São Paulo, terça-feira, 01 de junho de 2004

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COMÉRCIO EXTERIOR

Em menos de 30 dias, quatro navios não descarregam grãos por conter sementes com fungicida

China recusa novo carregamento de soja

DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

A China comunicou ontem ao governo brasileiro que mais um navio foi impedido de descarregar soja no país, por conter sementes tratadas com fungicidas, que são impróprias para o consumo humano. Em menos de 30 dias, esse foi o quarto navio com soja brasileira que as autoridades chinesas impedem de entrar no país pelo mesmo motivo.
O novo caso deixou preocupado o secretário de Defesa Agropecuária, Maçao Tadano, pois o navio, ao contrário dos demais, saiu do porto de Santos. Os outros deixaram o país pelo porto de Rio Grande (RS).
"Claro que o alastramento sinaliza escape na classificação", disse o secretário, ao comentar que carregamentos contaminados com sementes tratadas estão ocorrendo em mais de um ponto do país.
As autoridades do maior comprador de soja do Brasil já proibiram sete empresas de entrarem com soja brasileira na China: Trevisan, Noble Grains, Cargill, ADM, Bianchini, Louis Dreyfus e Libero Trading.
Segundo Tadano, o governo deverá editar, até o final da semana, uma instrução normativa que estabelecerá padrões mínimos de qualidade para a venda de soja ao exterior. O objetivo é evitar novos constrangimentos com a China.
Ele não descarta a hipótese de vendedores brasileiros estarem misturando sementes aos grãos intencionalmente. "Se for um volume significativo, é intencional. É alguém que quer colocar e comercializar sementes", disse ele, que ainda não foi informado da quantidade de sementes encontrada nos carregamentos.
No momento, um grupo de trabalho criado na sexta-feira discute quais são os índices de impurezas e de mistura de sementes que devem constar da legislação brasileira. A China já avisou às autoridades brasileiras que só aceitará carregamentos que não contenham nenhum vestígio de sementes tratadas com fungicida.
"A China tem uma posição, até agora, bastante inflexível em relação à tolerância zero", afirmou o ministro da Agricultura, Roberto Rodrigues, em entrevista coletiva, concedida por telefone, do Japão.
Rodrigues disse que pediu um levantamento de quais são as regras internacionais sobre a qualidade da soja. "Se existem regras com outro grau de tolerância, é possível voltar a discutir o assunto [com os chineses]." Ele, no entanto, afirmou que o comprador tem todo o direito de exigir o nível de qualidade da soja que deseja.
Segundo ele, desde a decisão da China de não receber o produto brasileiro misturado com sementes, o setor de soja enfrenta prejuízos. A estimativa do governo é de perdas de cerca de US$ 3 bilhões neste ano devido aos grãos rejeitados e à queda do preço da soja no mercado internacional.
Questionado se a posição chinesa não era uma estratégia para diminuir o preço da soja, Rodrigues disse que não faria nenhum comentário. Afirmou, no entanto, que, "se existe uma manobra diversionista, com o objetivo de baixar os preços internacionais, a única coisa inaceitável é qualquer rompimento de contrato".
Ou seja, o governo está disposto a adequar a soja brasileira às exigências chinesas, mas não aceita perder o acesso ao mercado da China.


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