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ANÁLISE
Berlim importa mais que Atenas ou Bruxelas
LUCIANA COELHO
DE GENEBRA
Sejam 45 bilhões, sejam
120 bilhões, a salada grega que
virou a crise da dívida europeia
é fartamente regada a cerveja.
Para estancar o desvario do
mercado -que amplifica a
chance real de calote-, o que
acontece em Berlim tem mais
importância do que o que acontece em Atenas ou Bruxelas.
Paralisados diante da forte
oposição popular doméstica a
um socorro à Grécia e a uma
agressiva campanha de mídia,
os legisladores alemães estão
sentados sobre o pacote grego.
Sem seu aval, não sai a ajuda
alemã -que equivale, no plano
original, a 30% da oferta de
30 bilhões dos países da zona
do euro. Sem Alemanha, não há
ajuda da zona do euro.
E, sem ajuda da zona do euro,
a UE não quer o Fundo Monetário Internacional -talvez seja tarde demais para o bloco temer sair da história parecendo
incompetente, mas a condição
primeira para Atenas recorrer
ao fundo é que 2 em cada 3
pingados em seu prato venham
de cofres europeus.
Isso seja qual for o tamanho
do pacote. Segundo os deputados que se reuniram na quarta
com o presidente do Banco
Central Europeu, Jean-Claude
Trichet, e com o diretor-gerente do FMI, Dominique Strauss-Kahn, se o socorro total for a
120 bilhões, 80 bilhões viriam da UE, e a Alemanha,
maior economia do bloco, dobraria seu aporte.
Promessas
Mas como dobrar ou triplicar
o valor do pacote se em primeiro lugar não há pacote aprovado? Há promessas, sim. Da
chanceler Angela Merkel, que
vem tendo seu capital político
aos poucos dilapidado. Seus ex-parceiros de coalizão viraram
oposição, e agora se multiplicam os desacordos até mesmo
dentro da atual coalizão governista (seu número 2, Guido
Westerwelle, opõe-se vocalmente ao socorro).
Não resolve, tampouco, Bruxelas prometer rapidez. Mesmo que os detalhes do acordo
sejam lapidados neste fim de
semana, os parlamentares alemães já disseram que só devem
levar o tema a análise perto do
dia 10. E continuam exigindo
de Atenas um arrocho maior e
maior.
É possível, assim, que, a cinco
dias de a Grécia prestar contas
à UE sobre o andamento de seu
plano fiscal e com 20 bilhões
em títulos vencendo, o pacote
ainda esteja flutuando no Bundestag (Parlamento).
Azar dos bancos do país, que
têm em seus livros praticamente um quinto da dívida grega. Em situação pior do que a
deles, só os franceses, credores
de quase um terço do que deve
Atenas. Paris tem sido a voz
mais alta por uma ação rápida.
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