São Paulo, quinta-feira, 01 de julho de 2004

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MERCADO GLOBAL

Fed eleva taxa para 1,25% e reafirma que processo de alta será "gradual'; para analistas, Brasil não será atingido

Juros nos EUA sobem pela 1ª vez em 4 anos

FERNANDO CANZIAN
DE WASHINGTON

Com um aumento de 0,25 ponto percentual, o Fed (o banco central norte-americano) deu início ontem ao que deve ser um longo processo de elevação das taxas de juro nos EUA.
O aumento de ontem foi o primeiro em quatro anos. A taxa anterior estava em 1% ao ano, o menor nível em 46 anos. A decisão de elevá-la para 1,25% foi unânime entre os membros do Fomc (Comitê Federal de Mercado Aberto).
A pequena elevação correspondeu às expectativas do mercado, que reagiu positivamente ao anúncio e às explicações dadas pelo Fed sobre os motivos da medida. Praticamente todos os papéis de emergentes, incluindo os do Brasil, fecharam em alta. O risco-país brasileiro fechou em queda de 0,76%, aos 650 pontos.
Também foi dissipada, ao menos por enquanto, a preocupação do mercado de que o Fed pudesse agir com mais agressividade na elevação dos juros para estancar a ameaça de inflação nos EUA.
Segundo analistas de bancos e institutos ouvidos pela Folha, o 0,25 ponto de alta é "boa notícia" para o Brasil, e o país deverá ser beneficiado com a opção pelo "gradualismo" do Fed na condução da política monetária da maior economia do mundo.
Em seu comunicado, o Fed afirmou que, embora os atuais índices ainda mostrem uma inflação "de certo modo elevada (...), uma parcela do aumento nos últimos meses parece ser conseqüência de fatores transitórios".
O Fed reafirmou a opção pelo "gradualismo" na elevação dos juros, mas deixou claro que poderá mudar de curso caso a inflação ganhe força. "Se necessário, o comitê responderá às mudanças no cenário econômico para cumprir sua obrigação de manter a estabilidade nos preços", disse o Fed.
O comunicado do banco ressaltou também que permanecem "balanceados" os riscos e os dados positivos sobre a atual retomada da economia e da inflação.
O aumento de ontem pôs fim a um ciclo iniciado em 2001 que visou justamente recolocar a economia americana na rota do crescimento. Do início de 2001 a junho do ano passado, a taxa foi reduzida de 6,5% ao ano para 1% -algo não visto desde 1958.
Com a economia em ritmo suficiente para gerar 1,2 milhão de empregos neste ano, é esperado que o Fed siga promovendo, ao longo de 2004 e 2005, pequenos aumentos na taxa até uma ""faixa de estabilização", projetada entre 3% e 4% ao ano.

Impacto sobre o Brasil
"Foi uma boa, excelente notícia para o Brasil. Não devemos ter um processo de elevação abrupta dos juros americanos, e um país muito disciplinado fiscalmente, como vem se mostrando o Brasil, não deve ser afetado pelo processo", disse Walter Molano, diretor da BCP Securities.
Molano afirmou estar "otimista" com o país. "Apesar de outros bancos e corretoras terem diminuído o peso de seus investimentos no Brasil, nós mantivemos nossa participação."
Felipe Illanes, diretor da corretora Merrill Lynch, disse que a decisão pelo gradualismo e os comentários do Fed sobre os "fatores transitórios" que vinham pressionando a inflação criaram "um contexto quase ideal para o mercado". "A transição para taxas de juros mais normais, que já era esperada, terá uma repercussão negativa menor para os mercados. Isso tende a aumentar o apetite pelo risco e beneficiar, entre outros, o Brasil", disse.
Illanes diz, no entanto, que essa é uma "dinâmica temporária, e não estrutural". "O mercado vai agora procurar um novo foco de atenção. Daqui em diante, cada número será analisado para ver se é validado ou se se contradiz o discurso do Fed."
Ramón Aracena, responsável por análises da economia brasileira no Instituto Internacional de Finanças, que reúne os maiores bancos do mundo, afirma que o Brasil, "por causa de sua boa política econômica, tem todas as condições de conviver" com o novo ciclo de alta dos juros. "O importante é que os EUA continuem crescendo, beneficiando o Brasil."
Para Sherman Katz, analista do Centro Internacional de Estudos Estratégicos, "o Fed deu o que o mercado esperava. E isso é boa notícia para todos".


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