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Comissão da Câmara aprova jornada de 40 horas semanais
Deputados aprovaram também aumento do valor da hora extra de 50% para 75%
Medidas têm de ser votadas na Câmara e no Senado; empresários reclamam que redução aumentará custos e impedirá a criação de vagas
JOHANNA NUBLAT
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
CLAUDIA ROLLI
DA REPORTAGEM LOCAL
Na presença de cerca de 700
sindicalistas, a redução da jornada de trabalho de 44 para 40
horas semanais e o aumento do
valor da hora extra trabalhada,
de 50% para 75% do valor da
hora normal, foram aprovados
ontem por unanimidade por
uma comissão especial da Câmara dos Deputados.
Essas duas mudanças, juntas,
estimulam a empresa a contratar mais trabalhadores em vez
de incrementar o número de
horas trabalhadas, segundo
avalia Nelson Karam, coordenador de educação do Dieese
(Departamento Intersindical
de Estatística e Estudos Sócio-Econômicos). Sem falar em
prazos, Karam estima a abertura de 2,5 milhões de postos de
trabalho depois de aprovada a
modificação na Constituição.
Crítica à proposta, a CNI
(Confederação Nacional da Indústria) vai no sentido contrário e informa que a mudança
criará obstáculos para a geração de empregos e elevará os
custos de produção, prejudicando principalmente micro e
pequenas empresas.
"Estamos em plena crise; a
pior receita é aumentar custos
de produção. É uma medida
inoportuna, não vai produzir os
resultados esperados e vai criar
pressões de custo", diz o deputado Armando Monteiro (PTB-PE), presidente da CNI.
A PEC (Proposta de Emenda
à Constituição) ainda será votada no plenário da Câmara e
do Senado, antes de ser promulgada.
O deputado Paulo Pereira da
Silva (PDT-SP) diz que a PEC
teve apoio de seis partidos (PT,
PDT, PSB, PC do B, PV e PTB),
além de apoios individuais de
deputados do PSDB. Ele espera
votar a proposta uma vez antes
do recesso, em duas semanas.
O presidente da Câmara, Michel Temer (PMDB-SP), porém, disse que levará aos líderes a proposta feita pelo deputado Onyx Lorenzoni (DEM-RS) de organizar uma comissão
geral, com especialistas, para
discutir o tema, o que pode jogar a decisão para agosto.
A aprovação do texto ocorreu
em clima de festa, com a presença de sindicalistas da CUT,
da Força Sindical, da UGT, da
CTB, da CGTB e do Conlutas.
"A expectativa é que a PEC
seja votada pelo plenário no
início de agosto. Vamos pedir
ao presidente do Congresso urgência na votação", diz Ricardo
Patah, presidente da UGT.
Ligado à Força Sindical, o ministro do Trabalho, Carlos Lupi
(PDT-RJ), defendeu a redução.
"Somos favoráveis. Penso que é
um avanço da classe trabalhadora, é a melhor maneira de ter
melhor rendimento do funcionário." Sobre as críticas da CNI,
ele disse ser "uma avaliação
precipitada" e acrescentou que
a maioria, tirando o comércio,
já trabalha 40 horas.
A jornada de 40 horas semanais é a recomendada pela OIT
(Organização Internacional do
Trabalho) desde 1935, segundo
Janine Berg, especialista em
emprego da organização. "Todos os trabalhadores têm responsabilidades pessoais, participamos de nossas comunidades. Toda nova lei que reduz a
jornada é muito boa."
A melhoria da qualidade de
vida terá um custo, porém. Karam estima, com base em dados
da CNI, impacto de 2% no custo de produção do setor industrial. Esse custo, porém, será
minimizado pelo efeito macroeconômico (geração de novos empregos, com efeito dinâmico na economia).
No Brasil, há pelo menos 40
convenções e acordos coletivos
que já seguem as 40 horas semanais, segundo Karam.
Impactos
A redução da jornada, além
de poder criar mais vagas no
mercado de trabalho, é uma
forma de distribuir renda no
país, segundo avalia Clemente
Ganz Lúcio, diretor técnico do
Dieese. "Durante o período de
crescimento econômico, as
empresas tiveram ganhos expressivos de produtividade. Ao
diminuir a jornada para 40 horas semanais, esse ganho passa
a ser mais bem distribuído com
os trabalhadores."
José Dari Krein, professor do
Cesit (Centro de Estudos Sindicais e de Economia do Trabalho) da Unicamp, acredita que a
redução não deva afetar a competitividade das empresas, como preveem entidades do setor
produtivo. "A França reduziu a
jornada de trabalho e esse não
foi um fator determinante para
a queda de sua competitividade, muito pelo contrário."
A redução da jornada pode
ainda ter efeitos positivos, segundo diz, na saúde e na qualificação profissional do trabalhador. "Se o ritmo de trabalho
passa a ser menos intenso, o
ambiente de trabalho se torna
mais saudável e isso contribui
para que menos doenças profissionais causadas pelo estresse possam afetar o trabalhador", afirma Krein.
Para os especialistas, se o trabalhador tiver mais tempo para
dedicar ao lazer e à formação
cultural e profissional, sua qualificação deverá aumentar a
longo prazo.
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