São Paulo, sábado, 01 de dezembro de 2007

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Rússia enfrenta problemas com aviões rivais da Embraer

Dois projetos que concorrem diretamente com empresa brasileira devem atrasar

Grupo deixa projeto do MTA, que competiria com o Embraer C-390, e o regional Sukhoi Superjet-100 não deve voar neste mês, como previsto

26.set.07/France Presse
Sukhoi Superjet-100, avião regional para cem lugares que deve concorrer com a Embraer


IGOR GIELOW
ENVIADO ESPECIAL A MOSCOU

Dois projetos aeronáuticos russos que concorrem diretamente com produtos da Embraer sofreram problemas sérios nesta semana, um deles potencialmente fatal para seu desenvolvimento.
O caso mais grave é o do MTA (sigla inglesa para avião médio de transporte), cujo design conceitual e projeto de engenharia já estava pronto. Avião com capacidade de 20 toneladas, competiria diretamente com o Embraer C-390, aparelho com as mesmas características que teve o OK para desenvolvimento da Força Aérea Brasileira -e, mais importante, dotação orçamentária de pelo menos R$ 400 milhões no Plano Plurianual a ser aprovado no Congresso.
O projeto russo estava sendo tocado formalmente pela fabricante Ilyushin, mas toda a estrutura industrial seria baseada no grupo Irkut. Foram gastos até aqui cerca de US$ 600 milhões em desenvolvimento.
Só que, segundo a Folha apurou, o Irkut decidiu deixar tudo nas mãos da Ilyushin e dos parceiros dos russos, o governo indiano. Havia uma expectativa de demanda por 350 a 400 aviões, e a Ilyushin terá de usar suas instalações obsoletas em Tashkent, no Uzbequistão.
"É a maneira mais fácil de matar um projeto, a Ilyushin não tem condições", disse Konstantin Makienko, vice-diretor do Centro para Análise de Tecnologias e Estratégias, de Moscou.
Além do avião de carga Ilyushin-12, que o MTA deveria substituir, outro alvo de mercado seriam os C-130 Hércules americanos espalhados pelo Terceiro Mundo -exatamente o nicho visado pela Embraer, caso seu projeto saia do papel e não seja só uma forma de capitalização da empresa com dinheiro público.
A decisão da Irkut deveu-se a dois fatores. Primeiro, a Ilyushin reclamava estar perdendo controle sobre um projeto "seu", embora o desenho do avião seja trabalho do estúdio Yakovlev, comprado pela Irkut em 2003. Segundo, recebeu a luz verde para tocar sozinha o projeto do MS-21, avião de passageiros para o nicho de 150 lugares que deverá substituir os obsoletos Tupolevs-154 nas frotas que operam na Rússia e antigos países soviéticos.
O programa já tem US$ 300 milhões dotados para o ano que vem e é considerado a "galinha dos ovos de ouro" na aviação russa hoje, que ainda não se abriu aos Boeing-737 e Airbus-A319/320 no mercado interno.
Há também problemas para a Rússia, embora menos sérios, na frente da aviação civil. O Sukhoi Superjet-100, avião regional para cem lugares que foi lançado no meio deste ano visando disputar o nicho de mercado hoje dominado pela linha E-Jets da Embraer, não deverá fazer seu vôo inaugural neste mês, como previsto.
A empresa se nega a fazer comentários, mas a Folha apurou que há ao menos dois problemas com as turbinas. O primeiro é na integração de seus sistemas, mas o mais complicado é o segundo, de desenho.
As duas turbinas do Superjet ficam embaixo da asa, como os jatos da Embraer da família 170/175/190, conhecidos como E-Jets. Só que estão numa posição mais baixa até do que a dos Boeings-737. Ocorre que as condições dos aeroportos fora de Moscou e São Petersburgo são péssimas, e basicamente há o risco de os aviões baterem as turbinas no chão ao pousar na maioria das pistas do país.
Como o mercado inicial para o Superjet é o russo, há o problema. Isso explica por que o Tupolev-154 ainda é um sucesso neste lado do mundo, apesar de seu péssimo histórico de segurança: usa os três motores atrás, na fuselagem, e tem um trem de pouso que pode ser usado em pista de terra.


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