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São Paulo, terça-feira, 01 de julho de 2003

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Belluzzo vê estagnação, e Setubal, expansão

Carla Romero/"Valor"
O economista Luiz Gonzaga Belluzzo durante evento ontem


JOSÉ ALAN DIAS
DA REPORTAGEM LOCAL

A economia deve ficar estagnada neste ano, com um crescimento do PIB (Produto Interno Bruto) entre 0% e 1%. A previsão sombria foi feita ontem pelo economista Luiz Gonzaga Belluzzo, da Unicamp, depois de o BC anunciar que reviu sua estimativa de expansão de 2,2% para 1,5%. Em 2002, o PIB cresceu 1,52%.
"Estamos em uma situação delicada. Se mantida essa trajetória, corremos o risco de terminar o ano em uma recessão muito grave", disse Belluzzo, durante reunião do Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social.
No mesmo encontro, o presidente da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), Horacio Lafer Piva, disse que o "espetáculo do crescimento", previsto pelo governo, não deve ocorrer no segundo semestre.
O conselho é formado por representantes do governo (o ministro Tarso Genro), do setor produtivo, banqueiros, economistas e entidades dos trabalhadores.
De acordo com Belluzzo, as premissas para o crescimento ou não da economia neste ano ""já estão colocadas" -leia-se, as variáveis macroeconômicas, incluídas taxas de juros e o fator câmbio. A partir desse quadro, diz ele, ""só haverá algum sinal de recuperação no final do ano". ""Desde que consideremos uma redução dos juros e que essa redução signifique maior flexibilidade à economia, porque o governo tomará menos recursos no mercado para lidar com a dívida", completou.
Para lastrear sua previsão de crescimento pífio, Belluzzo mencionou que, dos setores importantes da economia, o único com sinais satisfatórios é a agricultura. "Mas ele tem peso menor e restrito", argumentou. ""A indústria, que tem peso importante para renda e emprego, principalmente no Sudeste e no Sul, acumula resultados muito ruins", afirmou.
Em sua apresentação na reunião, o economista sustentou que um dos erros do governo Lula, "depois de uma admirável transição", com a manutenção da política de superávit primário, fora permitir que a taxa de câmbio se apreciasse. Segundo Belluzzo, a taxa de câmbio real hoje está nos mesmos níveis de final de 1998, ou seja, no período pré-desvalorização. Para o economista, o câmbio nominal deveria estar em R$ 3,50 (a moeda americana tem oscilado em cerca de R$ 2,84), sob o risco de comprometer as exportações -e o frágil ajuste das contas externas (diferença entre o que entra e sai de recursos no país).
"Há um constrangimento muito grande para a economia no segundo semestre, mesmo com a queda dos juros", disse Piva. Por conta disso, o "espetáculo de crescimento" que prevê o governo não deve acontecer, disse.
João Felício, secretário-geral da CUT (Central Única dos Trabalhadores), defendeu que o Estado assuma o papel de estimulador da economia e não se limitar ao de regulador -em referência a uma maior propensão a gastos e investimentos de parte do governo. "Pensar que o mercado por si só resolve tudo é errado. A economia está parada. Vamos ter um segundo semestre muito difícil."
Roberto Setubal, presidente do banco Itaú, considera que a expansão do PIB neste ano vá ser maior que a de 2002. Segundo ele, um dos fatores de aquecimento será a queda dos juros nominais. Estes, prevê Setubal, fecharão o ano em 20% -estão em 26%.
O mesmo não ocorrerá com o "spread" (diferença entre o custo de captação do dinheiro e o que é cobrado do tomador) bancário. O banqueiro avalia que a única ação para reduzir o "spread" permanece em aberto: discussão e aprovação da Lei de Falências (com maiores garantias aos bancos). "Não podemos deixar de observar que, embora todo mundo deseje a queda do "spread", neste ano já tivemos medidas no sentido contrário, como o aumento do compulsório e de impostos de intermediação financeira", disse.


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