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LUÍS NASSIF
Uma geração castrada
Em 1999, em um encontro
do "World Economic Forum", em Santiago do Chile, o
economista brasileiro Winston
Fristch declarou, em alto e bom
som, que uma desvalorização
cambial não implicaria volta
da inflação. Nada surpreendente se, de 1994 a 1998, ele não
tivesse sido um dos ativos
membros do coro "se desvalorizar explode tudo". O que ocorreu entre um momento e outro? Antes, Fristch sustentava
que a desvalorização cambial
trazia inflação com base na experiência isolada de um país
asiático submetido à fuga de
capitais. Depois, garantia que
não havia risco de inflação por
conta da experiência brasileira.
Lendo-se o trabalho de Gustavo Franco e de Demosthenes
Madureira de Pinho acerca
das discussões internacionais
sobre liberalização cambial,
percebem-se claramente os vícios do pensamento acadêmico
e a mediocrização da análise
econômica em nível mundial
para avaliar economias emergentes, como a brasileira.
As ciências econômicas sempre padeceram de um complexo de inferioridade patente em
relação às ciências exatas pela
dificuldade de definir regras
universais. Até algum tempo
atrás, havia poucos modelos de
economia a serem analisados.
Com a explosão da economia
mundial nos últimos 50 anos,
com mais e mais países se industrializando, dando certo ou
quebrando a cara, a amostragem aumentou substancialmente. O pensamento econômico acadêmico passou, então,
a se valer da análise comparativa, do uso indiscriminado da
estatística, ou usando o padrão
Fristch -tomar a última experiência como a definitiva, para
criar uma ciência "exata".
Em um trabalho de 1997, o
economista Dionísio Carneiro
avaliava que "a rapidez dos
cálculos, permitida pelo aumento da velocidade de processamento dos computadores,
piorou a comunicação de
idéias simples em vez de melhorá-la, pois permitiu a um
número crescente de colegas
derivar rapidamente implicações empíricas de modelos que
jamais entenderam, estimados
por métodos que jamais entenderão, usando bases de dados
que desconhecem".
A primeira distorção desse
uso acrítico da estatística foi a
tentativa de universalizar as
experiências sem estabelecer
relações causais adequadas.
Como a tese de que, como todos os países que deram certo
liberalizaram suas contas de
capital, logo bastaria liberalizar para dar certo. O trabalho
de Franco e de Madureira de
Pinho relata que levou anos
para que se constatasse que os
países que liberalizaram suas
contas de capital foram os que
deram certo antes.
A segunda distorção foi a incrível incapacidade de prevenir
desastres óbvios do modelo,
por não conseguir avançar
além do inventário a posteriori. O establishment acadêmico
mundial mudou a maneira de
pensar, brilhantes pensadores,
com acesso às últimas análises
acadêmicas, só a partir de 1998
começaram a identificar problemas que, em 1994 e em 1995,
no início do processo, já eram
apontados no Brasil por analistas independentes, através
da mera observação da realidade.
O que de mais nefasto esse
pensamento produziu foi ter
castrado a capacidade analítica de toda uma geração de economistas e igualado economistas brilhantes a meros marqueteiros.
E-mail -
Luisnassif@uol.com.br
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