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Gasolina aumenta 10% nas refinarias
Governo também eleva preço do diesel, em 15%, mas anuncia redução de tributos para tentar evitar impacto maior na inflação
Segundo Mantega, não há
motivo para reajustes da
gasolina para o consumidor
devido à redução da Cide;
distribuidor espera alta de 1%
VALDO CRUZ
JULIANA ROCHA
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Depois de mais de dois anos
congelados, o governo Lula decidiu aumentar os preços da gasolina em 10% e do diesel em
15% nas refinarias, mas anunciou simultaneamente uma redução de tributos para tentar
evitar um impacto elevado nos
índices de inflação.
Os novos preços valem a partir de amanhã e foram justificados pela Petrobras como resposta à alta no valor do barril de
petróleo, que ontem fechou a
US$ 113,46 em Nova York.
Ao divulgar a decisão, o ministro Guido Mantega (Fazenda) disse que não há motivos
para reajuste da gasolina para o
consumidor devido à redução
da Cide-Combustíveis (Contribuição de Intervenção no Domínio Econômico). A tendência pelo reajuste havia sido adiantada pela Folha na semana passada.
Os distribuidores de combustível, porém, prevêem alta
de 1% no preço da gasolina e de
5% para o diesel.
É o primeiro aumento da gasolina em dois anos e sete meses. O último ocorreu em setembro de 2005, quando o barril estava cotado a US$ 65 e a
gasolina subiu 10%, e o diesel,
12%. O governo vinha segurando o aumento por conta da inflação, que levou o BC a elevar
os juros em abril.
A intervenção do Planalto no
tema ficou evidente na terça,
quando Lula discutiu o reajuste dos combustíveis numa reunião que durou três horas com
os ministros Dilma Rousseff
(Casa Civil), Edison Lobão
(Minas e Energia), Mantega e o
presidente da Petrobras, José
Sergio Gabrielli.
Na reunião, Gabrielli disse
que a empresa começaria a enfrentar dificuldades financeiras caso o combustível não fosse reajustado e defendia uma
alta superior a 10%. Já Mantega, preocupado com o impacto
na inflação, acenava com reajuste menor, de no máximo 5%.
Diante do impasse, Lula determinou que Mantega e Gabrielli se reunissem no dia seguinte e encontrassem uma solução. A saída, acertada ontem,
foi dar um reajuste mais próximo do que a Petrobras pleiteava e cortar a Cide para evitar
reflexos acima do desejado na
inflação. Segundo definição de
um assessor do presidente,
Mantega foi "obrigado a se curvar diante das explicações técnicas de Gabrielli".
Ao divulgar a decisão, Mantega informou que o governo
estava reduzindo a Cide sobre a
gasolina de R$ 0,28 para R$
0,18 por litro e, no caso do diesel, de R$ 0,07 para R$ 0,03 por
litro. Segundo cálculos da Fazenda, o impacto final no IPCA,
índice da meta de inflação, será
de 0,015 ponto percentual. "Esse aumento da inflação é praticamente irrelevante", afirmou.
"Não haverá aumento da gasolina na bomba porque vamos
reduzir a Cide, tributo que não
tem finalidade arrecadatória, e
sim regulatória." No caso do
diesel, que na refinaria sobe
15%, o governo espera que a redução da contribuição faça o
preço final para o consumidor
subir menos, 8,8%.
O preço dos combustíveis é
livre na bomba, mas o governo
aposta na concorrência para
evitar reajustes. Destaca que as
distribuidoras e os postos vão
pagar pela gasolina preço idêntico ao atual e praticamente o
mesmo pelo diesel por conta da
redução de tributo.
O corte na Cide-Combustíveis vai gerar uma perda de arrecadação entre R$ 2,5 bilhões
e R$ 3 bilhões em um ano.
Mantega disse esperar que o
aumento do lucro da Petrobras, com a elevação dos preços, compense essa queda.
A receita com a Cide-Combustíveis é destinada para investimentos em infra-estrutura, mas o Tesouro costuma reter boa parte do tributo para
gerar superávit primário. Já os
dividendos da Petrobras são direcionados para o Tesouro.
Segundo Lobão, Gabrielli reclamou que o preço internacional do petróleo subiu 100% em
dois anos, período em que a estatal manteve o valor dos combustíveis congelado. "Os custos
da Petrobras se elevaram na
mesma proporção. Eles alegam
que não estão resistindo por
mais tempo sem esse reajuste."
Antes do anúncio oficial do
aumento, Lula tentou vender a
impressão de que não tinha nada a ver com a decisão. Primeiro, cobrou publicamente uma
resposta de Mantega sobre o
reajuste dos combustíveis para
ontem. "Eu estou dizendo que
o ministro da Fazenda está
reunido, fazendo um estudo de
custos. Se ele chegar à conclusão de que é necessário aumentar, vai comunicar que vai aumentar. Eu acho que isso tem
que ser resolvido hoje, não pode passar de hoje, nós não podemos ficar a vida inteira acordando com a especulação, porque é isso que vai acontecer."
Colaborou LETÍCIA SANDER ,
da Sucursal de Brasília
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