos especulativos. Mas isso, em tese. Na prática, esses fundos já estão investindo em países que não têm grau de investimento. A classificação de risco não muda a avaliação que o mercado já faz do país. O risco-país do Brasil já está em 200 pontos, que já é compatível com grau de investimento.
FOLHA - A entrada de mais capitais no país terá impacto na taxa de câmbio?
CARNEIRO - Se a atração de capitais financeiros para o país for boa, apesar de haver déficit de transações correntes, pode ter apreciação da taxa de câmbio, o que é ruim para o país.
FOLHA - E o investimento em produção tem mais chance de crescer?
CARNEIRO - Os investimentos em produção podem até subir, mas não vinculados à classificação do país. A classificação de risco influencia mais os investimentos financeiros, como em Bolsa. Os investimentos diretos produtivos têm outros determinantes, como o desempenho da economia.
FOLHA - E pode ter impacto na taxa de juros?
CARNEIRO - Não necessariamente, porque o parâmetro da taxa de juros é o risco-país determinado pelo mercado, que já está baixo. A longo prazo dá mais condição de fixar uma taxa de juros mais baixa e obter capital de melhor qualidade. Entendo que a classificação de risco sancionou um movimento do mercado, de risco baixo.
FOLHA - A oferta de crédito pode mudar?
CARNEIRO - Essa classificação do país para grau de investimento pode favorecer a manutenção da expansão do crédito porque dá uma certa segurança de que não vai inverter bruscamente variáveis importantes.
FOLHA - Qual o efeito real dessa classificação?
CARNEIRO - Pode ser muito bom para ganhos financeiros. O México, por exemplo, é considerado grau de investimento há vários anos, mas tem desempenho pior do que o do Brasil. Eles têm mais acesso a capitais de melhor qualidade, só que a dinâmica de crescimento do país continua medíocre. A média histórica de crescimento do México é de 2,5% a 3% ao ano nos últimos dez anos.
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