São Paulo, sábado, 01 de dezembro de 2007

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Ações da BM&F estréiam com alta de 22%

Com um giro de R$ 2,6 bilhões, papéis da Bolsa de Mercadorias & Futuros foram os mais negociados ontem na Bovespa

Valorização na abertura só perde para Bovespa, Gafisa e Redecard; investidor pessoa física congestiona o sistema da Bolsa

TONI SCIARRETTA
DA REPORTAGEM LOCAL

As ações da BM&F (Bolsa de Mercadorias & Futuros), quarta maior praça de negociação de derivativos e commodities do mundo, estrearam ontem com alta de 22% no pregão do Novo Mercado da Bovespa. Com participação estimada em 285 mil pequenos investidores, a oferta foi a que teve a maior adesão da pessoa física -cada uma levou só 91 ações, equivalentes a R$ 1.820 por CPF.
Por ser menor de cem ações, o volume fracionado de papéis obtido pelo pequeno investidor dificultou ontem o processamento de ordens pelas corretoras, motivo de confusão e de atrasos nas negociações.
O volume de negócios gerados por esses investidores foi tão alto no início dos negócios ontem que chegou a congestionar o sistema da Bovespa das 11h até as 12h14, quando as corretoras tiveram dificuldade de processar as ordens recebidas.
Segundo a Bovespa, a maior parte das ordens recebidas na primeira hora foi de baixos valores e de pequenos volumes de ações pedidas por pessoas físicas. Ou seja, o investidor de varejo ontem teria mudado de lado. Indesejado por vender ações logo após a estréia dos negócios, o pequeno investidor pode ter tentado ontem pela manhã comprar os papéis que não conseguiu obter com o rateio que limitou em R$ 1.820 o volume obtido por cada CPF.
Os papéis da BM&F foram os mais negociados ontem, com um giro de R$ 2,6 bilhões -como um todo, a Bovespa negociou R$ 10,5 bilhões. "O maior tempo de resposta do sistema foi devido ao extraordinário afluxo de ofertas com quantidade mínima de ações, detidas por um número inusitado de investidores", disse a Bovespa.
A valorização das ações da BM&F superou a dos papéis das universidades Anhangüera, um dos IPOs mais concorridos do ano, que teve alta de 21,4% no primeiro dia de negociação. Perdeu apenas para as ações da própria Bovespa, da Gafisa e da Redecard, que subiram 50,12%, 29,5% e 21,4% na estréia.
Para Ricardo Almeida, professor do Ibmec-SP, o fato de as ações da BM&F não terem subido próximo de 50%, como aconteceu na estréia da Bovespa, não deve frustrar o investidor. Almeida explica o fato pela diferença de preços entre os papéis da Bovespa e da BM&F, se for analisada a relação entre o preço dos papéis e o lucro proporcionado. Almeida calcula a relação preço sobre lucro da BM&F em 75,4, enquanto a da Bovespa está ainda em 49,2.
"A BM&F já saiu com preço maior. O pessoal tem de entender que ganhar 22% em um dia é excepcional. O investidor ficou mal acostumado com a Bovespa. O temor era de uma possível queda, que não ocorreu."
"Talvez o ganho não foi tão grande de imediato, como o da Bovespa. Mas esse ganho pode vir em alguns meses. Decepção maior foi com o rateio", disse Marcos Crivelaro, professor da Fiap (Faculdade de Informática e Administração Paulista).
A presidente da CVM (Comissão de Valores Mobiliários), Maria Helena Santana, afirmou que a participação recorde de investidores de varejo na operação da BM&F aumenta a responsabilidade do órgão regulador. "Essas 285 mil pessoas [que participaram do IPO da BM&F] trazem noção da nossa responsabilidade de educação do investidor e do nosso papel de fazer as regras valerem, aplicando punições quando são descumpridas", disse.
A presidente da CVM não quis comentar a proposta de elevar a participação do investidor de varejo nas aberturas de capital, que hoje fica em 10% das ofertas. "O regulador não tem de ter opinião sobre isso. O emissor, na hora em que decide abrir o capital, tem que avaliar que base acionária pretende construir e com que acionistas ele acha que sua trajetória de negócios vai ser mais bem compreendida e precificada."
O presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, afirmou que a abertura de capital da BM&F mostra a maturidade atingida pelo mercado de capitais no Brasil. "Durante muitos anos eu vinha discutir aqui [na Bolsa] as razões pelas quais o mercado não se desenvolvia. Dizia que a gente precisava de previsibilidade para que pudesse crescer. Hoje, o Brasil resolve um dos maiores entraves ao crescimento, que era o acesso a capital pelas empresas", disse.


Texto Anterior: Estradas: Justiça autoriza concessionária a fazer reajuste
Próximo Texto: Mês tenso leva dólar a acumular valorização de 3,28%
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.