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Telecom Italia suspende a venda da TIM
Conselho da companhia avalia que recente onda de denúncias na Europa pode depreciar preço da operadora brasileira
Endividada e em atrito com governo italiano, empresa também é alvo de uma investigação sobre suposto esquema de espionagem
JANAÍNA LEITE
DA REPORTAGEM LOCAL
A TIM Brasil, braço nacional
de telefonia móvel da Telecom
Italia e vice-líder do mercado
brasileiro no setor, não deve
mais ser vendida agora, segundo a Folha apurou com pessoas
próximas à operadora italiana.
A decisão foi tomada pelo
conselho da empresa italiana
na última sexta-feira. Está longe, contudo, de significar o encerramento das especulações
sobre um possível negócio.
Até anteontem, a venda da
TIM Brasil era dada como certa. As dúvidas pairavam apenas
sobre quem poderia comprar a
operadora.
Na lista de apostas há várias
companhias e fundos de investimento internacionais: Claro,
Vivo, Brasil Telecom, Telemar,
Vodafone, China Telecom,
Blackstone, Templeton e
Carlyle.
Quinta maior operadora européia e campeã do setor em
seu país, a Telecom Italia vive
hoje uma situação delicada. A
empresa, cujo endividamento é
alto, tenta implementar um
plano de reestruturação que
acabou desagradando ao governo italiano.
A companhia italiana também é investigada pela Procuradoria de Milão por conta de
um esquema de espionagem,
escutas ilegais e venda de informações montado por funcionários.
O primeiro motivo que determinou a manutenção do
controle da TIM Brasil pelos
italianos é o fato de a saraivada
de denúncias envolvendo a empresa na Europa influenciar as
ofertas, podendo depreciá-las.
Além disso, o mercado brasileiro é tido como importante
fronteira para os negócios da
Telecom Italia. Segundo analistas de mercado, há grande
espaço para o crescimento da
telefonia móvel por aqui, com o
progressivo aumento de renda
da população. Portanto, desfazer-se da TIM Brasil em condições desfavoráveis implicaria
achatar a atratividade dos demais ativos sul-americanos da
Telecom Italia.
Outro assunto, menos técnico, serve de pano de fundo à decisão do Conselho da Telecom
Italia: as desavenças entre o
acionista controlador da empresa, Marco Tronchetti Provera, e o primeiro-ministro Romano Prodi.
Prodi é um representante da
centro-esquerda. Deixou claro
por diversas ocasiões que não
concordava com a orientação
administrativa de Tronchetti
Provera, que também é acionista relevante da Pirelli, empresa tratada pelos italianos
como símbolo de seu próprio
país.
Para o primeiro-ministro, ligado aos sindicatos locais, os
planos de Tronchetti podem
resultar na venda da Telecom
Italia para estrangeiros. Por
conta das rusgas com Prodi,
Tronchetti pediu afastamento
da presidência da Telecom Italia. Mas a situação política do
primeiro-ministro, segundo a
imprensa italiana, também não
é confortável.
Na semana passada, Prodi foi
à câmara dos deputados italiana. Mal pôde falar. Seu discurso foi interrompido diversas
vezes sob gritos de "falso" e
"fanfarrão".
Diante dessa tendência, a Telecom Italia teria achado por
bem adiar os planos de venda
de seus ativos. Quer primeiro
saber como ficarão suas relações com o governo italiano,
caso Prodi seja substituído.
Slim
Sondagens de interessados
acerca de possíveis negócios no
Brasil, porém, continuam. Um
dos mais proeminentes seria o
megainvestidor mexicano Carlos Slim. Rumores de que ele teria recebido representantes da
empresa na semana passada
permearam o mercado, mas foram desmentidos por fontes ligadas à empresa.
Quanto à Brasil Telecom, a
situação é mais difícil. Operadora de telefonia fixa das regiões Sul, Norte e Centro-Oeste, a empresa é disputada por
seus quatro principais sócios:
fundos de pensão brasileiros,
Citigroup, Opportunity e Telecom Italia.
Depois de quase cinco anos
de disputas, os italianos decidiram vender sua participação.
Três são os entraves: o preço,
considerado alto pelos ofertantes, os muitos processos judiciais que correm relativos ao
assunto, no Brasil e nos Estados Unidos, e a legislação nacional, que não permite que
uma operadora que já atua no
país detenha uma segunda concessão na região onde opera.
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