São Paulo, domingo, 01 de outubro de 2006

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Telecom Italia suspende a venda da TIM

Conselho da companhia avalia que recente onda de denúncias na Europa pode depreciar preço da operadora brasileira

Endividada e em atrito com governo italiano, empresa também é alvo de uma investigação sobre suposto esquema de espionagem


JANAÍNA LEITE
DA REPORTAGEM LOCAL

A TIM Brasil, braço nacional de telefonia móvel da Telecom Italia e vice-líder do mercado brasileiro no setor, não deve mais ser vendida agora, segundo a Folha apurou com pessoas próximas à operadora italiana.
A decisão foi tomada pelo conselho da empresa italiana na última sexta-feira. Está longe, contudo, de significar o encerramento das especulações sobre um possível negócio.
Até anteontem, a venda da TIM Brasil era dada como certa. As dúvidas pairavam apenas sobre quem poderia comprar a operadora.
Na lista de apostas há várias companhias e fundos de investimento internacionais: Claro, Vivo, Brasil Telecom, Telemar, Vodafone, China Telecom, Blackstone, Templeton e Carlyle.
Quinta maior operadora européia e campeã do setor em seu país, a Telecom Italia vive hoje uma situação delicada. A empresa, cujo endividamento é alto, tenta implementar um plano de reestruturação que acabou desagradando ao governo italiano.
A companhia italiana também é investigada pela Procuradoria de Milão por conta de um esquema de espionagem, escutas ilegais e venda de informações montado por funcionários.
O primeiro motivo que determinou a manutenção do controle da TIM Brasil pelos italianos é o fato de a saraivada de denúncias envolvendo a empresa na Europa influenciar as ofertas, podendo depreciá-las.
Além disso, o mercado brasileiro é tido como importante fronteira para os negócios da Telecom Italia. Segundo analistas de mercado, há grande espaço para o crescimento da telefonia móvel por aqui, com o progressivo aumento de renda da população. Portanto, desfazer-se da TIM Brasil em condições desfavoráveis implicaria achatar a atratividade dos demais ativos sul-americanos da Telecom Italia.
Outro assunto, menos técnico, serve de pano de fundo à decisão do Conselho da Telecom Italia: as desavenças entre o acionista controlador da empresa, Marco Tronchetti Provera, e o primeiro-ministro Romano Prodi.
Prodi é um representante da centro-esquerda. Deixou claro por diversas ocasiões que não concordava com a orientação administrativa de Tronchetti Provera, que também é acionista relevante da Pirelli, empresa tratada pelos italianos como símbolo de seu próprio país.
Para o primeiro-ministro, ligado aos sindicatos locais, os planos de Tronchetti podem resultar na venda da Telecom Italia para estrangeiros. Por conta das rusgas com Prodi, Tronchetti pediu afastamento da presidência da Telecom Italia. Mas a situação política do primeiro-ministro, segundo a imprensa italiana, também não é confortável.
Na semana passada, Prodi foi à câmara dos deputados italiana. Mal pôde falar. Seu discurso foi interrompido diversas vezes sob gritos de "falso" e "fanfarrão".
Diante dessa tendência, a Telecom Italia teria achado por bem adiar os planos de venda de seus ativos. Quer primeiro saber como ficarão suas relações com o governo italiano, caso Prodi seja substituído.

Slim
Sondagens de interessados acerca de possíveis negócios no Brasil, porém, continuam. Um dos mais proeminentes seria o megainvestidor mexicano Carlos Slim. Rumores de que ele teria recebido representantes da empresa na semana passada permearam o mercado, mas foram desmentidos por fontes ligadas à empresa.
Quanto à Brasil Telecom, a situação é mais difícil. Operadora de telefonia fixa das regiões Sul, Norte e Centro-Oeste, a empresa é disputada por seus quatro principais sócios: fundos de pensão brasileiros, Citigroup, Opportunity e Telecom Italia.
Depois de quase cinco anos de disputas, os italianos decidiram vender sua participação. Três são os entraves: o preço, considerado alto pelos ofertantes, os muitos processos judiciais que correm relativos ao assunto, no Brasil e nos Estados Unidos, e a legislação nacional, que não permite que uma operadora que já atua no país detenha uma segunda concessão na região onde opera.


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