São Paulo, sábado, 01 de maio de 2010

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ANÁLISE

Berlim importa mais que Atenas ou Bruxelas

LUCIANA COELHO
DE GENEBRA

Sejam 45 bilhões, sejam 120 bilhões, a salada grega que virou a crise da dívida europeia é fartamente regada a cerveja. Para estancar o desvario do mercado -que amplifica a chance real de calote-, o que acontece em Berlim tem mais importância do que o que acontece em Atenas ou Bruxelas.
Paralisados diante da forte oposição popular doméstica a um socorro à Grécia e a uma agressiva campanha de mídia, os legisladores alemães estão sentados sobre o pacote grego. Sem seu aval, não sai a ajuda alemã -que equivale, no plano original, a 30% da oferta de 30 bilhões dos países da zona do euro. Sem Alemanha, não há ajuda da zona do euro.
E, sem ajuda da zona do euro, a UE não quer o Fundo Monetário Internacional -talvez seja tarde demais para o bloco temer sair da história parecendo incompetente, mas a condição primeira para Atenas recorrer ao fundo é que 2 em cada 3 pingados em seu prato venham de cofres europeus.
Isso seja qual for o tamanho do pacote. Segundo os deputados que se reuniram na quarta com o presidente do Banco Central Europeu, Jean-Claude Trichet, e com o diretor-gerente do FMI, Dominique Strauss-Kahn, se o socorro total for a 120 bilhões, 80 bilhões viriam da UE, e a Alemanha, maior economia do bloco, dobraria seu aporte.

Promessas
Mas como dobrar ou triplicar o valor do pacote se em primeiro lugar não há pacote aprovado? Há promessas, sim. Da chanceler Angela Merkel, que vem tendo seu capital político aos poucos dilapidado. Seus ex-parceiros de coalizão viraram oposição, e agora se multiplicam os desacordos até mesmo dentro da atual coalizão governista (seu número 2, Guido Westerwelle, opõe-se vocalmente ao socorro).
Não resolve, tampouco, Bruxelas prometer rapidez. Mesmo que os detalhes do acordo sejam lapidados neste fim de semana, os parlamentares alemães já disseram que só devem levar o tema a análise perto do dia 10. E continuam exigindo de Atenas um arrocho maior e maior.
É possível, assim, que, a cinco dias de a Grécia prestar contas à UE sobre o andamento de seu plano fiscal e com 20 bilhões em títulos vencendo, o pacote ainda esteja flutuando no Bundestag (Parlamento).
Azar dos bancos do país, que têm em seus livros praticamente um quinto da dívida grega. Em situação pior do que a deles, só os franceses, credores de quase um terço do que deve Atenas. Paris tem sido a voz mais alta por uma ação rápida.


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