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EUA e Brasil trocam farpas sobre atraso no comércio
Países se acusam sobre responsabilidade pela paralisação da Rodada Doha
Desentendimento acentua
clima de divergência entre
EUA e Brasil, após embates sobre as eleições em
Honduras e relação com Irã
LUCIANA COELHO
DE GENEBRA
Brasil e EUA subiram o tom
das acusações sobre responsabilidades por paralisar as negociações comerciais globais e
travaram no plenário da reunião ministerial da Organização Mundial do Comércio em
Genebra novo round do embate que cada vez mais os contrapõem na arena internacional.
Nos discursos na sessão de
abertura do evento, ontem, o
secretário americano para Comércio Exterior, Ron Kirk, atacou. O chanceler brasileiro,
Celso Amorim, rebateu. Tudo
menos de 24 horas após, em
uma visita informal do primeiro ao segundo, terem falado de
futebol e trocado promessas de
fechar um acordo de cooperação econômica em 2010.
"Segundo o FMI, 58% do
crescimento econômico global
de agora a 2014 será promovido
pela China, pela Índia, pelo
Brasil, pela Argentina, pela
África do Sul e pelos países da
Asean [associação dos países do
Sudeste Asiático]", jogou a bola
Kirk, após dizer que seu país estava "comprometido" em concluir a Rodada Doha de liberalização do comércio global em
2010.
"A criação de fluxos comerciais e a abertura significativa
dos mercados é necessária para
preencher a promessa de desenvolvimento de Doha. Sucesso não é uma coisa que os líderes dos grupos de negociação
ou nosso querido diretor-geral
[Pascal Lamy] possam nos entregar", afinou a pontaria.
Minutos depois, Amorim
chutaria de volta: "Não é racional esperar que concluir Doha
envolva mais concessões unilaterais dos países em desenvolvimento. Estamos no meio de
uma crise, de uma crise de paralisia". A frase foi acrescentada à mão pelo chanceler em seu
discurso preparado, no qual
criticou os subsídios, só para
responder ao colega.
A fala de Kirk, por sua vez,
também soa como revide ao comunicado do chamado G20
agrícola na véspera. Capitaneado pelo Brasil, o texto dos países em desenvolvimento pede
um debate no início de 2010 para verificar os obstáculos a Doha. O nome dos EUA nunca é citado em plenário, mas é o principal a ecoar nos corredores
quando se fala em atrasos no
processo.
Campos opostos
Na mesa de negociações, o
embate não é novo -surgiu
com a divisão entre emergentes
e países desenvolvidos, os primeiros querendo o fim dos subsídios, e os segundos, pedindo
maior acesso aos mercados.
Mas cada vez mais os dois
países assumem o protagonismo dos respectivos lados, ao
mesmo passo em que na política externa o governos Luiz Inácio Lula da Silva e Barack Obama se põem com mais frequência em quadras opostas.
Afora os comentários de dissabor que pontuam o discurso
brasileiro, cortadas já foram
trocadas em pelo menos três
temas-chave no último mês:
Sobre a crise em Honduras (o
Brasil critica os EUA por reconhecerem as eleições promovidas no domingo passado pelo
governo golpista); na relação
com o Irã (a visita do presidente Mahmoud Ahmadinejad a
Brasília dias antes de seu governo anunciar a construção de
novas usinas em um programa
nuclear que Washington acusa
de ser bélico); e mesmo na frente climática, na qual o brasileiro
pede ao americano que assuma
mais responsabilidade no corte
dos gases estufa.
Em duas semanas, Lula e
Obama estarão em Copenhague para a conferência do clima. É a ocasião para observar
eventuais impactos à dinâmica
pessoal entre os dois líderes.
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