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ARTIGO
Consumo reage, mas investimento ainda é dúvida
BRÁULIO LIMA BORGES
ESPECIAL PARA A FOLHA
Conforme apurado de forma preliminar pelo IBGE
(Instituto Brasileiro de Geografia
e Estatística), o Produto Interno
Bruto (PIB) brasileiro registrou
alta de 5,7% no segundo trimestre
deste ano quando comparado ao
mesmo período de 2003.
Parte dessa alta -a maior desde
o terceiro trimestre de 1996- deve-se à fraca base de comparação,
pois o período de abril a junho do
ano passado pode ser caracterizado como o "fundo do poço" do
nível de atividade de 2003.
Contudo o indicador dessazonalizado (que retira as influências
típicas de cada um dos períodos)
mostra que, na passagem do primeiro para o segundo trimestres
de 2004, o PIB cresceu 1,5% -ou
6,1%, em termos anualizados
(modo pelo qual é apresentado o
crescimento do PIB em diversos
países, como EUA e Japão).
Além de se tratar da quarta alta
consecutiva nesse tipo de comparação, o período abril-junho de
2004 foi o terceiro trimestre seguido em que o crescimento anualizado do PIB ficou acima de 6%
-o que não ocorria há dez anos.
Pelo lado da oferta, a maior contribuição para o crescimento de
5,7% coube, mais uma vez, ao PIB
da indústria, o qual -puxado
tanto pelas exportações como,
mais recentemente, pelo mercado
interno- apresentou alta de
6,6% no segundo trimestre deste
ano quando comparado com o
mesmo período de 2003.
Destaque também para o PIB de
serviços, que teve alta de 4,4% no
segundo trimestre na comparação com igual período do ano
passado -variação semelhante à
observada no primeiro trimestre
de 2000, último ano em que a economia brasileira alcançou crescimento razoável (4,4%).
Já o PIB da agropecuária, mesmo com a grande quebra das safras de soja, milho e, em menor
grau, de feijão, mostrou crescimento de 5% no segundo trimestre deste ano em relação ao mesmo período do ano passado, puxado pelo ótimo desempenho da
pecuária (impulsionada, por sua
vez, pelas exportações).
Pelo lado da demanda, as exportações líquidas (exportações
menos importações) continuaram a representar um fator relevante de crescimento do PIB, já
que a aceleração das importações
foi mais do que compensada pela
aceleração da demanda externa
por produtos brasileiros.
O grande destaque na passagem
do primeiro para o segundo trimestres coube à aceleração do
consumo das famílias: com alta de
5% sobre o segundo trimestre de
2003, atingiu crescimento anualizado ajustado sazonalmente de
6,1% no segundo trimestre em relação aos primeiros três meses
deste ano, evidenciando a retomada do mercado interno propiciada pela ampliação do crédito,
pela recuperação do nível de emprego e pela -lenta, é verdade-
recomposição do poder de compra dos trabalhadores.
A formação bruta de capital fixo, que indica o desempenho dos
investimentos na economia, apresentou o quarto avanço consecutivo, tendo acumulado crescimento de 11,8% desde o segundo
trimestre de 2003 (na série ajustada sazonalmente).
Trata-se de algo alentador. Todavia, o investimento tem se concentrado em máquinas e equipamentos. Isso significa que os investimentos em aumento da capacidade produtiva e em infra-estrutura seguem contidos, o que
pode redundar em gargalos de
oferta que dificultariam a continuidade da expansão da economia, mesmo no curto prazo. Esse
risco certamente cresceria caso o
Banco Central opte pela elevação
da taxa básica de juros nas próximas reuniões do Copom, dada a
vinculação estreita entre o investimento em expansão de capacidade e a sustentação de expectativas
otimistas pelo setor produtivo.
Em suma: o resultado do Produto Interno Bruto do segundo
trimestre deste ano mostra que o
ritmo da atividade econômica
brasileira passou a contar, além
das exportações, com outro ingrediente: o mercado interno,
que, desde 2000, não despontava
de forma tão positiva.
No entanto, apesar de estarem
em expansão, os investimentos
ainda seguem em ritmo e qualidade insuficientes para garantir a
sustentação do crescimento.
Bráulio Lima Borges é
economista da LCA Consultores
E-mail -
blborges@lcaconsultores.com.br
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