São Paulo, domingo, 01 de julho de 2007

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Número de jogadores "exportados" não bate com informações do Banco Central

DA REPORTAGEM LOCAL

A falta de controle fiscal sobre os times brasileiros causa prejuízo não apenas aos clubes mas também aos cofres públicos.
Segundo o BC (Banco Central), no ano passado os contratos de câmbio registrados no Sisbacen (Sistema de Informações do Banco Central) referentes à transferência de atletas profissionais somaram US$ 131 milhões. Esse total foi proveniente da exportação de 343 atletas, dos quais 95% eram jogadores de futebol.
O número, entretanto, está subestimado. A CBF (Confederação Brasileira de Futebol) registrou a transferência de 851 jogadores brasileiros no ano passado. Em 2005, haviam sido 804. O número refere-se apenas aos jogadores profissionais, sem contar os que são vendidos nas categorias de base.
A CBF não define valores, mas especialistas estimam que nos últimos cinco anos a receita de exportação de jogadores tenha superado US$ 1 bilhão. Pelos registros do BC, entre 2001 e 2006, o Brasil exportou US$ 558 milhões em jogadores.
Os jogadores expatriados saem dos mais remotos rincões do país para os quatro cantos do mundo. Os times de origem têm nomes como Esporte Clube Primavera (SP) ou Horizonte Futebol Clube (CE). Os de destino, Siroki Brijeg, na Bósnia-Herzegóvina. Ou Wofoo Tai Po, de Hong Kong -região chinesa que contratou 15 jogadores nacionais.
Para o professor Carlos Henrique Ribeiro, pós-doutorando em esporte e imigração na Universidade de Stirling (Escócia), o aumento no número de clubes desconhecidos na exportação de atletas deve-se ao fato de vários deles serem criados apenas para isso. Em toda transferência, o clube de origem recebe pelo menos 5% como compensação por sua formação.
Outro lado ruim da mesma moeda é que muitos dos jogadores voltam ao país com o passe mais valorizado. Isso significa custo maior para os clubes brasileiros. No ano passado, 311 atletas retornaram ao Brasil. Em 2005, tinham sido 491.

Made in Brazil
"O fato de um jogador ter nascido no Brasil serve como marca de qualidade no futebol", diz Peter Draper, ex-diretor de marketing do Manchester United. "Mas isso prejudica times locais que não conseguem formar bons quadros."
Edgar Jabbour, sócio da consultoria Deloitte que coordena os trabalhos do estudo "Latin American Football League", concorda. Para ele, o Brasil tem nos campos a mesma atitude que adota na política industrial.
"Geramos muita matéria-prima, mas falta competência na hora de fazer produto acabado", afirma. "É como na soja ou no café: produzimos grãos, outros países os processam e nós importamos de volta, custando muito mais."


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