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MAIS APERTO
Instituição internacional afirma que América Latina ainda não entrou em "círculo virtuoso" da confiabilidade
BIS alerta que ajuste fiscal tem que seguir
MARIA LUIZA ABBOTT
DE LONDRES
O ano passado foi o mais difícil
para a América Latina desde a crise da dívida dos anos 1980, segundo o Banco de Compensações Internacionais (BIS, na sigla em inglês), que prevê "modesta recuperação" no crescimento da região
neste ano. Em seu relatório anual,
o BIS diz que a questão principal
para muitos países latino-americanos, inclusive o Brasil, é se o
ajuste fiscal em andamento vai ser
"suficiente para assegurar o retorno da confiança".
Segundo economistas do banco
ouvidos pela Folha, para garantir
isso, o Brasil deve continuar com
a restrição fiscal, podendo vir a se
beneficiar da entrada em um círculo virtuoso, com mais investimentos, mais crescimento, juros
menores e menor dívida.
O relatório chama a atenção para a vulnerabilidade dos países
que têm elevada dívida externa
em comparação com as suas exportações. No Brasil, a dívida externa em 2002 representava 395%
das exportações, uma das proporções mais altas entre os mercados
emergentes.
Dos 14 examinados pelo BIS, só
na Argentina essa relação supera
a do Brasil. "Uma economia com
a conta de capital aberta é, se tudo
o mais for igual, mais vulnerável
quanto maior for a proporção de
sua dívida denominada em moeda estrangeira e menor a sua receita de exportações", diz o BIS.
Mesmo se boa parte da dívida
externa for privada, segundo o
banco, o seu tamanho é importante para a sustentabilidade da
dívida pública, porque as dificuldades com o serviço desse débito
podem afetar a taxa de câmbio e
os custos de financiamento do governo. A percepção dessa sustentabilidade pelos mercados é essencial, como mostrou o aumento
da taxa de risco do Brasil no ano
passado.
"Preocupação com a capacidade ou a vontade de um país de servir sua dívida pode aumentar os
juros ou depreciar a taxa de câmbio em tal medida que a dívida
pode se tornar insustentável",
avalia o banco, que diz ser esta a
razão por que o Brasil e outros
países da América Latina adotaram medidas para tranquilizar os
investidores sobre seu compromisso com a consolidação fiscal.
A queda nos "spreads" (taxas de
risco) cobrados dos papéis da dívida externa sugere "um grau de
confiança" nas atuais políticas em
alguns países, inclusive o Brasil,
segundo economistas do banco
ouvidos pela Folha.
Mas o relatório diz que a avaliação desses ajustes precisa ser feita
levando em conta fatores como a
inflação, a qualidade das receitas e
a parcela de despesas que pode ser
cortada. No caso do Brasil, por
exemplo, a inflação ajudou a melhorar o superávit primário (receitas menos despesas para pagar
juros), segundo o BIS, pois as receitas cresceram com o aumento
nominal dos preços, mas as despesas não estão automaticamente
indexadas. No entanto, se a inflação alta persistir, poderia haver a
volta da indexação de gastos.
O BIS cita também o fato de que
parte das receitas vem de impostos que provocam distorções e
podem prejudicar o crescimento
futuro da economia. Entre os
exemplos, o relatório inclui a
CPMF e o sistema de tributação
indireta em cascata no Brasil. O
terceiro fator é a dificuldade em
cortar despesas em países com
despesas rígidas, e o banco cita o
Brasil, em que "os juros representam 18% do total das despesas".
Crédito
O crescimento da economia no
Brasil - e em outros da América
Latina- sofre com a baixa expansão do crédito. Segundo o BIS,
a taxa real de juros (descontada a
inflação) vem caindo no Brasil,
mas ainda estava acima de 8% ao
ano em abril de 2003. Mesmo assim, o crescimento do crédito estava em torno de 10% no país,
abaixo da taxa de inflação.
O relatório baseia suas previsões para a economia brasileira
neste ano nas estimativas de consenso no mercado: crescimento
de 1,9%, inflação de 12,2% e déficit
em conta corrente de 0,8% do PIB
(Produto Interno Bruto). A desaceleração da economia no ano
passado, na avaliação do banco,
foi acentuada pela depreciação da
taxa nominal de câmbio, que pode funcionar como um freio para
a economia de países como os latino-americanos no curto prazo.
A queda do valor da moeda em
relação a outras, como o dólar,
aumenta o peso da dívida sobre os
residentes no país que tomam
emprestado no exterior, além de
reduzir o poder de compra. Essas
forças agem em direção oposta
aos efeitos tradicionais de substituição comercial. A médio prazo,
a depreciação da moeda pode estimular a economia, mas "só se a
taxa real (descontada a inflação)
de câmbio também se deprecia".
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