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LUCIANO COUTINHO
Reforma fiscal e desenvolvimento
Os investimentos do setor privado no país são punidos pelos juros altos e por uma carga tributária excessiva
A FALTA de dinamismo da formação de capital fixo na economia brasileira (menos de
20% do PIB) nas duas últimas décadas e meia é, ao mesmo tempo, causa e reflexo do crescimento medíocre, sucessivamente ameaçado por
crises inflacionárias, cambiais e fiscais.
Sem a elevação firme e persistente
da taxa de investimento (de 20% para 25% do PIB) não será possível
realizar plenamente o potencial de
crescimento da renda per capita,
com estabilidade de preços, geração
de empregos e redução das desigualdades.
Mais investimentos são imprescindíveis para expandir a oferta de
bens e serviços (inclusive infra-estruturais) com velocidade e em escala suficiente para prevenir a formação de focos de pressão inflacionária à medida que, simultaneamente, cresça também a demanda.
Sem investimentos com ganhos de
produtividade não há como combinar estabilidade e crescimento acelerado.
Considerando a fragilidade fiscal
do Estado, o aumento dos investimentos deve ser, principalmente,
uma tarefa do setor privado. Não
obstante, em setores de baixo retorno (especialmente nas infra-estruturas) e na oferta de bens tipicamente públicos, o investimento do Estado é imprescindível.
Infelizmente,
porém, esse necessário aumento do
investimento público é obstaculizado pela baixa capacidade fiscal e, por
sua vez, os investimentos privados
são punidos pelos juros altos e por
uma carga tributária excessiva (que
reduz a taxa de retorno e estimula a
informalidade predatória).
Mais além dos onerosos encargos
de juros da dívida mobiliária do Tesouro (que representaram, em média, cerca de 8% do PIB a cada ano,
nos últimos dez anos), a rápida expansão das despesas correntes do
conjunto do setor público (cujo peso
em relação ao PIB cresceu de 20%
no início dos 90 para cerca de 32%
neste ano) tem sido o principal fator
de debilitação da situação fiscal.
Além de comprimir a sua capacidade de investimento, a veloz expansão das despesas correntes obriga o
governo a empreender sucessivos
aumentos da carga tributária para
evitar que a expansão do déficit público resulte numa trajetória explosiva da dívida mobiliária do Tesouro. Esse risco mina a confiança na
solvência pública bloqueando uma
redução significativa e não-inflacionária da taxa de juros, deixando o
Tesouro e o Banco Central vulneráveis ante o mercado financeiro.
Por tudo isso, o controle firme a
longo prazo e com qualidade crescente das despesas correntes é a única chave para: a) recuperar a capacidade de poupança e investimento do
Tesouro; b) reduzir progressivamente a carga tributária em prol do
estímulo ao investimento; c) assegurar credibilidade à dívida mobiliária,
permitindo uma substancial redução da taxa real de juros, sem riscos
desestabilizadores.
A instituição, por emenda constitucional, de um teto para a expansão
dos gastos correntes do setor público em todas as esferas, com o objetivo de reverter a sua escalada enquanto porcentagem do PIB, constitui, assim, esteio indispensável à retomada do desenvolvimento com
base em um programa fiscal de longo prazo.
LUCIANO COUTINHO, 59, é consultor e professor convidado do IE/Unicamp.
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