São Paulo, segunda, 1 de junho de 1998

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CRIAÇÃO & CONSUMO
Futebol arte

WASHINGTON OLIVETTO
Coisas absurdas e maravilhosas aconteceram nos últimos tempos no país do futebol.
A parte do absurdo ficou por conta de Zagallo, que não convocou Muller e Mauro Galvão, dos dirigentes cariocas, que acabaram com o campeonato do Rio, e de João Havelange, que proibiu de maneira sinistra o Juca Kfouri de exercer o seu sagrado direito de trabalhar na cobertura da Copa (depois, como o mundo todo sabe, ele voltou atrás).
A parte do maravilhoso fica por conta de gente com sensibilidade bem diferente da de Zagallo, dos dirigentes cariocas e do Havelange, particularmente os cineastas Ugo Giorgetti, João Moreira Salles e Arthur Fontes, que aproveitaram este ano de Copa para produzir cinema da melhor qualidade.
O filme "Boleiros", de Giorgetti, em exibição nos cinemas, é narrado em "paulistês" e "corintianês", duas adoráveis características da personalidade do diretor, e reforça, com delicadeza e sensibilidade, um dos lados mais bonitos do brasileiro, que é a capacidade de rir de si próprio.
Já a série "Futebol", com seus três programas dirigidos pelos botafoguenses João Moreira Salles e Arthur Fontes para o GNT, mistura sociologia, poesia e drama na medida certa, documentando de maneira definitiva a carreira de um jogador de futebol do início até o fim.
Não vou continuar comentando sobre a criação, produção e direção desses dois trabalhos, até porque não sou crítico de cinema, não tenho capacidade para isso e essa não é a função desta coluna.
Mas, voltando a minha praia, tanto "Boleiros" quanto "Futebol" demonstram claramente aos anunciantes que vale a pena investir em cinema, e os patrocinadores desses dois projetos agora estão recebendo o merecido retorno institucional e financeiro.
Aliás, o ano da Copa vem movimentando um dinheirão na comunicação geral, particularmente na publicidade, tradicional beneficiária do evento, onde bons trabalhos têm sido feitos -casos de Pepsi/Denilson, Nike/Aeroporto e Rider/Roberto Carlos, só para citar alguns-, e, também, na indústria fonográfica, nas artes plásticas e na literatura -tem música nova sobre futebol, tem pintura nova sobre futebol, tem livro novo sobre futebol. Enfim, muita coisa boa tem sido produzida.
No próprio cinema, além de "Boleiros" e "Futebol", aguarda-se o lançamento de "Uma História de Futebol", dirigido por Paulo Machline, sobre a infância de Pelé, que eu, particularmente, estou curiosíssimo para ver.
Tudo isso quer dizer que pelo menos a copa da comunicação e da cultura a gente já ganhou -e com arte.
Agora falta a do futebol, mas essa vai depender de Zagallo e de sua equipe.
Na equipe eu boto fé.


Washington Olivetto é presidente e diretor de Criação da W/Brasil.



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