São Paulo, quarta-feira, 01 de outubro de 2008

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Tensão faz juro subir e reduz prazo de crediário

Taxa média em setembro foi de 7,45%, diz Anefac

FÁTIMA FERNANDES
DA REPORTAGEM LOCAL

A crise financeira nos EUA e a alta da Selic (a taxa de juros básica da economia brasileira) resultaram no encarecimento de crédito e na redução de prazos de financiamento para os consumidores neste mês.
Levantamento preliminar da Anefac (associação de executivos de finanças, administração e contabilidade) mostra que a taxa média de juros cobrada dos consumidores em setembro está em torno de 7,45% ao mês e de 136,85% ao ano. No mês passado, a taxa era de 7,39% ao mês (135,27% ao ano).
Os prazos de financiamento, que chegavam a 36 meses, principalmente para a aquisição de veículos, não passam de 24 meses. As lojas que ofereciam até 24 meses para pagamento de produtos eletroeletrônicos e de informática reduziram esse prazo para até 12 meses, segundo levantamento da Anefac.
"As instituições financeiras estão mais seletivas na concessão de financiamento, cobrando juros mais altos e reduzindo os prazos de financiamento, especialmente neste mês, por conta da crise nos Estados Unidos", diz Miguel de Oliveira, vice-presidente da Anefac.
Se o pacote para socorro financeiro dos bancos nos Estados Unidos for aprovado nesta semana, é provável, na avaliação de Oliveira, que as instituições mantenham os prazos de financiamento verificados neste mês. "Caso contrário, os prazos devem diminuir ainda mais e o crédito, ficar mais caro."
O prazo de financiamento vai encolher, especialmente para a compra de veículos, na avaliação de Bráulio Borges, economista-chefe da LCA Consultores. "Aquela situação de o consumidor poder comprar carro sem pagar entrada em até 99 meses acabou, como seqüela da crise financeira internacional."
A cautela nos empréstimos, segundo Borges, deve durar de seis a nove meses. "Não falta liquidez na economia doméstica, só que as instituições brasileiras estão com receio de repassar essa liquidez para o consumo e para bancos médios. Os bancos só devem relaxar um pouco quando o Banco Central começar a reduzir juros", diz.
"Se o custo do dinheiro sobe porque a captação de recursos no exterior ficou mais difícil, o prazo de financiamento diminui, e a taxa de juros para o consumidor aumenta. É isso que já começamos a perceber neste mês. O problema não é grave no Brasil, mas deve haver contração do ritmo de crescimento do crédito. Como conseqüência, as vendas a prazo devem diminuir", afirma Fabio Silveira, sócio-diretor da RC Consultores.
A LCA Consultores já prevê retração da atividade econômica por conta da restrição do crédito para o consumidor.
"O último trimestre deste ano e o primeiro trimestre de 2009 devem ser os períodos mais fracos de atividade econômica no país desde 2003. Isso quer dizer vendas de comércio crescendo pouco e desemprego subindo", diz Borges, da LCA.
Se o pacote de ajuda aos bancos norte-americanos for aprovado, o PIB (Produto Interno Bruto) brasileiro cresce 5,1% neste ano e 3,7% no ano que vem, segundo estimativa da LCA. E as vendas no comércio crescem 9,6% e 4,5%, respectivamente. O setor automobilístico, segundo Borges, é que deverá sofrer mais. "As vendas de carros devem subir 21% neste ano e 4% em 2009. É que esse setor foi o que mais surfou na onda de ampliação de prazos de financiamento", afirma Borges.


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