São Paulo, quarta-feira, 01 de setembro de 2004

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ARTIGO

Consumo reage, mas investimento ainda é dúvida

BRÁULIO LIMA BORGES
ESPECIAL PARA A FOLHA

Conforme apurado de forma preliminar pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), o Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro registrou alta de 5,7% no segundo trimestre deste ano quando comparado ao mesmo período de 2003.
Parte dessa alta -a maior desde o terceiro trimestre de 1996- deve-se à fraca base de comparação, pois o período de abril a junho do ano passado pode ser caracterizado como o "fundo do poço" do nível de atividade de 2003.
Contudo o indicador dessazonalizado (que retira as influências típicas de cada um dos períodos) mostra que, na passagem do primeiro para o segundo trimestres de 2004, o PIB cresceu 1,5% -ou 6,1%, em termos anualizados (modo pelo qual é apresentado o crescimento do PIB em diversos países, como EUA e Japão).
Além de se tratar da quarta alta consecutiva nesse tipo de comparação, o período abril-junho de 2004 foi o terceiro trimestre seguido em que o crescimento anualizado do PIB ficou acima de 6% -o que não ocorria há dez anos.
Pelo lado da oferta, a maior contribuição para o crescimento de 5,7% coube, mais uma vez, ao PIB da indústria, o qual -puxado tanto pelas exportações como, mais recentemente, pelo mercado interno- apresentou alta de 6,6% no segundo trimestre deste ano quando comparado com o mesmo período de 2003.
Destaque também para o PIB de serviços, que teve alta de 4,4% no segundo trimestre na comparação com igual período do ano passado -variação semelhante à observada no primeiro trimestre de 2000, último ano em que a economia brasileira alcançou crescimento razoável (4,4%).
Já o PIB da agropecuária, mesmo com a grande quebra das safras de soja, milho e, em menor grau, de feijão, mostrou crescimento de 5% no segundo trimestre deste ano em relação ao mesmo período do ano passado, puxado pelo ótimo desempenho da pecuária (impulsionada, por sua vez, pelas exportações).
Pelo lado da demanda, as exportações líquidas (exportações menos importações) continuaram a representar um fator relevante de crescimento do PIB, já que a aceleração das importações foi mais do que compensada pela aceleração da demanda externa por produtos brasileiros.
O grande destaque na passagem do primeiro para o segundo trimestres coube à aceleração do consumo das famílias: com alta de 5% sobre o segundo trimestre de 2003, atingiu crescimento anualizado ajustado sazonalmente de 6,1% no segundo trimestre em relação aos primeiros três meses deste ano, evidenciando a retomada do mercado interno propiciada pela ampliação do crédito, pela recuperação do nível de emprego e pela -lenta, é verdade- recomposição do poder de compra dos trabalhadores.
A formação bruta de capital fixo, que indica o desempenho dos investimentos na economia, apresentou o quarto avanço consecutivo, tendo acumulado crescimento de 11,8% desde o segundo trimestre de 2003 (na série ajustada sazonalmente).
Trata-se de algo alentador. Todavia, o investimento tem se concentrado em máquinas e equipamentos. Isso significa que os investimentos em aumento da capacidade produtiva e em infra-estrutura seguem contidos, o que pode redundar em gargalos de oferta que dificultariam a continuidade da expansão da economia, mesmo no curto prazo. Esse risco certamente cresceria caso o Banco Central opte pela elevação da taxa básica de juros nas próximas reuniões do Copom, dada a vinculação estreita entre o investimento em expansão de capacidade e a sustentação de expectativas otimistas pelo setor produtivo.
Em suma: o resultado do Produto Interno Bruto do segundo trimestre deste ano mostra que o ritmo da atividade econômica brasileira passou a contar, além das exportações, com outro ingrediente: o mercado interno, que, desde 2000, não despontava de forma tão positiva.
No entanto, apesar de estarem em expansão, os investimentos ainda seguem em ritmo e qualidade insuficientes para garantir a sustentação do crescimento.


Bráulio Lima Borges é economista da LCA Consultores

E-mail -
blborges@lcaconsultores.com.br


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