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Fora das estatísticas, "pastinhas" perdem emprego com retração nos empréstimos
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Os últimos 12 meses foram
um período de prosperidade na
vida de Wesclei Pinheiro Tavares. Além de conseguir pagar as
dívidas dos móveis adquiridos
para a casa onde mora com a
mulher, nunca mais atrasou o
aluguel de R$ 500, conseguiu
comprar um videogame e um
microondas e ainda instalou
TV a cabo. Tudo com os R$
1.200 mensais que conseguia,
em média, trabalhando como
"promotor de vendas" em Brasília. Esse é nome dado àquelas
pessoas recrutadas pelos bancos e financeiras para abordar
prováveis clientes na rua e oferecer "crédito fácil e barato".
A sorte desse goiano de 29
anos, que começou a trabalhar
aos 12 cortando cana no interior de Goiás e teve raros empregos com carteira assinada,
virou na última semana. Ele foi
demitido na financeira em que
trabalhava. Com isso, entrou na
estatística precária de desligamentos nesse segmento do setor bancário, o primeiro a cortar em razão da crise atual.
Os funcionários e os colaboradores terceirizados contratados na esteira do boom do crédito estão no centro desse processo. Empresas, sindicatos e
entidades de classe têm dificuldade para quantificar trabalhadores como Wesclei, já que eles
não são bancários nem comerciários e iniciaram uma atividade relativamente nova. Até
quem sobreviveu aos cortes
ainda não consegue respirar
aliviado. "Minha loja não tem
como ficar com menos gente.
Éramos quatro promotores e
só ficaram dois", diz Marcos
Antônio da Silva, 22, que há
três anos é "pastinha".
Segundo Renato Oliva, presidente da ABBC (associação dos
bancos pequenos), os correspondentes -nome técnico dos
"pastinhas"- são uma alternativa acertada para popularizar
o crédito em um país com as dimensões do Brasil. "As reduções que estão ocorrendo são
localizadas e servem para o setor se ajustar à nova demanda.
Neste momento, é natural que
haja retração no crédito."
Segundo a ABBC, os correspondentes bancários (que incluem lotéricas, padarias e supermercados) somam 100 mil
no país -em 2003, eram 83,4
mil. Estima-se que eles tenham
sido responsáveis por cerca de
9 milhões de operações de crédito neste ano. Em 2003, eles
responderam por 1,210 milhão.
"O que está encolhendo mais
neste momento é a atividade do
promotor independente."
De acordo com Oliva, já está
em discussão a criação de um
sindicato específico para as
empresas que contratam os
promotores, assim como um
para representar os trabalhadores. A ABBC estuda um modelo de certificação das empresas para garantir treinamento
dos profissionais.
Enquanto isso, Wesclei, que
já começou a procurar emprego, enfrenta o dilema de como
contar à mulher que foi demitido. "Não é fácil chegar ao final
do ano, na véspera do Natal, e
dizer que fui demitido", afirma.
"Chego em casa todos os dias e
conto a história da demissão de
um amigo. Com isso, ela já sabe
que estou na área de risco."
(SD)
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