São Paulo, quinta-feira, 01 de julho de 2004

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VACA DOENTE

Acordo permite retomada da exportação, mas mantém veto a Mato Grosso, por estar próximo ao foco de aftosa no Pará

Rússia suspende parte do embargo à carne

ANDRÉ SOLIANI
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

A Rússia suspendeu parcialmente o embargo à compra de carne brasileira. As exportações para o país foram liberadas, exceto as de Mato Grosso, responsável por 4,9% das vendas de carne bovina para o parceiro. Em 2003, o Brasil vendeu US$ 100 milhões do produto para a Rússia. "Hoje mesmo as exportações podem ser reiniciadas", disse o ministro da Agricultura, Roberto Rodrigues, ao anunciar o acordo entre os dois países, assinado em Moscou.
"Dentro do acordo, há um pequeno senão", lamentou Rodrigues, ao comentar que Mato Grosso continuava proibido de vender carne para a Rússia. Essa restrição foi mantida devido a uma cláusula do acordo fitossanitário entre o Brasil e a Rússia, que prevê a suspensão das importações de carne de Estados que fazem fronteira com a região na qual surgiu algum foco de doença.
A Rússia proibiu a compra de carne brasileira na sexta-feira da semana retrassada, após o Brasil confirmar um foco de febre aftosa no Pará, Estado que faz fronteira com Mato Grosso. Não há exportação de carne produzida no Pará.
Ontem, Rodrigues reclamou do orçamento para as ações de defesa sanitária do seu ministério. "Temos um orçamento pequeno", disse ele, que espera a liberação de mais R$ 44 milhões para a área. O orçamento atual é de R$ 68 milhões, menor do que a média dos últimos sete anos.

Contrapartida
A missão brasileira que conseguiu reabrir o mercado russo desembarcou em Moscou no início da semana. A Rússia compra 12% das exportações brasileiras de carne. É o principal comprador de carne suína do país.
Apesar de o ministro negar qualquer relação entre o caso da carne e uma eventual abertura do mercado de trigo brasileiro à Rússia, os dois temas estiveram presentes na mesa de negociação.
Para Rodrigues, o Brasil deveria ter comunicado pessoalmente a constatação do foco para alguns parceiros estratégicos. Segundo ele, o Brasil seguiu os acordos internacionais e comunicou à OIE (Organização Internacional de Epizootia), que divulga a informação para os demais sócios.
Para Antônio Ernesto de Salvo, presidente da CNA (Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil), "a alegação de problemas sanitários muitas vezes esconde problemas comerciais".

Argentina
A Argentina mantém o embargo a carne brasileira, pelo mesmo motivo que levou a Rússia a adotar a medida. Na semana passada, Rodrigues falou pessoalmente com o secretário de Agricultura da Argentina, Miguel Campos, sobre o problema.
Segundo ele, Campos havia prometido uma solução até ontem, mas a proibição não havia sido revogada até o fechamento desta edição. O Brasil decidiu enviar missão técnica a Buenos Aires para discutir o embargo.
O Ministério da Agricultura forneceu ontem mais informações às autoridades sanitárias argentinas sobre o foco de febre aftosa no Pará.
O novo relatório, entregue durante um encontro veterinário no Uruguai, não garantiu o fim do embargo à carne brasileira.
Segundo o Serviço Nacional de Sanidade e Qualidade Alimentar da Argentina (Senasa), o documento será avaliado e não há data prevista para o fim das restrições.


Colaborou Cláudia Dianni


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