São Paulo, quarta-feira, 01 de setembro de 2004

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RETOMADA

Ministro fala em correção de trajetória para sustentar crescimento, mas assessoria nega que se refira a alta de juros

Palocci admite possibilidade de "ajustes"

ANDRÉ SOLIANI
EDUARDO SCOLESE
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O ministro Antonio Palocci Filho (Fazenda) disse que o ritmo de crescimento do país neste ano surpreendeu. Questionado sobre a possibilidade de o Banco Central elevar a taxa básica de juros, o que afetaria a atividade econômica, ele afirmou que poderá ser preciso fazer ajustes na politica macroeconômica para garantir uma expansão continuada. Depois, por meio da assessoria, informou que esses ajustes não se referiam aos juros.
"Todo o crescimento não passa só por linhas ascendentes", disse ele. "O que pode haver num momento de crescimento como esse são eventuais ajustes de trajetória, o que é bom para garantir que o crescimento venha no longo prazo", completou.
Questionado se "os ajustes" se referiam especificamente aos juros, Palocci disse que a decisão cabe exclusivamente ao BC e que ele não comentava a questão. O ministro ponderou, no entanto, que a inflação sempre preocupa e que o descontrole dos preços é o mais importante inibidor do crescimento.
"Temos que perceber sempre que, se a inflação não é controlada, ela impede a continuidade do crescimento", disse Palocci. "Sabemos e queremos que o Banco Central continue vigilante com relação à inflação." Na sua avaliação, a equipe de Henrique Meirelles, presidente do BC, tem feito um bom trabalho para controlar os preços. "Se houver necessidade de alguns ajustes, serão feitos com a maior tranqüilidade", disse Palocci, que na semana passada havia dito que nem sempre um governo toma medidas populares.
Mais de três horas depois das declarações, a assessoria de imprensa do Ministério Fazenda informou que, em nenhum momento, Palocci quis fazer referências aos juros. Os ajustes, segundo a assessoria, se referiam a uma série de medidas que poderiam ser tomadas para garantir a continuidade do crescimento.
Apesar de admitir a possível necessidade de ajustes, Palocci disse que não existe, no momento, nenhum fator que possa interromper o bom desempenho da economia. "Não há nada no horizonte que nos faça pensar que esse vigor deva ter interrupções."
Quanto maior o ritmo de expansão da economia, maiores são as preocupações com a possibilidade de aceleração dos reajustes de preço, devido ao aumento da procura. Ao mesmo tempo, a alta do petróleo pressiona a inflação. A última ata do Copom (Comitê de Política Econômica), divulgada na semana passada, sinalizava que o BC poderia elevar os juros para segurar preços.

Crescimento de 5%
A taxa de crescimento de 4,2% no primeiro semestre contra igual período do ano passado foi considerada surpreendente por Palocci. "Os números são fortes. De alguma maneira surpreendem as análises anteriores, mas temos que ver que essa é uma surpresa agradável." A última estimativa do governo é de um crescimento de 3,8% em 2004.
O ministro Luiz Fernando Furlan (Desenvolvimento), por sua vez, considerou o desempenho do PIB divulgado pelo IBGE dentro das expectativas. "Os números anunciados estão dentro do esperado", disse ele.
Animado com os resultados, Furlan previu um crescimento de 5% até o final do ano. "Como todas as indicativas mostram que o terceiro trimestre, no campo da indústria e também dos serviços, será melhor que o segundo, nós, certamente, estamos a caminho de um crescimento de 5% neste ano", disse ele. Sobre juros, foi mais direto: "O ideal seria que não houvesse aumento de juros no segundo semestre".
Enquanto Palocci falava sobre o crescimento, Furlan aproveitou para tocar num assunto que costuma colocar os dois ministérios em lados opostos, a carga tributária. Quando Palocci disse que era uma "surpresa agradável", Furlan brincou: "Aumenta a arrecadação". "Exatamente. Isso nós dá condições de fazer os ajustes necessários na carga tributária, como teve aumento maior que o previsto", respondeu Palocci.


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