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PÉ NO FREIO
Internamente, governo já prevê PIB menor
Desempenho abaixo do esperado no 2º tri faz área econômica trabalhar com projeção em torno de 3,5%; Lula já chegou a falar em 5%
Equipe disse ao presidente que, do ponto de vista eleitoral, consumo maior por parte das famílias vai contar mais politicamente
KENNEDY ALENCAR
SHEILA D'AMORIM
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Em conversas reservadas
com o presidente Luiz Inácio
Lula da Silva, o ministro Guido
Mantega (Fazenda) e o presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, já disseram que
o crescimento do PIB (Produto
Interno Bruto) em 2006 deverá
ser menor do que o esperado
por Lula.
Afirmaram ao presidente
que o desempenho do PIB no
segundo trimestre foi pior do
que esperavam e disseram que
a economia deverá crescer entre 3,5% e 4% neste ano. Provavelmente mais para 3,5%. Oficialmente, ambos mantêm a
previsão de 4% ou um pouco
mais. Lula já chegou a falar em
crescimento de até 5% para este ano.
Do ponto de vista eleitoral, a
equipe econômica disse a Lula
que o consumo das famílias
sustentará o crescimento do
PIB neste ano e que isso é o que
mais contaria politicamente.
Afirmaram também que a atividade econômica do país retomará força nos dois últimos trimestres do ano.
A Folha apurou que o presidente ficou contrariado com o
resultado do segundo trimestre
-0,5% de crescimento na comparação com o trimestre anterior. Ele cobrou diretamente
Mantega, Meirelles e o ministro do Planejamento, Paulo
Bernardo.
Disse aos três que não queria
uma "surpresa" como no ano
passado, quando prometeu 4%
e entregou 2,3%. Com Meirelles, reuniu-se no Rio de Janeiro na terça-feira, antes do primeiro dia de reunião do Copom (Comitê de Política Monetária), órgão do BC que se
reúne a cada 45 dias para fixar
a taxa básica de juros (Selic).
Lula se disse preocupado em
entregar o crescimento prometido. No dia seguinte, o BC surpreendeu o mercado, que esperava queda de 0,25 ponto, e baixou a taxa de juros de 14,75%
para 14,25% ao ano.
Escaldado com a péssima
reação de Lula no ano passado,
quando o presidente soube na
última hora que o resultado do
terceiro trimestre seria um desastre e comprometeria a meta
de crescimento do ano, Bernardo se encarregou de preparar o
seu espírito.
Antes da divulgação do dado
oficial, que foi feita ontem pelo
IBGE (Instituto Brasileiro de
Geografia e Estatística), o ministro do Planejamento disse a
Lula que a notícia do PIB seria
ruim. E ambos avaliaram que a
oposição poderia usar eleitoralmente o dado, pois a propaganda petista no rádio e na TV
tem vendido a política econômica como um sucesso e prometido que "o nome do [eventual] segundo mandato é desenvolvimento".
Avaliação econômica
Um dos argumentos da equipe econômica para minimizar o
desempenho medíocre no segundo trimestre e tentar tranqüilizar Lula é que esse resultado refletiria apenas um lado da
economia: o da oferta de bens e
serviços. O outro, a demanda da
população, afirmam, está a pleno vapor há meses e impulsionará a atividade econômica até
o final de 2006.
As pessoas estão consumindo mais, aponta a equipe econômica. E a maior oferta de
crédito dará sustentação a esse
consumo, segundo técnicos do
governo. Isso, alegam, é mais
importante para os trabalhadores -os mesmos que irão às urnas em 1º de outubro- do que o
resultado de 0,5% divulgado
ontem pelo IBGE.
A área econômica prometeu
ao presidente Lula que não há
riscos de repetir o desempenho
do terceiro trimestre do ano
passado, quando o PIB recuou
1,2%. Ainda assim, o melhor ritmo de crescimento nos próximos meses não deverá ser suficiente para alcançar os 4% projetados oficialmente pelo BC.
Como não quer dar munição
para a oposição atacar a gestão
Lula, a projeção oficial de 4%
deverá ser mantida.
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