São Paulo, sexta-feira, 01 de setembro de 2006

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

PÉ NO FREIO

Internamente, governo já prevê PIB menor

Desempenho abaixo do esperado no 2º tri faz área econômica trabalhar com projeção em torno de 3,5%; Lula já chegou a falar em 5%

Equipe disse ao presidente que, do ponto de vista eleitoral, consumo maior por parte das famílias vai contar mais politicamente


KENNEDY ALENCAR
SHEILA D'AMORIM
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Em conversas reservadas com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, o ministro Guido Mantega (Fazenda) e o presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, já disseram que o crescimento do PIB (Produto Interno Bruto) em 2006 deverá ser menor do que o esperado por Lula.
Afirmaram ao presidente que o desempenho do PIB no segundo trimestre foi pior do que esperavam e disseram que a economia deverá crescer entre 3,5% e 4% neste ano. Provavelmente mais para 3,5%. Oficialmente, ambos mantêm a previsão de 4% ou um pouco mais. Lula já chegou a falar em crescimento de até 5% para este ano.
Do ponto de vista eleitoral, a equipe econômica disse a Lula que o consumo das famílias sustentará o crescimento do PIB neste ano e que isso é o que mais contaria politicamente. Afirmaram também que a atividade econômica do país retomará força nos dois últimos trimestres do ano.
A Folha apurou que o presidente ficou contrariado com o resultado do segundo trimestre -0,5% de crescimento na comparação com o trimestre anterior. Ele cobrou diretamente Mantega, Meirelles e o ministro do Planejamento, Paulo Bernardo.
Disse aos três que não queria uma "surpresa" como no ano passado, quando prometeu 4% e entregou 2,3%. Com Meirelles, reuniu-se no Rio de Janeiro na terça-feira, antes do primeiro dia de reunião do Copom (Comitê de Política Monetária), órgão do BC que se reúne a cada 45 dias para fixar a taxa básica de juros (Selic).
Lula se disse preocupado em entregar o crescimento prometido. No dia seguinte, o BC surpreendeu o mercado, que esperava queda de 0,25 ponto, e baixou a taxa de juros de 14,75% para 14,25% ao ano.
Escaldado com a péssima reação de Lula no ano passado, quando o presidente soube na última hora que o resultado do terceiro trimestre seria um desastre e comprometeria a meta de crescimento do ano, Bernardo se encarregou de preparar o seu espírito.
Antes da divulgação do dado oficial, que foi feita ontem pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), o ministro do Planejamento disse a Lula que a notícia do PIB seria ruim. E ambos avaliaram que a oposição poderia usar eleitoralmente o dado, pois a propaganda petista no rádio e na TV tem vendido a política econômica como um sucesso e prometido que "o nome do [eventual] segundo mandato é desenvolvimento".

Avaliação econômica
Um dos argumentos da equipe econômica para minimizar o desempenho medíocre no segundo trimestre e tentar tranqüilizar Lula é que esse resultado refletiria apenas um lado da economia: o da oferta de bens e serviços. O outro, a demanda da população, afirmam, está a pleno vapor há meses e impulsionará a atividade econômica até o final de 2006.
As pessoas estão consumindo mais, aponta a equipe econômica. E a maior oferta de crédito dará sustentação a esse consumo, segundo técnicos do governo. Isso, alegam, é mais importante para os trabalhadores -os mesmos que irão às urnas em 1º de outubro- do que o resultado de 0,5% divulgado ontem pelo IBGE.
A área econômica prometeu ao presidente Lula que não há riscos de repetir o desempenho do terceiro trimestre do ano passado, quando o PIB recuou 1,2%. Ainda assim, o melhor ritmo de crescimento nos próximos meses não deverá ser suficiente para alcançar os 4% projetados oficialmente pelo BC. Como não quer dar munição para a oposição atacar a gestão Lula, a projeção oficial de 4% deverá ser mantida.


Texto Anterior: Consumo das famílias tem aumento de 4%, mas efeito do crédito perde força
Próximo Texto: Comentário: Expansão segue média fraca da última década
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.