São Paulo, sexta-feira, 01 de setembro de 2006

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PÉ NO FREIO

Investimento perde fôlego e recua 2,2%

No primeiro trimestre, expansão do indicador havia sido de 3,7% em relação aos três meses imediatamente anteriores

Analistas dizem que queda já era esperada após ritmo mais forte de janeiro até março, mas que intensidade da redução surpreendeu


DA SUCURSAL DO RIO
DO ENVIADO ESPECIAL AO RIO

Os investimentos captados no PIB no segundo trimestre de 2006 caíram 2,2% em relação ao período anterior. Foi a maior queda desde o primeiro trimestre do ano passado.
O apetite por mais investimentos dentro do setor produtivo diminuiu, apesar de terem aumentado tanto o consumo das famílias (1,2%) quanto o do governo (0,8%).
No primeiro trimestre deste ano, os investimentos haviam crescido 3,7% em relação aos três meses finais de 2005.
Em relação ao segundo trimestre do ano passado, os investimentos (ou FBCF, Formação Bruta de Capital Fixo) aumentaram 2,9%. O consumo das famílias, 4%, e o do governo, 1,8%.
No primeiro trimestre (em relação a janeiro-março de 2005), os investimentos haviam crescido 9%.
"O resultado do primeiro trimestre é que foi atípico, resultado de um acúmulo de estoques na indústria", afirma o economista Celso Toledo, da MCM Consultores. "Não há milagre na área de investimentos com uma política monetária tão restritiva [com juros elevados] quanto a atual."
Toledo afirma que já era esperada uma redução no ritmo dos investimentos depois do primeiro trimestre, quando eles subiram fortemente. "O que surpreendeu foi o tamanho da queda", afirma.

Construção civil
O setor de construção civil responde por cerca de 60% da FBCF. Seu crescimento foi de 2,6% no segundo trimestre de 2006 contra o mesmo período do ano passado. No primeiro trimestre, havia sido de 3,7%.
Para Ana Maria Castelo, da GV Consult, que realiza pesquisas para o Sinduscon (sindicato da indústria da construção civil), há a expectativa de recuperação no setor ao longo do segundo semestre.
"Apesar da queda no trimestre, o setor continua prevendo um crescimento geral de 5,1% no ano", afirma. Ela destaca que o ritmo de criação de empregos na construção "permanece bastante firme".
O real valorizado, no entanto, é apontado como o "fator estrutural" que vem inibindo os investimentos, principalmente no setor industrial exportador.
Bráulio Borges, economista da LCA, diz que o resultado dos investimentos foi "surpreendentemente ruim". Segundo ele, o fraco desempenho da construção civil já era previsto, mas o setor de máquinas e equipamentos decepcionou.
A julgar pelo comportamento do volume importado de bens de capital no segundo trimestre (crescimento de 24,5% ante igual período de 2005), o economista previa um resultado melhor no período.
Alex Agostini, economista da Austin Asis, afirma ser "natural" uma retração nos investimentos depois do crescimento de 9% no primeiro trimestre do ano. "Mas ainda há muito a ser feito na área de crédito para ajudar a alavancar a construção civil", ressaltou.
Para a economista Tatiana Pinheiro, do banco ABN Amro-Real, a queda dos investimentos reflete, em parte, a crise de confiança que afetou os mercados em razão do temor de uma desaceleração da economia norte-americana.
"Isso atrapalhou as decisões de investimento, mas foi um ponto fora da curva. No segundo semestre, esperamos que eles voltem a crescer", afirma.
(PEDRO SOARES E FERNANDO CANZIAN)


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