São Paulo, quinta-feira, 02 de janeiro de 2003

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NOVO GOVERNO

Ministro se cerca de militantes petistas, liberais e técnicos remanescentes do governo Fernando Henrique

Palocci forma time "eclético" no 2º escalão

Joel Silva/Folha Imagem
O ministro da Fazenda, Antonio Palocci Filho (esq.), ao receber o secretário de Comércio dos Estados Unidos, Robert Zoellick, ontem


GUSTAVO PATÚ
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Depois de quase dez anos de hegemonia do pensamento liberal formado na PUC-RJ, o ministro Antonio Palocci Filho (Fazenda) comandará uma equipe econômica eclética, combinando petistas, liberais e técnicos remanescentes do governo Fernando Henrique Cardoso.
Palocci, que ontem anunciou praticamente todo o seu segundo escalão, disse ter procurado unir coesão e diversidade. "Buscamos pessoas de várias escolas do pensamento econômico", segundo o médico sanitarista e ex-trotskista que se tornou o petista preferido dos mercados.
A cúpula do ministério terá mais dois nomes do partido: o secretário-executivo, uma espécie de vice-ministro, será Bernard Appy, oriundo da USP (Universidade de São Paulo), que deixou recentemente a LCA Consultores para ingressar na equipe de transição. Seu adjunto, Arno Augustin, é economista formado pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul, ex-secretário da Fazenda do governo gaúcho e ligado à Democracia Socialista, da esquerda do PT.
Nomes de perfil liberal ocuparão setores estratégicos, a começar por Marcos Lisboa, da Fundação Getúlio Vargas, que assumirá a Secretaria de Política Econômica com a missão de ser o principal cérebro do grupo. "É um dos grandes formuladores econômicos do Brasil hoje", nas palavras de Palocci.
No Tesouro, foi confirmado o engenheiro e economista Joaquim Levy, Ph.D. pela ultra-ortodoxa Universidade de Chicago, ex-funcionário do FMI (Fundo Monetário Internacional), ex-secretário-adjunto de Política Econômica e ex-chefe da assessoria econômica do Ministério do Planejamento no governo FHC.
Completam a "ala direita" da equipe o futuro presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, ex-presidente mundial do BankBoston e deputado federal eleito pelo PSDB, e os sete diretores do BC indicados por Armínio Fraga e mantidos em seus cargos por tempo indeterminado.

Continuidade na Receita
Para outra área tida como prioritária no início do governo Luiz Inácio Lula da Silva, a Receita Federal, a escolha também seguiu a lógica da continuidade. Jorge Antonio Rachid era um dos adjuntos de Everardo Maciel e herdará do ex-chefe a tarefa de segurar um ajuste fiscal que ainda depende basicamente do aumento da arrecadação de impostos.
Everardo, admirado por Palocci, acabou descartado por ter se oposto à reforma tributária negociada em 1999 pelo Congresso, que o PT pretende ressuscitar.
Otaviano Canuto, economista da Unicamp especializado em estudos sobre o mercado global e integrante da Comissão de Economia da Febraban (Federação Brasileira das Associações de Bancos), será o secretário de Assuntos Internacionais.
O ministro Palocci também quer levar ao governo Nelson Rocha Augusto, do Banco Ribeirão Preto, que foi seu auxiliar na prefeitura da cidade.
Foi criada ainda uma Assessoria de Assuntos Estratégicos, encarregada de estudar projetos de desenvolvimento e inovações tecnológicas. Para o cargo irá o jornalista Edmundo Machado de Oliveira, que deixa o cargo de editor de Economia do jornal "O Estado de S. Paulo".

Bancos federais
Palocci, que provavelmente será o ministro com maior autonomia para a composição de sua equipe, ainda não tem definidos os comandos do Banco do Brasil e da Caixa Econômica Federal, alvos de disputa política.
Ele negou que haja "tensão" em torno dos nomes para os principais bancos federais. "Ninguém está escolhido nem, muito menos, desqualificado", disse, em referência às informações de que resiste a indicações políticas para os cargos.
Segundo o ministro, o comando do BB estará definido até o dia 8, quando a instituição realiza assembléia.


Colaborou EVANDRO SPINELLI, enviado especial a Brasília


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