São Paulo, domingo, 01 de outubro de 2006

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VISÃO DA OPOSIÇÃO

"Não vejo um cenário de expansão mais forte"

Para Mendonça de Barros, investimento é baixo

DA REPORTAGEM LOCAL

O economista José Roberto Mendonça de Barros, sócio da consultoria MB Associados, diz que o Brasil não está condenado a crescer pouco, mesmo em um cenário de desaceleração da economia internacional que se delineia. A expansão do PIB a taxas superiores às dos últimos anos depende, segundo ele, do avanço dos investimentos em infra-estrutura, de uma regulação mais adequada e comprometida com a estabilidade de regras e da redução da carga tributária. Entretanto Mendonça de Barros, que é ligado ao PSDB, não vê nenhum fator expansionista se for mantida a atual política econômica. "Como o comércio exterior estará mais fraco, os investimentos andarão devagar e há um "vazamento" para o exterior de parte da demanda por investimentos do setor privado, não vejo um cenário de crescimento mais forte", diz. A seguir, trechos de sua entrevista à Folha. (SB)

 

FOLHA - O cenário externo que o próximo governo deverá encontrar será favorável ao crescimento?
JOSÉ ROBERTO MENDONÇA DE BARROS -
Até a turbulência dos mercados em maio, a dúvida que havia era se teríamos na economia mundial mais inflação -portanto mais juros ou menos atividade. Essa dúvida passou. Hoje, a dúvida é se vamos ter desaceleração ou recessão na economia mundial, e o epicentro disso é os EUA. Os mais pessimistas falam em recessão; esperam desempenho negativo do PIB americano nos dois primeiros trimestres do ano que vem. Os otimistas -onde me incluo- dizem que haverá desaceleração no crescimento da economia americana no ano que vem. Além dos Estados Unidos, é certo que a Europa e o Japão desacelerem. Se esse for o cenário, teremos desaceleração na economia mundial, mas ainda num cenário de crescimento.

FOLHA - Como essa desaceleração deverá afetar o Brasil?
MENDONÇA DE BARROS -
A primeira implicação é que o comércio exterior terá importância menor no crescimento da economia. As exportações devem crescer menos devido à desaceleração dos preços das commodities, e as importações devem crescer. Não acredito que vá ocorrer um colapso nos preços das commodities, mas aquela exuberância das cotações será substituída por preços menores. A segunda implicação tem a ver com a China. Com a desaceleração global, os mercados dos países desenvolvidos vão estar mais contidos no ano que vem. Aquilo que os chineses não conseguirem vender nesses mercados, vão tentar vender a países como o Brasil. No ano que vem, a competição chinesa através da redução de preços continuará sendo um fenômeno. Seus custos são muito baixos, e eles estão investindo furiosamente em novas fábricas, com produtividade alta. Isso significa que têm margens muito grandes e podem baixar preços para vender. Está acontecendo isso em automóveis. No ano passado, os chineses venderam no mercado internacional 50 mil carros ao preço médio de US$ 8.000 cada. Neste ano, até julho, venderam 80 mil carros ao preço médio de US$ 5.700.

FOLHA - A demanda interna não pode substituir a externa e alavancar o PIB?
MENDONÇA DE BARROS -
Neste ano, apesar do estímulo fiscal, monetário e da expansão do crédito, o aumento do consumo não resultou em aumento da produção. Parte do crédito foi atendida por importados e, no ano que vem, isso deve continuar, o que será um problema para quem ganhar a eleição. Creio que o que deve crescer é o mercado de imóveis, com o aumento da oferta de recursos para a indústria imobiliária. No ano que vem, o governo que entrar vai ter que segurar um pouco o gasto público. Isso significa que uma parte do estímulo fiscal que vinha dos gastos diretos do governo será menor. Assim, o que tem de expansionista para o ano que vem é o crédito. A Selic deve cair mais um pouco. Mas não creio que os créditos ao consumidor e habitacional sejam capazes de compensar o setor externo, que será mais fraco.


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