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VINICIUS TORRES FREIRE
A fantasia luliana do PIB
Governistas não temem
desmoralização das profecias
de crescimento porque, por
ora, "país dos pobres" vai bem
NÃO SE ESPERA que um presidente diga que a economia
do país que governa esteja à
beira de tropeçar no brejo. Afora o
irrealismo óbvio da expectativa, o
pessimismo pode ser contagioso e
contraproducente. Mas por que Lula não teme a desmoralização contínua de suas juras de crescimento?
Para atingir a meta luliana de crescer 4% neste ano, a economia precisaria acelerar, andar a uma velocidade quatro vezes maior que a do trimestre que passou. Não é impossível, embora muito improvável, e o
problema nem é esse. Profecia sobre
números de curtíssimo prazo, como
o PIB trimestral, com minúcias obsessivas sobre décimos de porcentagem, é propaganda ou coisa pior.
Lula e ministros se entregam ao
desfrute ignorante ou politiqueiro
de fantasiar a numeralha econômica
porque conhecem ao menos o eleitorado. Quem vai entender discussões sobre médio prazo, bens de capital e penetração de importações?
O eleitorado pobre vive por ora em
um país estatístico em que a renda
cresce muito. Problemas estruturais
são uma abstração -por ora.
O resultado do PIB foi muito
ruim. Não implica desastre, mas indica que a economia enfrenta problemas nada triviais. A quantidade
de importações cresce, o ritmo de
aumento de exportações caiu a um
quarto do que era havia um ano, por
conta da invasão chinesa e do real
forte: câmbio. O resultado do comércio exterior foi fator maior na
queda do crescimento.
Mas o nível de investimento também caiu, de modo surpreendente.
Tem sido volátil, o que indica razoável indecisão de empresários (afora
a pressão do câmbio). Sobre o resto
do ano, o resultado da indústria paulista em julho, que também saiu ontem, já prejudicou alguns otimismos
para o terceiro trimestre. O chute
menos temerário para o PIB do ano
ora anda em torno de 3%.
Afora todos os defeitos crônicos
da economia (impostos, dívida, burocracia e pouco comércio externo),
tais problemas resultaram de ações
deliberadas do governo, ainda que
Lula fosse ignorante do alcance delas. A meta de inflação baixa demais,
fixada em 2005, exigiu juros mais altos por mais tempo, o que encareceu
o produto nacional. No curto prazo,
ao menos, isso afeta a contribuição
do comércio externo ao crescimento. O caso fica pior devido ao bem-sucedido plano chinês de tomar o
mercado mundial de manufaturas.
O aumento do gasto corrente do
governo Lula limita o investimento
público. Inflação baixa e salário mínimo maior (que é gasto público)
melhoram a vida do povo. A dita "demanda doméstica", em especial consumo privado e do governo, cresceu
no semestre a uns 4%. Mas em troca
de gastos e juros altos pode se estar
destruindo indústrias, transferindo
investimentos para o exterior e consumindo já o que poderia ser crescimento mais duradouro amanhã.
O problema político da economia
é saber se Lula, reeleito, vai continuar a fantasia nutrida de populismo cambial "cum" bolsa-esmola,
atualização do populismo tucano.
Há três anos, diante dos metalúrgicos de São Bernardo, Lula prometeu o "espetáculo do crescimento".
Seu programa eleitoral agora diz que
o "nome do segundo mandato será
desenvolvimento". Como também o
dizia FHC. Será uma maldição?
vinit@uol.com.br
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