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Ações da BM&F estréiam com alta de 22%
Com um giro de R$ 2,6 bilhões, papéis da Bolsa de Mercadorias & Futuros foram os mais negociados ontem na Bovespa
Valorização na abertura só perde para Bovespa, Gafisa
e Redecard; investidor pessoa física congestiona
o sistema da Bolsa
TONI SCIARRETTA
DA REPORTAGEM LOCAL
As ações da BM&F (Bolsa de
Mercadorias & Futuros), quarta maior praça de negociação
de derivativos e commodities
do mundo, estrearam ontem
com alta de 22% no pregão do
Novo Mercado da Bovespa.
Com participação estimada em
285 mil pequenos investidores,
a oferta foi a que teve a maior
adesão da pessoa física -cada
uma levou só 91 ações, equivalentes a R$ 1.820 por CPF.
Por ser menor de cem ações,
o volume fracionado de papéis
obtido pelo pequeno investidor
dificultou ontem o processamento de ordens pelas corretoras, motivo de confusão e de
atrasos nas negociações.
O volume de negócios gerados por esses investidores foi
tão alto no início dos negócios
ontem que chegou a congestionar o sistema da Bovespa das
11h até as 12h14, quando as corretoras tiveram dificuldade de
processar as ordens recebidas.
Segundo a Bovespa, a maior
parte das ordens recebidas na
primeira hora foi de baixos valores e de pequenos volumes de
ações pedidas por pessoas físicas. Ou seja, o investidor de varejo ontem teria mudado de lado. Indesejado por vender
ações logo após a estréia dos
negócios, o pequeno investidor
pode ter tentado ontem pela
manhã comprar os papéis que
não conseguiu obter com o rateio que limitou em R$ 1.820 o
volume obtido por cada CPF.
Os papéis da BM&F foram os
mais negociados ontem, com
um giro de R$ 2,6 bilhões -como um todo, a Bovespa negociou R$ 10,5 bilhões. "O maior
tempo de resposta do sistema
foi devido ao extraordinário
afluxo de ofertas com quantidade mínima de ações, detidas
por um número inusitado de
investidores", disse a Bovespa.
A valorização das ações da
BM&F superou a dos papéis
das universidades Anhangüera,
um dos IPOs mais concorridos
do ano, que teve alta de 21,4%
no primeiro dia de negociação.
Perdeu apenas para as ações da
própria Bovespa, da Gafisa e da
Redecard, que subiram 50,12%,
29,5% e 21,4% na estréia.
Para Ricardo Almeida, professor do Ibmec-SP, o fato de as
ações da BM&F não terem subido próximo de 50%, como
aconteceu na estréia da Bovespa, não deve frustrar o investidor. Almeida explica o fato pela
diferença de preços entre os papéis da Bovespa e da BM&F, se
for analisada a relação entre o
preço dos papéis e o lucro proporcionado. Almeida calcula a
relação preço sobre lucro da
BM&F em 75,4, enquanto a da
Bovespa está ainda em 49,2.
"A BM&F já saiu com preço
maior. O pessoal tem de entender que ganhar 22% em um dia
é excepcional. O investidor ficou mal acostumado com a Bovespa. O temor era de uma possível queda, que não ocorreu."
"Talvez o ganho não foi tão
grande de imediato, como o da
Bovespa. Mas esse ganho pode
vir em alguns meses. Decepção
maior foi com o rateio", disse
Marcos Crivelaro, professor da
Fiap (Faculdade de Informática e Administração Paulista).
A presidente da CVM (Comissão de Valores Mobiliários),
Maria Helena Santana, afirmou que a participação recorde
de investidores de varejo na
operação da BM&F aumenta a
responsabilidade do órgão regulador. "Essas 285 mil pessoas
[que participaram do IPO da
BM&F] trazem noção da nossa
responsabilidade de educação
do investidor e do nosso papel
de fazer as regras valerem, aplicando punições quando são
descumpridas", disse.
A presidente da CVM não
quis comentar a proposta de
elevar a participação do investidor de varejo nas aberturas de
capital, que hoje fica em 10%
das ofertas. "O regulador não
tem de ter opinião sobre isso. O
emissor, na hora em que decide
abrir o capital, tem que avaliar
que base acionária pretende
construir e com que acionistas
ele acha que sua trajetória de
negócios vai ser mais bem compreendida e precificada."
O presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, afirmou que a abertura de capital
da BM&F mostra a maturidade
atingida pelo mercado de capitais no Brasil. "Durante muitos
anos eu vinha discutir aqui [na
Bolsa] as razões pelas quais o
mercado não se desenvolvia.
Dizia que a gente precisava de
previsibilidade para que pudesse crescer. Hoje, o Brasil resolve um dos maiores entraves ao
crescimento, que era o acesso a
capital pelas empresas", disse.
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