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Crise eleva resgate de fundos de investimento
PEDRO SOARES
JANAINA LAGE
DA SUCURSAL DO RIO
A crise de confiança no mercado financeiro norte-americano mexeu com o ânimo dos investidores brasileiros, que buscam investimentos de menor
risco. Na esteira desse movimento, os fundos perderam R$
13,7 bilhões nos últimos 30 dias
encerrados no último dia 24
-período no qual se intensificaram a turbulência nas Bolsas
e resgates e migração para outras aplicações.
Segundo dados da Anbid (Associação Nacional dos Bancos
de Investimento), a captação líquida dos fundos (saldo entre
aplicações e resgates) está negativa em R$ 21,8 bilhões no
acumulado deste ano.
O resultado indica a aversão
dos poupadores ao risco. "Há
um temor que ocorra um contágio, uma crise sistêmica. O
que percebemos é uma procura
por investimentos de menor
risco", diz José Carlos Borja, diretor comercial da Fator Administradora de Recursos.
O executivo diz, no entanto,
que no próprio mercado de
fundos existem opções de menor risco e com rentabilidade
melhor que a da poupança, como as aplicações em renda fixa.
No ano, os fundos de renda fixa registram rentabilidade positiva de 8,16%, resultado bem
melhor do que os de ações, cujas perdas, em alguns casos, superam os 30%. Os fundos de
privatização Vale-FGTS tiveram uma queda de 34,17% de
janeiro até o último dia 24.
Em meio ao cenário de crise,
a categoria de fundos mais afetada foi a de multimercados
(que aplica em diversos tipos de
ativos, como dólar, títulos de
dívidas, ações, juros, entre outros), com uma captação líquida negativa de R$ 6,6 bilhões
nos últimos 30 dias.
Para William Eid Júnior,
coordenador do Centro de Estudos em Finanças da FGV
(Fundação Getulio Vargas), os
resultados mostram certa "decepção" do investidor com o resultado destes fundos, que normalmente têm políticas mais
agressivas de investimento.
"A classe média perde quando especula. Nos multimercados, muitos investidores criaram falsas expectativas", diz
Eid. Segundo ele, há um forte
movimento de migração desses
fundos para CDBs, títulos de
renda fixa cuja remuneração
"já se torna mais interessante."
Sangue-frio
Diante da crise, o melhor é
ter sangue-frio e esperar a recuperação dos mercados, aconselha Luis Carlos Ewald, economista e autor do livro "Sobrou Dinheiro!". "Muitos investidores são levados por uma
emoção burra ao tirarem o dinheiro investido agora."
Tomado por tal sentimento e
alarmado com a crise, o médico
Rodrigo Corrêa, 33, sacou sua
aplicação em ações, feita há um
ano, quando a Bolsa estava no
pico. "Tinha um dinheiro aplicado em renda fixa, que rendia
pouco. Não pretendia usá-lo e
apostei na Bolsa, mas agora estou comprando um apartamento e percebi que precisaria
dos recursos. A crise serviu para antecipar a retirada", diz.
Para quem está "comprado"
em ações, diz Borja, o melhor é
manter a aplicação, evitando,
assim, que a perda se realize
neste momento de forte baixa.
Seguro, o administrador de
empresas Rafael Andrade e Silva, 24, manteve seu investimento em ações. "Fiquei assustado, mas preferi esperar e não
assumir uma perda agora."
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