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Falta transparência nas isenções fiscais
Auditorias feitas nos últimos 3 anos pela CGU detectam irregularidades na concessão de incentivos na área de informática
Pasta da Ciência e Tecnologia recebe recomendação
para suspender benefícios
de empresas que não prestaram contas
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Auditorias feitas nos três últimos anos pela CGU (Controladoria Geral da União) detectaram irregularidades na concessão de incentivos fiscais na
área de informática, que reforçam o diagnóstico de "falta de
transparência" nos gastos tributários. Os casos detectados
de fraude são isolados porque
os incentivos não são objeto de
fiscalizações regulares por parte do governo, apurou a Folha.
No caso dos incentivos da Lei
de Informática, o Ministério de
Ciência e Tecnologia recebeu
recomendação para suspender
benefícios de empresas que
não entregaram prestações de
contas e apurar danos ao erário
provocados pela concessão indevida de benefícios.
À Folha, o ministério apresentou resultados vagos dessa
política: "Os resultados e impactos em nossa indústria eletroeletrônica e nas instituições
de pesquisa e desenvolvimento
foram muito positivos".
Procurado, o Ministério da
Educação não conseguiu calcular o custo de cada aluno do
ProUni (Programa Universidade para Todos). O MEC estimou apenas o custo das bolsas
oferecidas por entidades de ensino superior que contam com
isenção de tributos, mas nem
todas foram preenchidas.
Um dos programas mais badalados do governo Lula, o
ProUni oferece neste ano
163.854 bolsas em faculdades
privadas, a um custo anual de
R$ 770, segundo o governo.
Em dois anos, o volume de
tributos que deixaram de ser
arrecadados por conta do
ProUni subiu 18% (para R$ 126
milhões), mas a oferta de bolsas subiu mais, quase 50 mil vagas, segundo Paula Mello, coordenadora-geral do programa.
"O valor [da renúncia] é baixo,
comparado às mensalidades
cobradas pelas instituições privadas de ensino superior."
Para tentar medir a eficácia
dos benefícios às micro e pequenas empresas -que detêm
a maior parcela dos incentivos
fiscais concedidos pelo governo-, a Folha procurou o Ministério do Desenvolvimento,
Indústria e Comércio Exterior.
Depois de dois dias de pesquisa, a assessoria respondeu que
uma avaliação deveria ser procurada na Receita Federal.
Mas a Receita diz que a tarefa foge às suas atribuições. Só
reiterou que mais 250 mil pequenas e médias empresas deverão ser contempladas com
benefícios pelo Supersimples,
que entra em vigor hoje. Atualmente, 2,3 milhões de micro e
pequenas empresas já contam
com redução de impostos.
"Os benefícios tributários
são um fator muito relevante,
mas não bastam para garantir
competitividade às micro e pequenas empresas", diz André
Spínola, consultor do Sebrae
(Serviço Brasileiro de Apoio às
Micro e Pequenas Empresas).
As leis de incentivo à cultura
mereceram um capítulo de críticas no relatório de contas do
governo Lula de 2006. Concentrados no Sudeste, os projetos
incentivados atrairiam uma
parcela pequena de investimentos privados: só 16%. Os
demais 84% do custo dos projetos seriam bancados pela
União, via benefícios fiscais.
Mais antiga e contundente é
a crítica do TCU às entidades
filantrópicas, detentoras de fatia superior a 15% dos incentivos. "Os maiores beneficiários
da renúncia fiscal da União são
as universidades, colégios particulares e hospitais que, por
sua clientela, desafiam a seriedade do conceito governamental de filantropia", diz parecer
aprovado pelo tribunal em
março.
(MARTA SALOMON)
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