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CRIAÇÃO & CONSUMO
Futebol arte
WASHINGTON OLIVETTO
Coisas absurdas e maravilhosas aconteceram nos últimos tempos no país do futebol.
A parte do absurdo ficou por
conta de Zagallo, que não
convocou Muller e Mauro
Galvão, dos dirigentes cariocas, que acabaram com o
campeonato do Rio, e de João
Havelange, que proibiu de
maneira sinistra o Juca Kfouri
de exercer o seu sagrado direito de trabalhar na cobertura
da Copa (depois, como o
mundo todo sabe, ele voltou
atrás).
A parte do maravilhoso fica
por conta de gente com sensibilidade bem diferente da de
Zagallo, dos dirigentes cariocas e do Havelange, particularmente os cineastas Ugo
Giorgetti, João Moreira Salles
e Arthur Fontes, que aproveitaram este ano de Copa para
produzir cinema da melhor
qualidade.
O filme "Boleiros", de Giorgetti, em exibição nos cinemas, é narrado em "paulistês"
e "corintianês", duas adoráveis características da personalidade do diretor, e reforça,
com delicadeza e sensibilidade, um dos lados mais bonitos
do brasileiro, que é a capacidade de rir de si próprio.
Já a série "Futebol", com
seus três programas dirigidos
pelos botafoguenses João Moreira Salles e Arthur Fontes
para o GNT, mistura sociologia, poesia e drama na medida certa, documentando de
maneira definitiva a carreira
de um jogador de futebol do
início até o fim.
Não vou continuar comentando sobre a criação, produção e direção desses dois trabalhos, até porque não sou
crítico de cinema, não tenho
capacidade para isso e essa
não é a função desta coluna.
Mas, voltando a minha
praia, tanto "Boleiros" quanto
"Futebol" demonstram claramente aos anunciantes que
vale a pena investir em cinema, e os patrocinadores desses
dois projetos agora estão recebendo o merecido retorno institucional e financeiro.
Aliás, o ano da Copa vem
movimentando um dinheirão
na comunicação geral, particularmente na publicidade,
tradicional beneficiária do
evento, onde bons trabalhos
têm sido feitos -casos de
Pepsi/Denilson, Nike/Aeroporto e Rider/Roberto Carlos,
só para citar alguns-, e, também, na indústria fonográfica, nas artes plásticas e na
literatura -tem música nova
sobre futebol, tem pintura nova sobre futebol, tem livro novo sobre futebol. Enfim, muita
coisa boa tem sido produzida.
No próprio cinema, além de
"Boleiros" e "Futebol", aguarda-se o lançamento de "Uma
História de Futebol", dirigido
por Paulo Machline, sobre a
infância de Pelé, que eu, particularmente, estou curiosíssimo para ver.
Tudo isso quer dizer que pelo menos a copa da comunicação e da cultura a gente já
ganhou -e com arte.
Agora falta a do futebol,
mas essa vai depender de Zagallo e de sua equipe.
Na equipe eu boto fé.
Washington Olivetto é presidente e diretor de Criação da W/Brasil.
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