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MERCADO GLOBAL
Fed eleva taxa para 1,25% e reafirma que processo de alta será "gradual'; para analistas, Brasil não será atingido
Juros nos EUA sobem pela 1ª vez em 4 anos
FERNANDO CANZIAN
DE WASHINGTON
Com um aumento de 0,25 ponto
percentual, o Fed (o banco central
norte-americano) deu início ontem ao que deve ser um longo
processo de elevação das taxas de
juro nos EUA.
O aumento de ontem foi o primeiro em quatro anos. A taxa anterior estava em 1% ao ano, o menor nível em 46 anos. A decisão de
elevá-la para 1,25% foi unânime
entre os membros do Fomc (Comitê Federal de Mercado Aberto).
A pequena elevação correspondeu às expectativas do mercado,
que reagiu positivamente ao
anúncio e às explicações dadas
pelo Fed sobre os motivos da medida. Praticamente todos os papéis de emergentes, incluindo os
do Brasil, fecharam em alta. O risco-país brasileiro fechou em queda de 0,76%, aos 650 pontos.
Também foi dissipada, ao menos por enquanto, a preocupação
do mercado de que o Fed pudesse
agir com mais agressividade na
elevação dos juros para estancar a
ameaça de inflação nos EUA.
Segundo analistas de bancos e
institutos ouvidos pela Folha, o
0,25 ponto de alta é "boa notícia"
para o Brasil, e o país deverá ser
beneficiado com a opção pelo
"gradualismo" do Fed na condução da política monetária da
maior economia do mundo.
Em seu comunicado, o Fed afirmou que, embora os atuais índices ainda mostrem uma inflação
"de certo modo elevada (...), uma
parcela do aumento nos últimos
meses parece ser conseqüência de
fatores transitórios".
O Fed reafirmou a opção pelo
"gradualismo" na elevação dos
juros, mas deixou claro que poderá mudar de curso caso a inflação
ganhe força. "Se necessário, o comitê responderá às mudanças no
cenário econômico para cumprir
sua obrigação de manter a estabilidade nos preços", disse o Fed.
O comunicado do banco ressaltou também que permanecem
"balanceados" os riscos e os dados positivos sobre a atual retomada da economia e da inflação.
O aumento de ontem pôs fim a
um ciclo iniciado em 2001 que visou justamente recolocar a economia americana na rota do crescimento. Do início de 2001 a junho do ano passado, a taxa foi reduzida de 6,5% ao ano para 1%
-algo não visto desde 1958.
Com a economia em ritmo suficiente para gerar 1,2 milhão de
empregos neste ano, é esperado
que o Fed siga promovendo, ao
longo de 2004 e 2005, pequenos
aumentos na taxa até uma ""faixa
de estabilização", projetada entre
3% e 4% ao ano.
Impacto sobre o Brasil
"Foi uma boa, excelente notícia
para o Brasil. Não devemos ter
um processo de elevação abrupta
dos juros americanos, e um país
muito disciplinado fiscalmente,
como vem se mostrando o Brasil,
não deve ser afetado pelo processo", disse Walter Molano, diretor
da BCP Securities.
Molano afirmou estar "otimista" com o país. "Apesar de outros
bancos e corretoras terem diminuído o peso de seus investimentos no Brasil, nós mantivemos
nossa participação."
Felipe Illanes, diretor da corretora Merrill Lynch, disse que a decisão pelo gradualismo e os comentários do Fed sobre os "fatores transitórios" que vinham
pressionando a inflação criaram
"um contexto quase ideal para o
mercado". "A transição para taxas de juros mais normais, que já
era esperada, terá uma repercussão negativa menor para os mercados. Isso tende a aumentar o
apetite pelo risco e beneficiar, entre outros, o Brasil", disse.
Illanes diz, no entanto, que essa
é uma "dinâmica temporária, e
não estrutural". "O mercado vai
agora procurar um novo foco de
atenção. Daqui em diante, cada
número será analisado para ver se
é validado ou se se contradiz o
discurso do Fed."
Ramón Aracena, responsável
por análises da economia brasileira no Instituto Internacional de
Finanças, que reúne os maiores
bancos do mundo, afirma que o
Brasil, "por causa de sua boa política econômica, tem todas as condições de conviver" com o novo
ciclo de alta dos juros. "O importante é que os EUA continuem
crescendo, beneficiando o Brasil."
Para Sherman Katz, analista do
Centro Internacional de Estudos
Estratégicos, "o Fed deu o que o
mercado esperava. E isso é boa
notícia para todos".
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